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Nº 1873 - Ano 40
25.08.2014

Diálogo em torno da informação

Livro de professor da ECI reúne argumentos para propor que arquivologia, museologia e biblioteconomia enfrentem desafios de forma conjunta

Itamar Rigueira Jr.

Em temporada em Paris, no ano de 2010, durante suas pesquisas de pós-doutorado, o professor Carlos Alberto Ávila Araújo, da Escola de Ciência da Informação (ECI), fez uma visita ao Centro de Cultura Árabe e foi recebido por um funcionário da biblioteca, que, diante de sua demanda, guiou-o até o arquivo da instituição. Elogiado pelo professor, impressionado pela naturalidade com que o funcionário parecia circular entre os assuntos e setores da instituição, ele disse que não havia nada de mais, pois sua missão era informar o visitante e divulgar a cultura árabe.

Ainda que de forma imprecisa, essa história simples simboliza a ideia central que moveu aquela viagem. Carlos Alberto Araújo procurava autores, teorias e experiências que fundamentassem sua convicção de que arquivologia, biblioteconomia e museologia devem dialogar para enfrentar desafios que transcendem fronteiras e para estabelecer formação em parceria. Os conceitos que ele consolidou na Europa transformaram-se em artigos e palestras e foram refinados nos últimos anos – inclusive com a contribuição de colegas da UFMG e de outras universidades – para dar origem ao livro Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível (editora Briquet de Lemos). Depois de viver intensamente o processo de criação dos cursos de Arquivologia e Museologia, há cerca de cinco anos, Araújo começou a pensar sobre a possibilidade e a necessidade do diálogo. “Na verdade, estava sensível a um movimento que surgia. Um exemplo disso é que, recentemente, o Arquivo Nacional, a Biblioteca Nacional e o Instituto Brasileiro de Museus deram partida a esforços conjuntos, como o desenvolvimento de políticas de preservação e acesso”, conta o pesquisador, que fez cursos e visitas técnicas em Portugal, Espanha e França.

Uma das chaves da argumentação de Araújo é a tese de que a ciência da Informação não deve ser tratada como um guarda-chuva a abrigar as três áreas. Segundo ele, os pontos em comum extrapolam a questão da informação. Ele deixa claro também que não defende que as áreas sejam cercadas em torno desse diálogo. “As especificidades têm que ser respeitadas. A arquivologia é baseada no princípio da proveniência e se relaciona com questões como sigilo e valor de prova, além de manter interface com áreas como o direito e a administração. Orientada pela temática dos documentos, a biblioteconomia, por sua vez, prioriza a divulgação, e está ligada à educação e à literatura. A museologia, normalmente associada à presença do objeto e à experiência da exposição, conversa com a antropologia e as belas-artes. Esses diálogos devem ser mantidos”, afirma Carlos Alberto Araújo.

Teorias e posicionamento

No primeiro capítulo da obra, Carlos Araújo percorre história e teorias das três áreas, destacando os aspectos em comum e os lugares onde o diálogo pode se dar. No segundo, ele se concentra na ciência da informação. Nascida nos Estados Unidos, essa área prioriza até os dias de hoje, entre os americanos, o diálogo com as ciências cognitivas, computação e parte da biblioteconomia. “O Brasil chegou a seguir esse modelo, mas isso não acontece mais. Há mais de uma forma de encarar essa questão, e eu defendo aquela em que a CI elege como interlocutores principais a arquivologia, a biblioteconomia e a museologia. Memória, patrimônio e cultura são privilegiados, sem que se deixe de lado a gestão e a tecnologia”, explica o professor.

Ele reúne autores contemporâneos, alguns deles marginalizados em determinados momentos, para estruturar “o que seria uma CI interessante para o nosso contexto“. “Talvez o grande achado de minhas pesquisas recentes tenha sido a constatação de que há muitos bons autores dizendo coisas parecidas sobre as diferentes áreas.” Araújo lembra que as ciências que lidam com arquivos, bibliotecas e museus são muito mais antigas que a ciência da informação, que pode e deve ser mais maleável quanto às particularidades e às influências das três áreas.

No último capítulo do livro, ele toma posição. “Alguns desafios para essas áreas são comuns, como preservação e acesso digital, então por que não enfrentá-los em conjunto?”, questiona o autor, que aproveita para desfazer mal-entendidos. “Não se trata de fundir as áreas, nem de estabelecer qualquer hierarquia. É fundamental, sim, ter em mente que todos esses campos, incluindo a ciência da informação, têm em sua essência as ações mencionadas na teoria de Peter Burke: preservar, organizar, disponibilizar e usar a informação.”

Carlos Alberto Araújo reconhece que, até pouco tempo atrás, a proposta de diálogo encontrava resistência porque essas ciências, ainda muito jovens, construíam sua identidade. Mas considera que já se atingiu grau de maturidade suficiente, como se atesta pelas relações estabelecidas na Escola de Ciência da Informação da UFMG: “Temos, na ECI, uma excelente oportunidade de construir cursos de maneira original e com base em parceria. Assim como percebo que, agora, há maior lastro e condições favoráveis para o diálogo, em Minas e no Brasil.”

Livro: Arquivologia, biblioteconomia, museologia e ciência da informação: o diálogo possível
De Carlos Alberto Ávila Araújo
Editora Briquet de Lemos
200 páginas / R$ 49 (preço de capa)
Lançamento: 26 de agosto, no auditório Azul da ECI, campus Pampulha, em três horários: às 10h, às 16h30 e às 21h