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Nº 1842 - Ano 40
28.10.2013

opiniao

Abordagem territorial do turismo: novo olhar para o planejamento

Allaoua Saadi*, Márcia Lousada** e
Mariana de Oliveira Lacerda***

O Curso de Turismo da UFMG foi criado em 2002 e completa 11 anos de trajetória em 2013. Ao longo da existência da graduação, professores e estudantes têm empreendido expressivos esforços para pensar o turismo sob a ­perspectiva territorial, o que significa considerar, para o planejamento e gestão pública, a diversidade de interesses e de conflitos, assim como os impactos que esta economia gera para os distintos grupos sociais. Não é tarefa fácil dar conta de tal enfoque, uma vez que este exercício pressupõe refletir sobre a ética no planejamento, as interações entre cultura, meio ambiente e sociedade, o que conduz a reflexão para além de sua convencional perspectiva setorial, reduzida ao conjunto de atividades como hotelaria, restaurantes, meios de transporte, eventos e agências de viagem.

Habitualmente, na mídia e nos documentos técnicos norteadores da política pública, o turismo é tratado de forma verticalizada, reproduzindo um modelo global e indiferenciado centrado no binômio “emprego e renda”. O trato setorial do turismo remete a uma forma convencional de planejamento distante muitas vezes das questões sociais, ambientais e culturais, e acaba por não contribuir para o desenvolvimento da sociedade. A maior parte das prefeituras e estados no Brasil considera, quase exclusivamente, a sua dimensão mercadológica – ou seja, os gestores públicos utilizam, em suma, estudos de oferta e demanda turística para conceber as diretrizes para o crescimento desta nova economia. Esta perspectiva mercadófila de abordagem do turismo tem contribuído para que a atividade seja rotulada como pivô de processos sociais, culturais e ambientais degradantes, muitas vezes distante das reais necessidades da sociedade local. Vale lembrar que as interações promovidas pelas viagens geram efeitos, tanto positivos como negativos, de alcance muito mais complexo que os costumeiramente explicitados.

O planejamento do turismo requer abordagem transversal às diversas políticas públicas – desenvolvimento econômico, cultura, educação, planejamento urbano, mobilidade, meio ambiente

Na nossa perspectiva de trabalho, o planejamento do turismo requer abordagem transversal às diversas políticas públicas – desenvolvimento econômico, cultura, educação, planejamento urbano, mobilidade, meio ambiente, entre outras – para que o mesmo possa cumprir, com plenitude, sua função de promoção do desenvolvimento endógeno.

O Curso de Turismo da UFMG foi criado no âmbito do Instituto de Geociências (IGC) buscando contribuir para que novas abordagens e reflexões possam ser construídas no tocante ao planejamento e gestão pública do setor. Neste sentido, a abordagem territorial tornou-se uma identidade do nosso curso e os frutos desta aposta teórico-metodológica já estão sendo colhidos. Apesar de contar com corpo docente reduzido, sete professores, o curso da UFMG tem contribuído para o desenvolvimento de estudos e pesquisas inovadoras no que se refere à gestão e ao planejamento do turismo. Proporcionar a formação de turismólogos que pensem sob este prisma tem sido um constante desafio, mas também uma contribuição importante para a transformação das políticas públicas e geração de novas iniciativas no âmbito do turismo mineiro.

Felizmente, novas formas de pensar e promover a atividade turística estão em gestação. Expressões como “turismo de base comunitária” e “turismo solidário” já se tornaram realidade nos jornais e revistas do país. Fatos como este demonstram que estamos em busca de outras formas de organização. O crescimento desordenado das atividades ligadas ao turismo no litoral brasileiro expôs os perversos efeitos que ele pode gerar sobre os territórios. Esperamos que no cenário de interiorização do turismo no país, a abordagem territorial possa acenar para estratégias de planejamento e gestão pública que contribuam, de fato, para a promoção da inclusão social para o desenvolvimento econômico.

*Geógrafo, professor do Departamento de Geografia da UFMG
**Bacharel em Turismo, professora do Departamento de Geografia/Curso de Turismo da UFMG
***Bacharel em Turismo, professora do Departamento de Geografia/Curso de Turismo da UFMG. Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFMG