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Nº 1920 - Ano 42
16.11.2015

Sonho que vingou

Livro conta a história da Faculdade de Filosofia de Minas Gerais, fundada por professores que desejavam uma formação mais ampla e menos imediatista

A história da criação da Fafi-MG, recuperada em 1988 na dissertação de mestrado de Maria de Lourdes Amaral Haddad, professora aposentada da Faculdade de Educação da UFMG (FaE), acaba de ser transformada no livro Faculdade de Filosofia de Minas Gerais: sementes do espírito universitário. O trabalho resgata a memória da instituição, criada em 1939, que deu origem a várias unidades que hoje compõem a estrutura atual da UFMG, como a Fafich, o Icex, o ICB, o IGC, a FaE e a Fale.

Alguns dos professores do Instituto Guglielmo Marconi, ligado à Casa d’Itália, questionavam o ensino vigente, que consideravam pragmático e imediatista, direcionado exclusivamente para a formação de profissionais liberais, como as faculdades de Medicina, Engenharia, Odontologia e Farmácia. "Sonhavam com uma escola mais aberta, que abrigasse cursos não só da área da Filosofia, como também das Ciências e das Letras, criando um ambiente pluralista e propício à formação cultural e humanista, que estimulasse a criatividade e o desenvolvimento do espírito crítico", conta Maria de Lourdes.

Em 1937, a política educacional de Gustavo Capanema, à frente do Ministério da Educação e da Saúde, padronizou o ensino superior, com o objetivo de torná-lo mais racional e eficiente, iniciativa que refletia uma administração centralizadora e autoritária. O Decreto 1190, de 4 de abril de 1939, criou a Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, modelo para todas as demais.

"No Colégio Marconi, o grupo dos professores que viria a fundar a Fafi-MG, ao estudar a nova legislação, viu a possibilidade de estabelecer uma Faculdade de Filosofia em Belo Horizonte", diz Maria de Lourdes. Ela comenta que, diferentemente do que se poderia esperar, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras não foi criada como parte da Universidade de Minas Gerais (UMG). "Paradoxalmente, apesar de seu caráter integrador, ela nasceu fora da estrutura universitária, como também aconteceria com a Faculdade de Ciências Econômicas e a Escola de Arquitetura."

Além disso, a falta de estrutura física e de recursos financeiros exigidos pela nova lei só foi superada com o apoio da Casa d’Itália, que a abrigou até 1942, ano em que o Brasil tomou partido dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, obrigando a nova faculdade a se reorganizar em busca da sobrevivência.

Em seu texto, Maria de Lourdes Haddad destaca que o chamado Grupo dos Fundadores tinha "energia intelectual e formação humanista" para superar as vinculações ideológicas e as ambiguidades doutrinárias iniciais. Ela enfatiza também que a Faculdade de Filosofia "teve papel predominante no meio cultural e intelectual da cidade, mesmo que isso não tenha sido percebido imediatamente". E exerceu influência muito significativa "na reorientação qualitativa do ensino secundário e na formação de seus próprios quadros", contribuindo para a substituição do caráter amadorístico do ensino secundário e universitário – que até então preponderava – pelo "profissionalismo que implica, pelo menos, qualificação adequada e condições de trabalho definidas".

Livro: Faculdade de Filosofia de Minas Gerais: sementes do espírito universitário
Autora: Maria de Lourdes Amaral Haddad
Edição: BH Press Comunicação
142 páginas / distribuição gratuita