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Nº 1844 - Ano 40
11.11.2013

opiniao

Patrimônio brasileiro edificado e suas rochas

Antonio Gilberto Costa*

A despeito da importância para o Brasil, seja do seu patrimônio cultural edificado, ou dos seus materiais pétreos, cujo comércio movimenta bilhões de dólares e que aplicados em projetos arquitetônicos contemporâneos contribuem para o desenvolvimento da sua indústria da construção civil, é ainda inexpressivo o conhecimento que se tem sobre a presença desses materiais e a sua conservação nas construções mais antigas e históricas do Brasil.

Por conta disso, e levando-se em conta a necessidade de maior estreitamento de relações entre profissionais que atuam no tratamento de questões relacionadas com esse patrimônio, aqui identificado como aquele que envolve a presença de materiais pétreos em suas obras, foi realizado o Io Workshop brasileiro sobre patrimônio geológico construído: ações em debate. O evento aconteceu em Ouro Preto, em setembro último, e congregou acadêmicos e profissionais de áreas afins, de diferentes estados brasileiros, bem como de outros países.

Durante o evento foram apresentadas realidades e avaliações desse patrimônio, com ênfase para aquele localizado nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Também foram levantadas possíveis abordagens do tema sob a ótica da geologia, da arquitetura e da conservação em uma sessão denominada Patrimônio geológico construído e áreas afins e foram abordadas questões envolvendo políticas relativas à conservação desse patrimônio; maior envolvimento de especialistas da Geologia nos processos de conservação preventiva, manutenção e recomposição de elementos arquitetônicos decorativos ou estruturais componentes desse patrimônio; necessidade de envolvimento, além dos geólogos, de outros especialistas, tais como historiadores, engenheiros, químicos, biólogos, que em conjunto com arquitetos, geólogos, conservadores, antropólogos, geógrafos, arqueólogos e técnicos do Iphan, devem tratar dos bens desse patrimônio de forma interdisciplinar.

Ainda como resultado desse fórum de discussões, foi aprovada a criação de repositório de informações sobre o Patrimônio Geológico Construído no Brasil, buscando reunir informações técnicas e científicas, incluindo sítios históricos e pré-coloniais e exemplares da arquitetura moderna, aberto à consulta por pesquisadores, técnicos, administradores de patrimônio e pela sociedade em geral. A ideia é que esse patrimônio seja constituído por cinco bases documentais e iconográficas, podendo ser disponibilizado na Internet na forma de portal ligado, por sugestão dos especialistas presentes, ao Iphan, mais precisamente ao Centro Lucio Costa, Centro Regional de Treinamento em Gestão do Patrimônio, criado por meio de acordo entre o Governo do Brasil e a Unesco.

As bases aprovadas foram banco de teses e dissertações, constituído por uma coleção de trabalhos defendidos na área em programas de pós-graduação no Brasil e no exterior, envolvendo resumos, textos completos ou links; base bibliográfica constituída por artigos, ensaios e folhetos relacionados com o tema, publicados em periódicos nacionais ou no exterior ou em publicações avulsas; base de dados com informações sobre as diferentes competências de interesse, institucionais ou pessoais, envolvendo os meios técnico, científico e cultural; base de dados com informações sobre procedimentos laboratoriais ou de campo, padronizados ou propostos, envolvendo a caracterização tecnológica de materiais pétreos com especificações e fornecedores de equipamentos utilizados nessa caracterização; e catálogo com características petrográficas e geomecânicas das rochas utilizadas nessas edificações históricas, com informações sobre proveniências e possibilidades de jazidas.

Também foi feita uma reflexão sobre a pertinência da formação de uma rede voltada para o atendimento de questões do patrimônio cultural edificado, tendo por referências a política de conservação preventiva e o Iphan como instituição parceira, considerando a sua função de proteger o patrimônio histórico e artístico nacional, e a representatividade que encerra como instituição governamental. Embora o âmbito, os instrumentos de gestão e as regras tenham sido deixadas propositadamente indefinidas para não prejudicar uma primeira reflexão conjunta, considerada imprescindível no início dos trabalhos dessa rede, sugeriu-se que a mesma contemple um arranjo interdisciplinar diversificado e que seja formada por profissionais, com prioridade para aqueles pertencentes a universidades e centros de pesquisa, mas que fazem do patrimônio tema preferencial de suas pesquisas. É consenso que o estabelecimento de termos de cooperação técnica, envolvendo em especial as universidades, poderá fomentar pesquisas na área e contribuir para a formação criteriosa dos profissionais envolvidos com esse patrimônio. Encaminhada aos responsáveis pela preservação desse patrimônio, a continuidade do processo, cujas reflexões podem enriquecer as práticas envolvendo a conservação e preservação, agora só depende do aceite a essa proposta de parceria.

*Professor do Departamento de Geologia do Instituto de Geociências (IGC) e coordenador do 1º Workshop brasileiro sobre patrimônio geológico construído: ações em debate