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Nº 1858 - Ano 40
07.04.2014


Ciência em notícias

Com quase 60 mil assinantes, newsletter editada no ICB ‘traduz’ artigos científicos para estudantes de graduação e público leigo

Ana Rita Araújo

Chega esta semana à nona edição o informativo digital Nanocell News, que veicula para o público leigo notícias sobre pesquisas recentes nas áreas de saúde e biotecnologia. Criada há apenas seis meses, a newsletter já tem quase 60 mil assinantes e cerca de 150 mil acessos por edição, o que surpreendeu o idealizador e editor da publicação, Rodrigo Ribeiro Resende.

Professor do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), ele conta que decidiu investir no projeto para suprir duas demandas: a defasagem de conhecimento especializado entre estudantes de graduação; e o grande número de consultas que recebia de amigos e familiares sobre temas relativos tanto a farmácia e biologia – suas áreas básicas de formação – quanto a aspectos mais gerais de saúde.

Resende utiliza como principal fonte a PubMed, uma das mais respeitadas bases de dados da literatura médica mundial, vinculada ao National Institutes of Health, dos Estados Unidos. “Leio os artigos recém-publicados, como parte da minha rotina, e seleciono alguns que considero mais interessantes para que sejam transformados em notícia”, explica. Os textos são redigidos por ele e por um grupo de alunos de pós-graduação. Recentemente, convidou para compor o corpo editorial os professores Henning Ulrich e Lygia Veiga Pereira, ambos da Universidade de São Paulo; Oswaldo Luiz Alves (Unicamp); Valeria Cristina Sandrim (Unesp); e Guido Lenz (UFRGS). “Eles têm tanta liberdade quanto eu para selecionar artigos, redigir, editar e convidar redatores”, informa o editor. Apesar do crescimento da equipe, não há intenção de ultrapassar a média de seis notícias por edição nem mudar a periodicidade (os ­números saem a cada três semanas).

Embora a ideia seja divulgar ciência para um público amplo, os textos são elaborados com o intuito de alcançar sobretudo formadores de opinião. “Evitamos utilizar uma linguagem muito básica, para que o material atenda também alunos que estão entrando na graduação e na pós-graduação”, esclarece. As estatísticas mostram que os leitores do Nanocell News têm perfil semelhante aos que procuram tradicionais revistas especializadas, como Scientific American e Ciência Hoje: são alunos de graduação – cerca de 60% – e pós-graduação. Com base nas mesmas estatísticas, Rodrigo Resende deduz que está no caminho certo: revistas pagas de circulação nacional que há mais de duas décadas cobrem assuntos sobre ciência têm hoje cerca de cem mil assinantes, enquanto seu informativo tem crescido a um ritmo de quase dez mil novos assinantes por mês.

Instituto

A nona edição marca importante mudança na trajetória do jornal – a criação do Instituto Nanocell, o que amplia a abrangência do trabalho. A nova seção Alô, Escolas! vai fornecer material didático que pode ser usado por professores e alunos do ensino médio e de cursos de graduação. O informativo também passa a contar com dicas de livros e espaço para que o leitor manifeste opinião sobre os assuntos abordados. Além disso, está aberta a submissão de textos para publicação, desde que o autor siga as normas disponíveis no site do Instituto.

“O que mais nos empolga nesse trabalho é a possibilidade de, dentro de dois ou três anos, oferecer outros serviços gratuitos para a sociedade”, afirma Rodrigo Resende. No Laboratório de Sinalização Celular e Nanobiotecnologia do ICB, ele e sua equipe propõem modelos e vias de caracterização da sinalização celular para compreender diversas doenças, entre as quais hipertensão arterial e cardíaca, AVC, aneurismas, pré-eclâmpsia, algumas síndromes e diabetes. Ele prevê que marcadores genéticos e moleculares do sangue definidos nesse tipo de pesquisa sejam utilizados para a confecção de kits de diagnósticos que podem determinar o perfil e risco de cada pessoa atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Além de buscar recursos junto a agências de fomento, Rodrigo conta com a formação de parcerias entre o Instituto e empresas, para custear os gastos com reagentes e os próprios kits diagnósticos.

Outro aspecto relevante no trabalho iniciado com o Nanocell News, na opinião do editor, é a formação dos estudantes envolvidos na tradução dos artigos científicos e na redação das notícias. “Em primeiro lugar eles criam a rotina de ler e compreender os artigos científicos, mantendo-se em dia com pesquisas que são atuais e de impacto”, destaca, lembrando também a importância do exercício de redação. “Como profissionais ou pesquisadores, eles estão aprendendo a escrever e a transmitir informação, além de exercitar o trato com pelo menos duas línguas”, reitera.

E completa: “Já me perguntaram por que o Nanocell News não é escrito em inglês, e respondo que quero prestar esse serviço para o leitor de língua portuguesa. Os de outros países têm outras opções de informação de qualidade”.