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Nº 1842 - Ano 40
28.10.2013

Transparência feita de números

Ao completar 65 anos, Fundação Ipead celebra respeito conquistado para seus índices, que pautam decisões de empresários e consumidores

Ana Rita Araújo

Na pequena cidade mineira de Bom Jesus do Amparo, com menos de 6 mil habitantes, a funcionária Maria Alice, responsável pelo setor de compras da prefeitura, tem acesso ao Portal Banco de Preços de Mercado, mesmo serviço utilizado por municípios de grande porte, como Belo Horizonte. “Tem sido muito útil, pois as empresas geralmente não têm interesse em fornecer orçamentos para prefeituras pequenas, por causa da quantidade. Nessa plataforma, tudo está ao alcance da mão, de imediato, sem precisarmos esperar retorno dos fornecedores”, relata.

Produzido pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead), o Portal Banco de Preços de Mercado “dá mais transparência e agilidade às licitações públicas, além de favorecer os pequenos municípios”, afirma o prefeito de São Domingos do Prata, Fernando Rolla, que preside a Associação dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Piracicaba (Amepi). O convênio com o Ipead prevê a oferta, para a Associação, de estatísticas permanentemente atualizadas de preços praticados no mercado, relativas a 2.800 itens.

Lançado há dois anos, o Portal tornou-se o carro-chefe do trabalho sob demanda realizado pela Fundação, detentora de credibilidade nacional por desenvolver pesquisas aplicadas nas quais utiliza metodologias que atendem a rigorosos padrões científicos. Praticamente desde sua criação, em 1948, o Ipead calcula e divulga gratuitamente indicadores da economia da capital ­mineira. Há décadas, portanto, empresários e consumidores de Belo Horizonte pautam suas decisões e estratégias de negócios em pesquisas do Instituto, como Índice de Preços ao Consumidor (IPC), Índice de Confiança do Consumidor e outras sobre o custo da cesta básica, taxas de juros praticados nos diversos setores do comércio varejista, dados sobre o comportamento do mercado imobiliário.

A Fundação também investe em ­tecnologia, e desenvolve todos os softwares utilizados por sua equipe de pesquisadores. “Trata-se de decisão estratégica, que confere autonomia e isenção aos serviços prestados à sociedade”, pondera o economista Renato Mogiz Silva, coordenador de Projetos da Fundação Ipead. Ele destaca que as ferramentas criadas e adotadas para produção, tratamento e organização da informação têm ênfase na gestão – econômica, administrativa, contábil e demográfica – para uso social.

O grande respeito que a Fundação tem merecido da população mineira, fruto da ampla divulgação dos resultados das pesquisas, “em muito reforça sua imagem junto à opinião pública e contribui para a percepção da importância da UFMG, à qual o Ipead está umbilicalmente ligado”, destaca o diretor executivo da Fundação, professor José Alberto Magno de Carvalho.

Dois braços

Criada por iniciativa de professores da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), com apoio de instituições dos segmentos comercial, financeiro e industrial do estado, a Fundação Ipead tem duas linhas distintas de atuação que surgiram e caminham juntas ao longo dos anos. De um lado, é uma fundação de apoio à pesquisa, ao ensino e à extensão, no âmbito da UFMG e em especial da Face. Seu vínculo com a Universidade está claramente exposto no estatuto, que nomeia o diretor da Face como dirigente máximo (presidente) do Ipead.

Ao fazer a gestão financeira, contábil, jurídica e de recursos humanos em projetos desenvolvidos por integrantes da comunidade universitária, o Ipead “desonera o professor e sua equipe das questões burocráticas que envolvem contratos dessa natureza, ficando para o grupo de pesquisa as atividades em que têm excelência”, destaca Renato Mogiz. Ao mesmo tempo, atua com vistas a aspectos como eficiência, agilidade e segurança, já que tais contratos têm regras legais que devem ser seguidas. “A Fundação é intermediária entre pesquisadores, alunos, órgãos públicos, agências de fomento e empresas”, resume Mogiz.

A outra linha de atuação – desenvolvimento de pesquisas de mercado, cujos resultados são disponibilizados para a sociedade – é tão antiga quanto o Ipead, informa o professor José Alberto Magno de Carvalho. Tal característica, segundo ele, é fruto do pensamento avançado de um dos seus criadores, o professor Ivon Leite Magalhães Pinto. “O que diferenciou a Face de suas coirmãs foi essa concepção que ele tinha, de que era fundamental para a Faculdade fazer pesquisa, manter alunos em tempo integral e prestar serviços à sociedade.”

Sem qualquer tipo de financiamento direto, público ou privado, para custear os produtos oferecidos sem custo, o Ipead subsidia tal atividade ao prestar serviços técnicos especializados na elaboração de metodologias, pesquisas quali-quantitativas, consultorias e treinamentos nas áreas em que a Face tem excelência, ou seja, das ciências econômicas, administrativas, contábeis e demográficas. “São trabalhos específicos, construídos para demandas determinadas”, explica Renato Mogiz. Ele destaca que “em decorrência do reconhecimento pelo trabalho que realiza”, o Ipead vem sendo convidado a atuar em cooperação com entidades públicas, nos âmbitos federal, estadual e municipal, e com empresas de capital misto, no desenvolvimento de pesquisas aplicadas. Mogiz cita como exemplo a avaliação, em âmbito nacional, do nível de satisfação do beneficiário de planos de saúde, encomendada pela Agência Nacional de Saúde (ANS) para subsidiar seu planejamento de ações e políticas regulatórias.

Banco de preços

Prestes a lançar sua terceira versão, o Portal Banco de Preços de Mercado é uma ferramenta de gestão que vem sendo adotada pelos setores privado e público, com destaque para este último, e entre empresas de capital misto. “Quando bem utilizado, esse banco de dados promove agilidade e transparência nos processos de compra, planejamento e gestão, além de legalidade e mais economia de recursos”, diz o coordenador de Projetos da Fundação. Parte do Portal está aberta a toda a sociedade de forma gratuita. Outra interface, com mais módulos e propriedades, é acessada mediante estabelecimento de contrato entre o Ipead e os clientes, que podem ser empresas de pequeno ou de grande porte, municípios ou associações de municípios, como a Amepi.

“Nas compras públicas, o Portal tem promovido muita transparência para os processos, já que as comissões de licitação passam a trabalhar com estatísticas de preços de mercado reais e atuais, oriundas de uma instituição especializada e imparcial”, comenta Renato Mogiz, lembrando que ao obter maior poder de negociar com fornecedores, as instituições alcançam mais economia. “Para quem quer gastar menos, o Portal é uma ferramenta importantíssima, que também leva à inibição da corrupção. Afinal, com todos os preços publicizados, fica mais fácil ser virtuoso”, observa José Alberto Magno de Carvalho.

O formato eletrônico, acessível simultaneamente por vários gestores da mesma instituição ou empresa, também agiliza o trabalho, acrescenta Mogiz. A secretária de Administração da prefeitura de Nova Era, Eliana Viana, conta que preparou um edital de licitação de equipamentos de proteção individual em menos de meia hora. “Sem o Banco, demoraria cerca de 30 dias para cotar os preços. Além disso, é tudo padronizado e totalmente confiável”, compara. A expectativa, de acordo com José Alberto Magno de Carvalho, é atender, com milhares de preços levantados continuamente, a maioria dos municípios de Minas, sobretudo por meio de suas associações.

Sarah Dutra
Renato Mogiz: ênfase na gestão para uso social
Renato Mogiz: ênfase na gestão para uso social

Já as séries históricas das estatísticas de preços apresentadas no Portal, com dados coletados antes dos últimos 12 meses, podem ser acessados mediante simples credenciamento junto à Fundação. Tribunais, como os de Justiça e de Contas, buscam nesse banco informações para fazer cotejo com contas passadas, em casos específicos que estejam analisando, informa o diretor executivo adjunto Antônio Carlos Ferreira Carvalho. A série histórica também gera inúmeros trabalhos acadêmicos, como teses e dissertações. “Trata-se de mais um serviço prestado pela Universidade”, avalia o professor Antônio Carlos que, assim como José Alberto Magno, já foi diretor da Face e, portanto, presidente da Fundação. Antônio Carlos lembra que todos os levantamentos realizados pelo Ipead têm absoluta isenção. “Nossos pesquisadores vão às ruas, coletam e processam essas informações com equipamentos e programas próprios, sem qualquer tipo de interferência dos fornecedores ou prestadores dos serviços cujos preços são cotados”, reitera.