Busca no site da UFMG

Nº 1886 - Ano 41
24.11.2014

Sorriso em dia

Projeto de extensão oferece tratamento odontológico gratuito aos jovens da Cruz Vermelha que trabalham na UFMG

William Campos Viegas*

Quem decide começar um tratamento odontológico sabe que vai encarar, em algum momento, agulhas, pinças, alicates e aquele “motorzinho”, instrumentos que fazem algumas pessoas postergarem a ida ao dentista. É o caso da adolescente Cristiane Almeida, que, por medo do aparelho “de barulho estridente” e da anestesia, demorou quase dez anos para voltar a um consultório dentário.

“Ficava ansiosa só de ver o dentista colocar a broca no aparelho. A aflição aumentava, suava frio quando ele ligava o motorzinho e achava horrível a sensação de adormecimento causada pela anestesia”, comenta. Aos 17 anos, ela, que trabalha há 10 meses na UFMG, superou o medo e, desde agosto, cuida dos dentes na Faculdade de Odontologia.

Cristiane é uma das pacientes do projeto de extensão Promoção de Saúde Bucal para Adolescentes, que existe desde 2000 em parceria com o Programa de Promoção e Orientação ao Trabalhador Adolescente (Porta), da Pró-reitoria de Recursos Humanos e da Cruz Vermelha do Brasil. O Porta encaminha adolescentes para tratamento gratuito na Odontologia. “Começamos a priorizar esse público em 2002, pois percebemos que muitos encontravam dificuldades para receber atendimento, já que passam o dia na Universidade e, à noite, vão para a escola”, explica a professora Andrea Palmier, do

Departamento de Odontologia Social e Preventiva, e coordenadora da ação, executada por professores, bolsistas e estudantes voluntários.

A procura por tratamento tem aumentado, e o projeto que atendia, principalmente, os jovens que atuam no câmpus Pampulha, já conta com pacientes de unidades localizadas no centro da capital. “Dos 99 atendidos no primeiro semestre de 2014, a maioria necessitava apenas de manutenção – limpeza, raspagem, polimento, aplicação de flúor ou restaurações”, explica a professora.

Um dente quebrado incomodou Ana Carolina Moreira, de 17 anos, por algum tempo. Além do desconforto estético, a jovem sofria com as dores, o que foi resolvido pela equipe com uma simples restauração. “Nas clínicas particulares, a restauração é muito cara e, nos postos de saúde, demora-se muito para conseguir horário. Aqui, na mesma semana em que pedi, consegui o atendimento”, conta a jovem, exibindo o novo sorriso.

Foca Lisboa
Ailton Pereira: escovação correta
Ailton Pereira: escovação correta

Para Rayssa Fernandes, bolsista do projeto e estudante do 6º período de Odontologia, além da gratuidade, a ação é fundamental para a prevenção de doenças. “Recebemos pacientes que nunca tinham ido ao dentista, não sabiam fazer a higiene correta. Com o tempo, eles vão se dando conta da importância do cuidado com os dentes”, explica. É o caso de Ailton Pereira, de 16 anos, que trabalha como aprendiz na Pró-reitoria de Pesquisa: “Tinha ido ao dentista apenas uma vez para fazer limpeza. Quando cheguei ao Programa descobri que escovava os dentes errado, aprendi a escovar aqui”, conta ele.

A iniciativa é fiel ao princípio da indissociabilidade entre extensão, ensino e pesquisa. “Recebemos jovens, entre 12 e 20 anos, dos centros de saúde da capital e de demandas livres. Após avaliação, encaminhamos os que precisam de tratamento para os alunos que cursam a disciplina Atenção Integral ao Adolescente. Em casos como próteses dentárias, que exigem procedimentos de laboratórios, também repassamos para estudantes de disciplinas específicas da Odonto”, detalha a professora Andrea Palmier.

Transplante autógeno

Enquanto a maioria dos pacientes necessita de tratamento preventivo, outros apresentam um quadro mais complexo que exige, por exemplo, transplantes dentários. Em 2013, dos 32 jovens atendidos, 10 foram encaminhados para o projeto de residência em cirurgia buco-maxilo-facial. “Alguns chegam com a cárie bastante avançada, e a única saída é a extração. Os profissionais residentes recorrem a uma técnica chamada de transplante autógeno, que consiste na substituição do dente danificado pelo siso, que ainda não nasceu”, explica Andrea.

Gabriela Vieira passou pelo procedimento que, fora da UFMG, custaria em torno de R$ 1 mil. “Fiz a cirurgia há um ano e foi bastante tranquilo. Eu não teria condições de arcar com o tratamento”, afirma a estudante. Recentemente, o Porta começou a ofertar tratamento de canal, aumentando o número de procedimentos e de pacientes atendidos.

O projeto atende de acordo com o calendário acadêmico da UFMG, sempre às terças, das 8h às 12h, na Faculdade de Odontologia, no câmpus Pampulha. Mais informações pelo telefone 3409-2448.


*Bolsista de Jornalismo da Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão (colaborou Bruna Moreira)