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Nº 1846 - Ano 40
25.11.2013

A multivalência do espaço

Em livro, professor da Fale trabalha tal categoria literária nas frentes teórica, crítica e ficcional

Ewerton Martins Ribeiro

A expressão “espaço literário” fala de quê? Simplesmente da literatura em si mesma? Ou designa o espaço que se observa “na” literatura? Ainda: indicaria, na verdade, um tipo de espaço que, apesar de não ser em si literatura, possui características literárias e revela-se propício para que nele a literatura se exponha?

Essas provocações são feitas pelo professor Luis Alberto Brandão em seu novo livro, para que em seguida ele mesmo as refute, ensejando a reflexão sobre a categoria espaço: “Em nenhuma das três alternativas acima é exato o sentido do termo ‘espaço’”. Caberia então perguntar: como as literaturas moderna e contemporânea lidam com o elemento espacial? Em que medida são “cartográficas”? É o que ele busca responder nas 298 páginas de Teorias do espaço literário, livro que será lançado no próximo sábado, dia 30, na livraria Mineiriana (Rua Paraíba, 1419, Savassi), a partir das 13h.

O tema é trabalhado em três frentes de investigação: teórica, crítica e ficcional. “É fundamental não dissociar a indagação conceitual (que está na base da teoria) do exercício de leitura interpretativa (que é a tarefa da crítica) e da criação textual, que se dá a partir da liberdade especulativa e sensível. No livro, realizo essas três operações tendo como eixo a categoria espaço”, explica. “Na frente teórica, por exemplo, parto de uma questão elementar: o que é espaço? Em seguida, situo tal questão no campo dos estudos literários modernos e em outras áreas de conhecimento nas quais a categoria desempenha papel relevante.” Essa reflexão está na primeira parte do livro, sob o título Espaço: questões conceituais.

Na segunda parte, denominada Leituras do espaço, se dá a frente crítica da investigação, que ocorre por meio de análises de algumas obras literárias e autores – ou de sua recepção. “O objetivo é averiguar, nas obras, a função desempenhada pelo elemento espacial ou o tratamento a ele dispensado.” Nesta parte Brandão estuda Clarice Lispector, Elizabeth Bishop, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Jorge Luis Borges, Machado de Assis e Rafael Courtoisie. Por fim, na terceira parte, Espaços do corpo, o pesquisador apresenta espécie de mescla dos predicados que definem as duas partes anteriores.

Excursos ficcionais

Além de professor da Faculdade de Letras da UFMG e pesquisador do CNPq, Luis Alberto Brandão é escritor de ficção premiado. Publicou, entre outros, Chuva de letras (Scipione, 2008; finalista do Prêmio Jabuti e vencedor do Prêmio Nacional de Literatura João-de-Barro) e Manhã do Brasil (Scipione, 2010; finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Portugal Telecom de Literatura). Quem percorrer o mapa da Teoria do Espaço Literário terá a oportunidade de conhecer a ficção do escritor: são os “excursos ficcionais”, termo com que o autor designa os exercícios de produção literária que faz ao final de cada parte da obra.

São experiências que exercitam não apenas a escrita sobre literatura, mas a potência literária da escrita. “No livro, é muito importante essa atividade de inventar mapas, de lidar com o espaço com a intenção de gerar efeitos literários poéticos e narrativos. Chamo tais exercícios de ‘excursos’ porque desempenham função ambígua e perturbadora: estão à margem do curso principal e, ao mesmo tempo, são parte essencial dele.”

Livro: Teorias do espaço literário
Autor: Luis Alberto Brandão
Editora Perspectiva (Coleção Estudos) / 312 páginas / R$ 55 (preço sugerido)
Apoio: Fapemig e Pós-lit