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Nº 1862 - Ano 40
05.05.2014

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opiniao

Direitos Humanos em debate

Benigna Oliveira* Claudia Mayorga**

Em um país como o Brasil, no qual o processo de democratização de suas instituições está em curso, muitos são os desafios para a concretização dos direitos humanos. A efervescência das manifestações populares que tomaram as ruas em junho do ano passado demonstra a urgência dessa pauta. As reivindicações pela concretização e ampliação dos direitos humanos, além das denúncias de sua violação, estiveram em destaque nas vozes de milhares de manifestantes. Tal fato revela, dentre outras questões, a grandeza dos desafios e problemas de nossa sociedade, sendo importante que a universidade pública brasileira se posicione sobre esse processo.

O tema dos direitos humanos também se torna pauta prioritária no ano em que o golpe militar, que instituiu uma ditadura no Brasil, completa 50 anos. Nessa data, nos sentimos convocados a refletir sobre esse momento histórico, suas origens, dinâmica, implicações e continuidades nos dias atuais. Também é necessário recordar a resistência e as lutas políticas contra a ditadura, processo do qual muitos pensadores, professores, estudantes, militantes, vinculados à Universidade e, mais especificamente, à extensão universitária, participaram ativamente.

A extensão da UFMG não pode estar alheia a essas questões. E de fato não está. Nos diversos programas e projetos que são desenvolvidos, professores, estudantes, técnicos e administrativos e membros de comunidades e grupos sociais se deparam com problemas complexos que revelam um cenário desafiador para a concretização dos princípios da igualdade e da justiça social em nosso país: no campo da saúde, da educação, da geração de renda, da informação, da moradia e da terra, envolvendo questões relacionadas às desigualdades de gênero, raça, etnia, sexualidade, geração e ao reconhecimento de sujeitos historicamente compreendidos e tratados como não humanos.

Nesses trabalhos, identificamos atores ávidos por reconhecimento de sua história e diferença. Conhecimentos importantes têm sido produzidos e difundidos a partir desse encontro com grupos sociais diversos, o que põe a extensão em lugar privilegiado de contato com os problemas de uma sociedade em processo de democratização e atualiza a sua missão histórica de contribuir com a oxigenação de outros setores da Universidade. Nesse diálogo, a instituição também se transforma e a reflexividade torna-se uma posição necessária associada a uma permanente vigilância epistemológica e política que nos deixe atentos às reproduções de lógicas autoritárias, clientelistas e tantas vezes silenciadoras da população.

Esta semana, a Pró-Reitoria de extensão da UFMG realiza a XIII Jornada de Extensão, que tem como tema Direitos humanos: diálogos e desafios da extensão. Nesse encontro queremos trocar experiências sobre as ações de extensão a partir de vozes e posições distintas. Professores, estudantes e representantes da comunidade vão refletir sobre suas posições, ações e pensamentos acerca dos direitos humanos. Como tem sido a posição da universidade nesse debate? Qual o lugar dos grupos sociais e das comunidades nessa interação? E os estudantes? Qual seu papel e os efeitos dessa interação na sua formação? Nossos conhecimentos têm contribuído para a construção de uma sociedade mais justa, diversa e igualitária? A universidade tem se transformado nessa relação?

Essas e outras perguntas não podem ser respondidas de forma simplista ou superficial. Precisamos construir respostas que atentem para a complexidade da concretização dos direitos humanos. Faz-se importante buscar ler e compreender a heterogeneidade do momento atual evitando um olhar que dicotomize e simplifique os problemas. Necessitamos voltar os olhos para a sociedade brasileira e a complexidade de suas instituições, mas também o que é habitus e vida cotidiana; faz-se importante compreender a dinâmica das diversas formas de violência e violação de direitos produzidas e reproduzidas no país, assim como de preconceito e discriminação; é preciso refletir sobre os diversos sentidos que vão sendo criados e recriados sobre o povo, a multidão, as minorias. Mas, sobretudo, é fundamental ter como horizonte a possibilidade de mudança e transformação no sentido de contribuirmos e construirmos uma sociedade mais igualitária e justa.

Ao escolhermos o tema dos direitos humanos para a XIII Jornada queremos convidar toda a comunidade acadêmica a refletir acerca do papel da extensão e de outros setores da universidade na construção de um conhecimento e de uma sociedade que tome os direitos humanos como horizonte permanente de ação, reflexão e transformação. Não somente a transformação do outro, mas sobretudo, a transformação de si.

*Pró-reitora de Extensão

**Pró-reitora adjunta de Extensão