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Nº 1910 - Ano 41
29.06.2015

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Para se tornar visível

Pesquisadores reivindicam inclusão da História da África como subárea do CNPq; número de estudos sobre o tema cresce no Brasil, inclusive na UFMG

Ana Rita Araújo

Apesar de crescentes no Brasil, as pesquisas em História da África ainda são invisíveis às agências públicas de fomento, afirma a professora Vanicléia Silva Santos, do Departamento de História da UFMG. “Defendemos a criação dessa ­subárea na principal agência de regulação da Ciência do país, o CNPq, pois queremos ser avaliados por nossos pares e não por pesquisadores das subáreas de História Moderna e História Contemporânea”, enfatiza.

O Grupo de Trabalho (GT) que ela coordena, juntamente com os professores Silvio Carvalho Filho (UFRJ) e Laila Britcha (Uesc), na Associação Nacional de História (Anpuh), busca também incentivar a criação de GTs regionais para fortalecer as pesquisas em todo o país, estimular as universidades e seus respectivos departamentos de História a realizarem concursos para contratação de docentes na área, encorajar pesquisas no continente africano, congregar os brasileiros em fórum próprio de debate e obter perfil do quadro de pesquisadores nacionais para propor políticas para a subárea.

“Encaminhamos carta à presidência da Anpuh, pedindo que a entidade, com seus quase seis mil filiados, nos represente no CNPq com essa demanda”, esclarece a professora, lembrando que atualmente há no Brasil 168 pesquisadores cadastrados no GT, desenvolvendo pesquisas sobre o continente. Os dados integram pesquisa recém-concluída, com base em levantamento realizado de novembro de 2013 a maio de 2015, cuja análise resultou em artigo de sua autoria e da mestranda Jeocasta Martins (UFMG), que trabalhou na coleta dos dados.

Outra abordagem

Segundo a professora, a pesquisa em História da África não se confunde com a tradicional área que investiga temas relacionados com a diáspora africana, como escravidão, abolição, racismo ou manifestações culturais afro-brasileiras. “A primeira geração de pesquisadores brasileiros é originária dos estudos sobre a diáspora, mas a segunda focaliza a África em seus estudos”, esclarece a professora, que participa da coordenação do GT Nacional de História da África da Anpuh e foi indicada pelo Ministério da Educação para integrar o Comitê Científico que elabora o nono volume da História Geral da África (HGA).  

Embora haja os que considerem todos esses temas – incluindo os relativos a aspectos da escravidão no Brasil Colônia e Império – como estudos africanos, Vanicléia pondera que pensar assim “seria restringir muito a história de um continente”. Até porque, como destaca a professora, dos 57 países africanos contabilizados na atual divisão geopolítica do continente, menos de dez estiveram ligados à diáspora.

Ela comenta que a História da África começou a ser institucionalizada, como disciplina, na Inglaterra, em 1947, período em que os pesquisadores europeus desenvolveram estudos de campo e introduziram o tema nas próprias escolas africanas. Nos Estados Unidos, apesar da resistência provocada pela segregação racial, o tema se desenvolveu a partir das décadas de 1950, e hoje há no país departamentos e centros de estudos que se dedicam especificamente à História da África.

“Na América Latina, como é o caso do Brasil, sempre houve mais interesse pela história do afro, da herança cultural, nunca pela África”, observa Vanicléia Santos. Em sua opinião, o Brasil “chega tarde, mas está no caminho”. Os primeiros passos nessa direção foram dados com a promulgação da Lei 10.639, de 2003, que instituiu a obrigatoriedade do ensino de História da África nas escolas do país. “Com a demanda das escolas, as universidades passaram a abrir concursos para professores de História da África”, comenta a pesquisadora.

Ela lembra que até 2010, quando entrou para o Departamento de História, na UFMG só existia uma tese nessa linha, defendida por uma aluna angolana, sobre história e literatura africana. “Hoje, temos três novos trabalhos defendidos na Pós-graduação em História, duas teses e três dissertações em andamento, além dos projetos de iniciação científica. A expectativa é de que, dentro de cinco anos, tenhamos mais de oito novas pesquisas concluídas”, prevê.

Diferenças regionais

No levantamento realizado no âmbito do GT que coordena na Anpuh, Vanicléia Santos observou que a pesquisa em História da África cresce de forma desigual nas regiões brasileiras. Enquanto o Sudeste tem hoje 52% dos 168 pesquisadores cadastrados, regiões como o Centro-Oeste e o Norte têm respectivamente 3% e 5% dos pesquisadores. O levantamento também revela que 38 (23%) estão vinculados a universidades do Nordeste e 17 (10%) são do Sul.

“São Paulo e Bahia já tinham pesquisadores nessa área, antes mesmo da Lei 10.63/2003”, comenta Vanicléia Santos. Isso explica por que as regiões Sudeste e Nordeste detêm o maior número de pesquisadores (87) do tema História da África contabilizados no levantamento. Segundo a professora, 18 (21%) atuam em Minas Gerais, 27 (31%), no Rio de Janeiro e 42 (48%), em São Paulo. No Nordeste, o destaque é a Bahia, que tem 21 dos 38 pesquisadores cadastrados.