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Nº 1908 - Ano 41
15.06.2015

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opiniao

Saúde salgada

Estudo com participação da Escola de Enfermagem conclui que alimentação saudável está mais cara nos países em desenvolvimento

Rafael Cerqueira*

As dietas saudáveis estão ficando progressivamente mais caras nos países em desenvolvimento. Essa é a conclusão central do estudo internacional The rising cost of a healthy diet – Changing relative prices of foods in high-income and emerging economies, coordenado por pesquisadores dos Estados Unidos e da Inglaterra, que contou com a colaboração do professor Rafael Moreira Claro, do Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem.

A pesquisa analisou aspectos como as mudanças ocorridas no custo de compra de alimentos em quatro países (Brasil, México, China e Coreia do Sul) e o barateamento dos alimentos e bebidas processados e ultraprocessados em comparação aos produtos frescos, como frutas e hortaliças.

Segundo o professor Rafael Claro, essa tendência ajuda a compreender a substituição progressiva de alimentos frescos pelos industrializados. “No caso do Brasil, o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados, prontos para consumir, aumentou de pouco mais de 80 quilogramas per capita por ano, no fim da década de 90, para cerca de 110 quilogramas per capita por ano, até 2013”, exemplifica o professor, citando dados de vendas de alimentos e bebidas no varejo apurados pelo Euromonitor Passport Global Market Information Database de 2014.

O levantamento, que foi coordenado pelos pesquisadores Steve Wiggins, dos Estados Unidos, e Sharada Keats, da Inglaterra, também envolveu estudiosos da China, da Coreia do Sul e do México.

Força do marketing

Para o professor, a alta nos preços dos alimentos naturais aliada ao apelo mercadológico dos produtos ultraprocessados cria cenário propício para o surgimento e consolidação de práticas alimentares pouco salutares. “O marketing de grandes empresas de alimentos influencia o interesse dos brasileiros pelo consumo de comidas ultraprocessadas e fast food. É uma realidade difícil de ser evitada no país”, afirma Claro.

De acordo com o estudo, ainda que alguns alimentos ultraprocessados, como pão e embutidos, figurem há muito tempo na dieta da população brasileira, uma série de outros produtos como salgadinhos chips, biscoitos, barras energéticas e bebidas açucaradas têm encontrado enormes facilidades para chegar à mesa da população, graças ao barateamento de seu preço e ao marketing desenvolvido em torno de seu consumo.

Rafael Claro cita dados do mercado varejista de São Paulo, que, no período de 1980 a 2009, registrou elevações de preços de produtos industrializados bem inferiores às dos alimentos naturais.

Já descontada a inflação, o valor real médio dos biscoitos subiu 110,23%, o do açúcar, 82,37%, o de carnes, 61,3%, e o da salsicha, 34,62%. Frutas e hortaliças aumentaram 229,17%. A pesquisa revelou, ainda, que alimentos de alta densidade energética (como salgadinhos chips e biscoitos recheados) tendem a ser mais baratos do que outros produtos – considerando uma relação entre preço e caloria – especialmente quando comparados aos alimentos in natura ou minimamente processados, como frutas, hortaliças e carnes frescas.


*Aluno de jornalismo da UFMG e bolsista da Escola de Enfermagem (Matéria publicada no Portal UFMG, seção Pesquisa e Informação, em 10/06/2015)