Busca no site da UFMG

Nº 1902 - Ano 41
04.05.2015

y

Praça do artesanato

Identidade cultural regional e saberes tradicionais movimentam a UFMG na 16ª edição da feira do Vale do Jequitinhonha

Tatiana Adriano*

Luiza Ananda
Peças de artesanato expostas em edição anterior da Feira

Nesta semana, de 4 a 9 de maio, a Praça de Serviços do campus Pampulha volta a ser ocupada pela arte produzida em 22 municípios do Vale do Jequitinhonha. Cerâmica, tecelagem, cestaria, bordados, acessórios, roupas e pinturas compõem a Feira de Artesanato do Vale Jequitinhonha UFMG, que, neste ano, chega à 16ª edição.

“Desde o seu início, em 2000, a Feira busca desenvolver um ambiente que possibilite aos artistas da região exporem e comercializarem suas obras, além de fortalecer o associativismo entre os municípios participantes sem que haja a necessidade de intermediários”, afirma Terezinha Furiatti, coordenadora do Programa Saberes Plurais, responsável pela organização da Feira.

Segundo ela, outros objetivos são estimular o desenvolvimento de métodos de comercialização dos produtos e valorizar a preservação e transmissão da identidade cultural regional e dos saberes tradicionais do Vale. A principal iniciativa relacionada a essa vertente são as homenagens aos mestres de ofício. “Trata-se de pessoas responsáveis por preservar o artesanato e ensiná-lo às novas gerações. Seus trabalhos conquistam a admiração de críticos, galeristas, colecionadores e do público em geral”, argumenta.

Nesta edição, os homenageados são os mestres Valmir Paulino, do município de Datas, e José Sebastião (Seu Zé do Ponto), de Chapada do Norte. Os expositores dos dois municípios ocuparão lugar de destaque na exposição, em um espaço físico mais amplo, que viabilizará a oferta das oficinas ao público.

Localizada na região do alto-médio Jequitinhonha, Chapada do Norte é um município que se formou em torno da exploração de ouro do Rio Capivari, no início do século 18. Em 1949, nasceu um de seus mais ilustres moradores, José Sebastião Vaz, mais conhecido como Zé do Ponto. Ainda criança, acompanhava e ajudava o pai, um tropeiro da região, no transporte de secos e molhados em lombo de mulas. Aos 12 anos, começou a produzir caixas de couro para carregar mercadorias. Mais tarde, passou a confeccionar alforjes, broacas, bateias, balaios de taquara e bancos de couro. Atualmente, Zé do Ponto se dedica à carpintaria, usando o couro, a madeira e trançados de couro e palha de milho como matérias-primas de escrivaninhas, cadeiras, tamboretes, bancos, mesas, bolsas e namoradeiras. O trabalho do artista, vendido em grandes lojas de vários estados brasileiros, foi reconhecido há alguns anos com o Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, em concurso nacional.

Divino de Datas

Entre as serras da cadeia do Espinhaço, fica o município de Datas, onde, em 1996, Walmir das Graças Paulino, esculpiu, pela primeira vez, o corpo de uma pomba entalhada e revestida com lascas de madeira. Concluída a obra, Walmir enxergou nela o Divino Espírito Santo e, a partir daí, desencadeou o processo de criação e aperfeiçoamento do Divino de Datas, marca registrada do município. Em 2005, artesãos se juntaram para ensinar as técnicas de produção do Divino, ofício que se transformou em fonte de renda para os participantes. Desde então, mestre Valmir orienta vários artesãos neste minucioso e complexo trabalho.

Além das homenagens e da comercialização das peças, também serão lançados DVDs sobre a vida e obra dos mestres Paulo de Oliveira Costa e Elzi Gonçalves Pereira e das artesãs Maria Joana Trindade e Maria José Gomes da Silva (Zezinha). A programação cultural inclui shows musicais de Marcos Catarina, Wilson Dias, Dona Jandira e Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais.

A Feira de Artesanato do Vale do Jequitinhonha é organizada pela Diretoria de Ação Cultural, em parceria com a Pró-reitoria de Extensão, com os programas Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e Saberes Plurais. O evento é apoiado pelas 22 prefeituras dos municípios de origem dos expositores, por associações microrregionais e por 40 organizações de artesãos. Na edição passada, a Feira recebeu, em média, 15 mil visitantes por dia e gerou receita de R$ 200 mil.


* Bolsista do Programa Polo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha