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Nº 1851 - Ano 40
10.02.2014

Sonho que se sonha junto

Em sua oitava edição, Festival de Verão conclui trilogia focada na loucura da folia

Ewerton Martins Ribeiro

Festival de Verão UFMG

A palavra “folia” vem do francês folie, que no seu sentido original sugere uma ideia de loucura. Entre os dias 28 de fevereiro e 4 de março, o 8º Festival de Verão da UFMG conclui trilogia que se interessou especialmente pelas loucuras (ou possibilidades) que o período do carnaval suscita. O tema deste ano é Um sonho (in)comum de verão.

“Pensamos no sonho noturno, no sentido das paisagens oníricas, e também no sonho diurno, que é o desejo. E o nosso desejo é de uma universidade mais inclusiva, acessível e aberta ao incomum. Cada um é incomum na sua singularidade”, explica a professora Lucia Castello Branco, da Faculdade de Letras e coordenadora do Festival pelo terceiro ano consecutivo. Com efeito, o resgate do sentido original, estrangeiro, de um vocábulo do português coincide com uma das principais tendências do Festival para os próximos anos: a sua internacionalização.

O Festival será novamente sediado pelo Centro Cultural UFMG, na Praça da Estação (Av. Santos Dumont, 174), com pequena parte de sua programação realizada no Espaço do Conhecimento UFMG, na Praça da Liberdade. A expectativa é de intensa participação do público, em consonância com o crescimento do carnaval na capital mineira: de acordo com a Belotur, cerca de um milhão de pessoas devem participar da folia em Belo Horizonte este ano — o dobro do público recebido em 2013.

“Especialmente nas duas últimas edições do Festival, aproximamos o evento da cidade e de temáticas como loucura, poesia, improviso, carnavalização, vadiagem, com forte interação das oficinas. Fomos crescendo com o próprio carnaval de Belo Horizonte e junto com movimentos que começaram a apontar para o desejo de uma diferente ocupação dos espaços públicos da cidade, como o ‘Praia da Estação’. Hoje nossa ênfase está nos incomuns e especialmente na potência do saber da loucura: folie”, diz Lucia Castello Branco.

A programação se divide em quatro eixos temáticos: Ciências da Vida e Saúde; Ciências Exatas, da Terra e Tecnologias; Humanidades, Letras e Artes; e Projetos Especiais. Ao todo, serão abertas 385 vagas: 240 distribuídas entre dez oficinas e 145 entre seis projetos especiais. A maior parte é voltada para o público amplo, que alcança pessoas de todas as idades e perfis: estudantes, professores, cientistas, artistas, carnavalescos, frequentadores do circuito da Praça da Estação. Mas haverá também atividades para públicos específicos, como músicos, surdos, crianças, adolescentes, adultos e pessoas com uma determinada escolaridade, como ensino médio. A ideia, diz Lucia, é que a exemplo do ano passado o evento transforme o Centro Cultural UFMG em uma espécie de residência cultural e artística da cidade durante o carnaval.

Ciclo que se fecha

Na edição de 2012 do Festival de Verão, a poesia, na medida em que encerra uma espécie de “loucura da linguagem”, foi mobilizada como elemento transdisciplinar capaz de ensejar um diálogo diferente com e entre as ciências. Com o tema A folia da poesia, as atividades valorizavam o inconsciente.

O bem comum já era uma meta: ao se apostar no conhecimento também como forma de “não saber”, iniciava-se uma interlocução com outros conhecimentos para além daquele produzido no ambiente universitário. A ideia, já implícita, era a de que, para ser comum, o bem precisa alcançar aqueles que, normalmente, são postos à margem, de forma integrada a quem sempre esteve no centro.

No entanto, a sexta edição do Festival ainda aconteceu na Faculdade de Ciências Econômicas, no campus Pampulha — ainda que com alguma participação de blocos de carnaval da cidade. “Logo percebemos que o campus estava muito isolado. Precisávamos nos integrar à cidade, estar no meio das pessoas que a frequentam. Por isso, na sétima edição, em 2013, mudamos o Festival para o Centro Cultural UFMG, em uma região que nos interessava particularmente atingir. Foi um grande incremento, inclusive de interação de oficinas”, destaca a coordenadora.

Na edição de 2013, o tema Vadiar é preciso, o resto é improviso apontou o foco para a valorização daquilo que a sociedade normalmente vê como sem serventia e o rejeita. Abordava também o improviso, na medida em que se constitui em poderoso instrumento para o alcance e o avanço do conhecimento, ainda que distinto daqueles oferecidos nos ambientes de rigor científico. E, por fim, centrava-se na vadiagem, considerada praticamente um método no Festival para o alcance de novas possibilidades de experiência social e vivência intelectual.

A edição deste ano fecha a trilogia com o tema Um sonho (in)comum de verão, em que se prioriza o sonho da inclusão, da comunhão, a proposta de reunir todos os “(in)comuns”. De certa forma, tal trilogia pode ser resumida em uma palavra: união. União entre os sujeitos inseridos na sociedade, de modo que aspectos como deficiência, loucura, idade, condição social sejam postos em segundo plano em prol da vivência em comunidade. E união entre o conhecimento acadêmico e os demais conhecimentos possíveis, como o lúdico, no sentido da poesia; o prático, aqui entendido como “tradicional”, produzido fora da Universidade; e o onírico, que traz a ideia daquilo que não se permite apreender pelo pensamento consciente.

Internacional e acessível

No ano passado, o Festival contou com a participação da atriz portuguesa Mafalda Saloio, que ministrou a oficina de Ginástica do ator e apresentou o espetáculo Senhorita dos aires. “Este ano, investimos ainda mais fortemente em nomes estrangeiros”, lembra Lúcia. A oficina Os sonhos de que temos a linguagem, por exemplo, será ministrada por Paul Avilés, dos Estados Unidos, em parceria com Fernanda Mourão, da UFMG. A oficina propõe a seleção e tradução de poemas das escritoras norte-americanas Emily Dickinson e Elizabeth Bishop que têm como temática o sonho e o incomum. Já Contributos da improvisação musical para o bem-estar, ministrada por Paulo Chagas, de Portugal, toma o trabalho com a música como fator de melhoria de vários aspectos do desenvolvimento humano. Outro exemplo de internacionalização é a oficina Um passo de lado, ministrada por Anamaria Fernandes, brasileira que reside e trabalha na França. Anamaria aplicará com o público do Festival sua vasta experiência em instruir pessoas não familiarizadas com a dança, como pacientes psicóticos e adolescentes autistas, o que vai ao encontro da perspectiva de se atingir o incomum.

Já em Acessibilidade, como eu trato?, Liliane Arouca do Carmo promove atividade interativa sobre a importância do entendimento do conceito de acessibilidade e das formas de se lidar com a questão. E na oficina Improvisarte: improviso, literatura, inclusão, Elizete Lisboa e Maria José Vargas Boaventura convidam os participantes a usar “inutensílios” para criar desenhos visuais e em alto-relevo. A atividade está centrada no ensino lúdico do braille e de outras escritas com leitura tátil, mobilizando o improviso para forjar situações em que não é possível ver.

Por fim, algumas oficinas que se destacam por sua especificidade temática. Em Ufos, ovnis e ufologia: antes que o sonho vire pesadelo, por exemplo, serão abordadas as principais questões relacionadas à vida extraterrestre — e os impasses que impedem o avanço do seu estudo. Na outra ponta, destaque para a oficina Os sonhos de Franz Kafka, em que o sonho é investigado no contexto da literatura. A programação da oitava edição do Festival de Verão pode ser conferida no site site do Festival de Verão.

Inscrições

As inscrições custam R$ 20 para cada oficina e podem ser feitas até 13 de fevereiro, no caso de pessoas com deficiência, e a partir do dia 17, para quem não precisa de recursos para acessibilidade. A matrícula deve ser feita no site da Fundep até a data de início de cada atividade — ou até se esgotarem as vagas. Para tanto, o participante deve selecionar a atividade de seu interesse e imprimir o boleto para o pagamento, que pode ser feito em qualquer banco. Quem preferir pode realizar a inscrição pessoalmente, em um dos postos de atendimento da Fundação. Informações pelo telefone (31) 3409-6411, pelo email festivalveraoufmg@gmail.com e no site do Festival de Verão. Durante o evento, informações pelo telefone (31) 3409-8278.


O Festival em números:
10 oficinas
6 atividades especiais
4 eixos temáticos
385 vagas


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