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Nº 1920 - Ano 42
16.11.2015

Deu no ufmg.br

Refúgio para a liberdade de criar

UFMG estrutura programa para receber escritores e artistas perseguidos

A UFMG está estruturando, com a International Cities of Refuge Network (Icorn), o Programa de Artista Residente e deverá receber, já no segundo semestre de 2016, um artista estrangeiro refugiado, provavelmente, um escritor.

O anúncio foi feito durante a abertura do 2º Encontro UFMG-Icorn: a escrita, o exílio, a casa, realizado no último dia 9, no auditório do Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD 2). A Icorn é uma organização independente que colabora com cidades e entidades na oferta de abrigo a escritores e artistas em risco. A UFMG é a primeira instituição da América Latina a integrar a rede e a estabelecer parceria para acolhida a artistas refugiados. A iniciativa está sendo empreendida em parceria com as Casas Brasileiras de Refúgio (Cabra), braço da Icorn no Brasil.

Na abertura do evento, a vice-reitora Sandra Goulart Almeida adiantou que está sendo providenciado acordo de cooperação com a Icorn, que deverá viabilizar, já em 2016, a vinda de um escritor estrangeiro para uma residência artística na UFMG. "A nossa ideia é oferecer uma bolsa de residente para esse escritor. Em contrapartida, ele poderia ministrar palestras, participar de eventos, realizar atividades culturais e didáticas na Universidade", sugeriu.

Atribui-se a Shakespeare o aforismo que demarca o particular poder da palavra em tempos de conflitos: a escrita como um instrumento de mudança mais poderoso que a força física. Não por outro motivo, Elizabeth Dyvik, responsável pelo programa de residência da Icorn, afirmou que os escritores e artistas são as primeiras pessoas perseguidas em um país que entra em uma fase repressiva. "O trabalho do escritor, do poeta, é explorar a condição humana e discutir coisas que não se discutem abertamente, os tabus. Por isso, a primeira coisa que se faz é tentar silenciá-los", disse.

Dyvik se reuniu com Leda Maria Martins, diretora de Ação Cultural, e Miriam Jorge, diretora-adjunta de Relações Internacionais, na primeira mesa do evento, para conversar sobre liberdade de expressão, apresentar um panorama do trabalho da Icorn e discutir possibilidades de oferta de residência a refugiados.

Leda Martins disse que, em arte, o silêncio se faz presente de diversas formas, mas é preciso estar atento à particularidade do silêncio que recai sobre esses artistas. "Não é o silêncio da pausa poética, não é o silêncio do intervalo musical, não é o silêncio dos hiatos nas luminosidades da pintura, não é o silêncio que recobre na escultura o desejo da voz", comentou a diretora de Ação Cultural. "Estamos falando do silêncio da opressão, do silêncio que é morte", acrescentou.

Ao fim de sua exposição, a diretora de Ação Cultural destacou que a Universidade deseja se transformar em refúgio para artistas perseguidos. "Aqui, eles encontrarão afeto e compromisso. E mais: encontrarão uma instituição disposta a ser a sua casa, o seu lar", garantiu.

[Versão resumida da matéria publicada no Portal UFMG, seção Notícias da UFMG, no dia 9 de novembro]