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Nº 1842 - Ano 40
28.10.2013

Manejo modelo

Grupo recém-criado na Escola de Veterinária inicia estudos que vão gerar protocolos para a criação de animais silvestres

Amanda Aleixo*

Dezesseis emas, oito cutias e dez queixadas chegaram recentemente à Fazenda Modelo de Pedro Leopoldo, laboratório da Escola de Veterinária da UFMG, para início de projeto do Grupo de Produção em Silvestres (GPS), criado este ano. Alunos e docentes, sob a coordenação do professor Leonardo Bôscoli Lara, realizam pesquisas e atividades que visam ajudar os produtores com a criação de animais silvestres.

“Nossa intenção é fazer um criatório onde teremos oportunidade de enfrentar os mesmos problemas do produtor. Mais à frente pretendemos criar protocolos de manejo sanitário e de reprodução. Com essa vivência, saberemos como criar e passar aos investidores conhecimentos para trabalhar com o mínimo de perdas”, explica Leonardo Lara, que é professor de produção e nutrição de animais carnívoros e silvestres.

O trabalho do GPS vai procurar descobrir, por exemplo, por que morrem tantos filhotes de emas, e alternativas de alimentos de qualidade e com preços viáveis para os filhotes de queixadas. No caso das cutias, o maior problema que os criadores enfrentam é o baixo índice de indivíduos desmamados – além de nascerem poucos, alguns ainda são mortos pela própria mãe ou por outros membros do grupo.

As pesquisas em nutrição e produção já estão em andamento com os animais que estão na fazenda, adquiridos por meio de doações e compras de criatórios legalizados. No Hospital Veterinário será realizado o atendimento de animais silvestres do público externo.

Problemas e soluções

A criação de silvestres tem despertado a atenção da comunidade acadêmica. Alguns alunos de medicina veterinária experimentaram o manejo desses animais no período de vivência curricular, que foi realizada durante o último mês de julho. No próximo ano, estudos sobre nutrição vão demandar a permanência de alunos por mais tempo (pelo menos cinco dias consecutivos por etapa de estudo) em Pedro Leopoldo. Quando os primeiros alunos de mestrado e doutorado se envolverem com as pesquisas do grupo, em 2015, os períodos de trabalho in loco serão mais longos, e os estudantes vão utilizar dormitório que está em construção na fazenda modelo.

Leonardo Lara comenta que outros departamentos da Escola de Veterinária têm se interessado pelo trabalho. “Alguns professores pretendem realizar pesquisas sobre valor hematológico, bioquímica sanguínea e determinação de aspectos de movimento respiratório, frequência cardíaca e temperatura corporal de novas espécies, entre outras”, explica. Ao longo do tempo, outros itens entrarão na pauta do grupo, visando, por exemplo, indicar as melhores formas de abate desse tipo de animal e os melhores cortes de carne.

Para discutir esses assuntos, o Grupo de Produção em Silvestres (GPS) propõe reuniões temáticas, em que os próprios alunos expõem problemas e criam soluções, ajudando a moldar o Projeto de Animais Silvestres. “Os próprios estudantes formulam as hipóteses e experimentam diretamente com os animais”, esclarece o coordenador.

Com o intuito de ampliar e aperfeiçoar a carga teórica, uma nova disciplina optativa sobre animais silvestres, com 30 vagas, será ofertada no próximo semestre. Cento e cinquenta alunos já mostraram interesse. Outra disciplina que envolve animais silvestres, a de Peixes Ornamentais, já está sendo ofertada no curso de Aquacultura.

Leonardo Lara garante que esse interesse trará retorno concreto para os alunos. “Muitos deles querem participar do esforço pela conservação das espécies, o que antes era preocupação apenas de biólogos. Trabalhar com animais silvestres significa abrir uma porta importante para o mercado de trabalho, já que existe escassez de médicos veterinários na área”, afirma.

Mais animais

Com planos devidamente traçados, o projeto busca parceria com outras instituições e criatórios, o que tornará possível estudar o comportamento de outros animais a partir de observação em campo. Novas aves e mamíferos serão recebidos em breve na fazenda de Pedro Leopoldo. Perdizes, jacus, inhambus, pacas, jacarés, teius e capivaras são os próximos animais a serem manejados pelo Grupo de Produção em Silvestres. A possibilidade de aumentar a diversidade das espécies estudadas está relacionada a parcerias com o Instituto Técnico de Bambuí, Centros de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) e criadouros legalizados.

Essas instituições doam os animais e colaboram na produção das próximas pesquisas. “Temos várias frentes potenciais para montagem de parcerias em busca desses novos animais”, pontua Leonardo.

O grupo, que pretende ser referência mundial no desenvolvimento de pacotes tecnológicos para a produção de animais silvestres e exóticos para fins comerciais, tem foco no estímulo ao trabalho em equipe e na formação de profissionais de excelência. Um dos objetivos centrais é contribuir para a conservação das espécies por meio da produção de artigos científicos e protocolos de manejo, baseados em conceitos fundamentais como o de sustentabilidade.

* Bolsista da Assessoria de Comunicação da Escola de Veterinária da UFMG