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Nº 1851 - Ano 40
10.02.2014

Devoção restaurada

Imagens sacras de Aleijadinho são recuperadas na Escola de Belas-Artes e devolvidas à matriz de Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte

Paulo Henrique Mauro

A comunidade católica que frequenta a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, em Caeté, ganhou um presente em dezembro de 2013 com a devolução das imagens de Nossa Senhora do Carmo e Santa Luzia, cuja autoria é atribuída a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, depois de restauradas por alunas do curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis, da Escola de Belas-Artes.

O trabalho foi tema de duas monografias de conclusão de curso: Nossa Senhora do Carmo: conservação-restauração de uma obra devocional atribuída a Aleijadinho, de Grasiela Nolasco, e Santa Luzia: conservação-restauração de uma imagem devocional, de Cristina Neres, sob a orientação das professoras Maria Regina Emery Quites e Beatriz Coelho.

A oportunidade de trabalhar com esculturas de autoria do mestre do barroco mineiro surgiu a partir de convênio estabelecido com o Memorial da Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio de sua coordenadora, Márcia Fonseca, que buscava apoio técnico para revitalizar as imagens. Mais do que intervenções nas obras, as alunas desenvolveram um trabalho histórico, teórico e crítico sobre as esculturas, resultando em importante registro para estudos futuros. “Além de devolvermos a obra restaurada, uma cópia dos trabalhos foi entregue à comunidade para que possa servir de referência no cuidado das peças e na documentação desse valioso patrimônio”, afirma Maria Regina.

O trabalho

Durante quatro meses, as alunas desenvolveram um estudo das esculturas que envolveu, entre outras etapas, os levantamentos histórico e iconográfico, a análise da composição química dos materiais utilizados nas peças e o uso de raios-x para verificação da estrutura interna da obra. “A função do conservador-restaurador é resgatar o valor artístico, histórico e devocional das obras de arte, sem interferir nas características originais do artista e da escultura”, analisa a professora.

A análise detectou diversos problemas nas imagens, ambas datadas do século 18. Elas apresentavam diferentes tipos de sujidades, fraturas e perdas nos dedos das mãos, queimaduras e rachaduras na madeira, além do desgaste na pintura. O trabalho de restauração propriamente dito durou dois meses e foi executado a partir dos estudos preliminares e definição da proposta e critérios de tratamento.

A responsabilidade não intimidou as alunas. “Como já havíamos trabalhado com acervos de elevada importância histórica, isso foi determinante para que tivéssemos segurança durante o processo de restauração”, conta Grasiela. Para Cristina, a supervisão constante das professoras e da representante da Arquidiocese garantiu a qualidade final do trabalho apresentado.

Sarah Dutra
Grasiela Nolasco com a imagem de Nossa Senhora do Carmo
Grasiela Nolasco com a imagem de Nossa Senhora do Carmo

Maria Regina destaca o caráter interdisciplinar do curso de Conservação e Restauração, que oferece ao aluno o conhecimento necessário para uma análise precisa das peças. “Ele mantém disciplinas que permitem aos alunos transitar por outras áreas da UFMG, como a Microbiologia, no ICB. Os percursos também abrangem as áreas de conservação-restauração de escultura, pintura, papel e conservação preventiva, além da possibilidade de se trabalhar com conservação de arte contemporânea e de acervos arqueológicos e têxteis”, enumera Maria Regina, citando, ainda, as oportunidades de intercâmbio em países como Itália, México e Portugal.

As obras foram devolvidas à comunidade em celebração realizada em dezembro. Na oportunidade, as autoras do trabalho ministraram palestra sobre o processo de restauração das obras e pontuaram os cuidados exigidos para sua manutenção e de todo acervo da igreja matriz.