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Nº 1908 - Ano 41
15.06.2015

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opiniao

A UFMG e a crise das águas

Ricardo Motta Pinto-Coelho*


O ano de 2015 está sendo marcado por uma grave crise hídrica no Brasil. Apesar da necessidade urgente de encontrar meios alternativos e soluções para evitar um possível caos com o colapso do abastecimento público de água, a colaboração que as universidades brasileiras têm dado para resolver a situação ainda pode ser expandida significativamente. A visão de que a academia pode contribuir bem mais para superação dessa crise é compartilhada por pesquisadores de outras partes do mundo e respaldou breve nota que publicamos recentemente (Nature, 523:289, 2015).

O que a UFMG tem feito e ainda pode fazer para superar a atual crise nas águas? Essa contribuição não é desprezível quando avaliamos a questão sob o prisma acadêmico. Em primeiro lugar, a UFMG é uma grande formadora de recursos humanos na área hídrica. É longa a lista de cursos de graduação e pós-graduação oferecidos que formam – e bem – alunos com algum tipo de especialidade nessa área do conhecimento. Centenas de docentes e pesquisadores participam ativamente de vários projetos nas mais diferentes áreas ligadas às águas continentais. Não raro, essas pesquisas envolvem especialistas de outras partes do Brasil e do exterior. De toda essa atividade, resultam, provavelmente, milhares de contribuições científicas em que os recursos hídricos são, de algum modo, considerados.

Essa capacidade de reflexão e pesquisa instalada na UFMG talvez pudesse ser mais bem aproveitada pela sociedade. Poderíamos, por exemplo, melhorar nossa performance em relação à previsibilidade e aos possíveis desdobramentos dessa crise. Poderíamos atuar mais ativamente na capacitação de diversos segmentos da sociedade e prepará-los para enfrentar melhor a atual crise hídrica. E, em terceiro lugar, poderíamos priorizar o desenvolvimento de novos produtos a serem usados pela sociedade para superar a atual escassez de água. Esses produtos podem ser desde um novo sistema de captação de água de chuva até um software capaz de aperfeiçoar a gestão das águas em um hospital.

Outro aspecto que chama a atenção é a baixa atuação da UFMG e de outras universidades na governança das águas. Uma participação maior será bem-vinda, pois, além de proporcionar trocas de informação em“mão dupla”, sincronizará a relação entre a pesquisa científica e a real demanda por serviços e produtos de que a sociedade necessita.

Uma resposta mais eficiente da UFMG frente aos inúmeros desafios propostos pela atual crise hídrica talvez possa estar na palavra-chave “extensão”. Acredito que devemos intensificar a oferta de cursos destinados a diferentes públicos, tais como empresários do setor hoteleiro, condomínios e diferentes segmentos do agronegócio, como horticultores, aquacultores e irrigantes.

A área de extensão que lida com recursos hídricos na UFMG poderá ganhar muita força caso se junte à Fundação Unesco-HidroEX, vinculada ao governo estadual e sediada no campus da Uemg em Frutal (MG). Um dos objetivos centrais dessa instituição é introduzir e disseminar no país a “Educação para as águas”, iniciativa não formal, criada e supervisionada pelo Programa Hidrológico Internacional (PHI) da Unesco. Esse programa vem sendo adotado com sucesso por dezenas de centros da entidade espalhados em todo o mundo. Seu objetivo é mudar, melhorar e disseminar novos comportamentos, em amplos segmentos da sociedade, visando a uma melhor gestão dos recursos hídricos. No campus da Uemg em Frutal, já existe um programa de EAD da UFMG e previsão de uso franqueado da excelente infraestrutura física disponível nos novos prédios do complexo “Cidade das Águas”. Essa estrutura inclui salas de aula, equipamentos sofisticados para videoconferências, ótimos alojamentos, bibliotecas, laboratórios de última geração e estações de campo, entre outros recursos. O HidroEX já dispõe de extensa rede de parceiros nacionais e internacionais. Juntos, HidroEX e UFMG poderão oferecer mais rapidamente as soluções de que a sociedade tanto precisa para enfrentar a atual crise de nossas águas.

*Professor do Departamento de Biologia Geral e coordenador do Laboratório de Gestão Ambiental de Reservatórios (LGAR) do ICB