| |
              |
|
 |
|
|
|
|
  |
 |
|
|
|
|
 |
|||
|
||||
Nº 1858 - Ano 40
07.04.2014
 |
 |
Luana Moreira
| 100 receitas sem leite e derivados |
 |
| Receitas combinam culinária brasileira com sabores de outras culturas |
Na dedicatória do exemplar entregue à autora desta reportagem, a professora Sabrina Sedlmayer, da Faculdade de Letras, resume o significado da obra 100 receitas sem leite e derivados: “Este livro conta a história de uma mãe-professora, que virou cozinheira”. A obra é resultado do esforço de uma especialista em literatura – e leiga em nutrição – às voltas com os problemas alimentares do filho, alérgico a qualquer proteína do leite. Nos últimos nove anos, ela mergulhou na cozinha, espaço da casa que antes não lhe era muito familiar. Lá combinou sabores da memória culinária do Brasil e de outras culturas para encontrar receitas saborosas e nutritivas sem a presença de leite e seus derivados.
De acordo com a professora, o conhecimento em literatura e da metodologia de pesquisa contribuiu para levar o projeto adiante. “Há alguns anos ministrei disciplinas isoladas para várias turmas sobre o lugar da cozinha na literatura, na qual explorava a relação de sentimento que determinados personagens literários atribuíam ao consumo de determinados alimentos. Após esse trabalho percebi que o exercício reflexivo da literatura poderia me impulsionar em meu objetivo”, explica a professora.
Publicado pela Editora Gutenberg, a obra, já em sua segunda edição, reúne receitas das culturas mediterrânea, sírio-libanesa, alemã, japonesa e portuguesa. Elas ensinam a preparar bolos, muffins, pães, biscoitos, sopas, molhos, bolinhos salgados, saladas, massas, carnes, peixes e frutos do mar. Segundo Sabrina, todas as receitas foram criadas sem o uso de leite, manteiga, margarina, creme de leite, queijos, requeijões, coalhada, leite condensado, iogurtes e achocolatados. “Os pratos se sustentam com o uso de outros ingredientes como azeite, água, suco de frutas, óleos, que acentuam os sabores e a vitalidade dos alimentos”, afirma Sabrina.
“Esse livro não foi escrito por uma especialista no assunto. Não sou nutricionista nem engenheira alimentar; minha profissão é a educação e a pesquisa. Trata-se de um livro de mãe”, anota a professora no prefácio de sua obra, em que expõe os diversos choques anafiláticos e internações sofridas por seu filho, que vive uma realidade compartilhada por outros brasileiros que talvez até desconheçam as origens de seus males. “A legislação brasileira relacionada aos produtos alimentícios, farmacêuticos e à indústria de cosméticos não auxilia no tratamento e controle da doença”, afirma a professora.
Ela explica ainda que os frigoríficos e fábricas de laticínios adotam a prática de compartilhar maquinário para a produção de alimentos e essas informações não são oferecidas à população. Além disso, observa que muitos produtos não apresentam em seus rótulos detalhes precisos sobre a presença de componentes do leite. Essa falta de clareza pode ser fatal em alguns casos, pois a maioria da população não conhece as diversas variações de proteínas do leite e não sabe que o simples contato com esses produtos pode causar reações extremas em pessoas alérgicas.
Sabrina avalia que esse é um problema de grande alcance social e tem levado vários grupos a se mobilizar. Como exemplo, cita a campanha Põe no rótulo, empreendida nas redes sociais por cerca de 600 mães brasileiras. Só a página do Facebook da campanha já recebeu mais de 27 mil “curtidas”.
A obra de Sabrina Sedlmayer foi a vencedora brasileira na categoria de livros de saúde e nutrição do Gourmand World Cookbook Awards 2013. O prêmio é um dos mais importantes da literatura gastronômica mundial, sendo promovido pelo editor de gastronomia francês Edouard Cointreau, que organiza em Paris uma feira de livros da culinária mundial. Na próxima etapa, o livro vai concorrer com ganhadores de outros países na mesma categoria.
Sabrina Sedlmayer possui mestrado em Literatura Brasileira, doutorado em Literatura Comparada pela UFMG e pós-doutorado na Unicamp.