Em busca da eficiência máxima

Equipe de estudantes de engenharia desenvolve veículos ultraeconômicos para competições

Matheus Espíndola*

Percorrer mil quilômetros gastando apenas um litro de gasolina. Esse é o horizonte perseguido pela equipe Milhagem, em busca do segundo título na Maratona Universitária da Eficiência Energética, a principal competição nacional do gênero, que será disputada em São Paulo, no final deste ano. O time da UFMG foi o campeão na edição de 2006, quando atingiu a marca de 598,9 km/l – ainda recorde nacional.

Segundo o capitão da equipe, o estudante de Engenharia Mecânica Fábio Keuffer, uma das principais inovações do protótipo atual diz respeito à carenagem (carcaça), fabricada em fibra de vidro e cuja geometria é adaptada para minimizar a resistência ao ar, favorecendo a aerodinâmica. “Todos os materiais utilizados na construção do protótipo são escolhidos com base em relações extremas entre peso e eficiência, visando diminuir seu peso”, explica Keuffer. Pneus com baixa resistência ao rolamento, direção projetada para conferir maior comodidade ao piloto e sistema de transmissão que reduz as perdas energéticas também estão entre as características do projeto da UFMG.

Outra integrante da equipe, a estudante Lara Alcântara, também da Engenharia Mecânica, conta que tanto esforço de pesquisa extrapola a comunidade universitária e atrai o interesse da indústria automobilística. A competição já foi patrocinada pela norte-americana Chevrolet e atualmente é apoiada financeiramente pela montadora francesa Renault.

Lara explica que alguns dispositivos ainda pouco vistos entre os carros que circulam no Brasil já começam a ser aproveitados nas provas universitárias de eficiência. “Entre eles, o sistema start-stop [que desliga o motor quando o carro é freado, economizando combustível] e o pneu verde [mais durável e menos poluente], que deverá ser popularizado nos próximos anos”, exemplifica.

Já o estudante de Engenharia de Controle e Automação Michael Feliphe, membro do núcleo de eletrônica da equipe, explica que o protótipo controla a velocidade de forma autônoma. “A ideia é desenvolver um sistema para calcular as melhores velocidades para cada situação, de forma a otimizar o consumo. Esse sistema poderia servir de base para que os futuros veículos autônomos [sem motorista] sejam econômicos.”

A equipe

Os 11 graduandos que atualmente compõem a equipe, distribuídos entre as engenharias de Controle e Automação, Produção, Mecânica e Elétrica da UFMG, desempenham diversas tarefas no desenvolvimento do carro, desde a concepção dos subsistemas, passando pela fabricação das peças até o gerenciamento do projeto. Eles também são responsáveis pela gestão administrativa e financeira da Milhagem. São orientados pelo professor do Departamento de Engenharia Mecânica Fabrício Pujatti, especialista em engenharia automotiva.

O responsável pelo marketing da equipe é o estudante de Engenharia de Produção Lucas Takahashi. Ele explica que o projeto contribui para formação profissional dos graduandos na medida em que propicia conhecimento e vivência em áreas como teoria automotiva, projeto de sistemas mecânicos e eletrônicos, planejamento, gerenciamento, marketing e logística.

Entre os próximos objetivos da Milhagem está a participação na etapa sul-americana da mais importante prova universitária de eficiência em combustível no mundo, a Shell Eco-marathon, em 2015. Na mais recente edição, o vencedor atingiu índice de 1.525 km/l.

Histórico

Além da vitoriosa participação em 2006, a equipe Milhagem, vinculada ao Centro de Tecnologia da Mobilidade e que também conta com o suporte técnico do Centro de Estudos Aeronáuticos, já esteve presente em outras três edições da Maratona Universitária da Eficiência Energética. Um ano antes, com o protótipo CEA-M1, alcançou o desempenho de 227,6 km/l de gasolina, sendo vice-campeã brasileira.

No ano de 2011, atingiu 199,1 km/l e logrou o quinto lugar geral com o CTM-M2. Em sua mais recente incursão, no ano passado, a Milhagem obteve o 4º lugar da categoria, alcançando 234,9 km/l.

* Matéria publicada no Portal UFMG, seção Pesquisa e Inovação, em 25/03/2014