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Planeta Vulcano: realidade ou ficção?

27 de setembro de 2022

 

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Estudamos o sistema solar de diversas formas. Nos dias atuais somos auxiliados por telescópios e sondas espaciais, porém no passado a observação a olho nu era nosso único instrumento. Por meio dela Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno são conhecidos desde a antiguidade. Urano só foi descoberto em 1781 com a ajuda de telescópios, já Netuno foi localizado em 1846 a partir de estudos de oscilações na órbita de Urano. Essa história foi contada no texto “Como Netuno foi reconhecido?”, publicado aqui no Blog do Espaço. 

 

Após prever a existência de Netuno a partir da aplicação da teoria da gravitação universal de Isaac Newton no movimento orbital de Urano, o astrônomo Urbain Le Verrier começou a estudar a translação de outro planeta. Assim como Urano, Mercúrio apresenta discrepâncias em sua órbita ao redor do Sol, realizando um movimento de precessão. Com base na compreensão do movimento planetário na época, essa precessão só poderia ser explicada pela tão bem sucedida lei da gravitação de Newton se existisse algum outro corpo celeste desconhecido realizando alguma força gravitacional no planeta. Então surgiu a hipótese da presença de um planeta ainda a ser descoberto, localizado entre Mercúrio e o Sol, que causaria essa anomalia. Afinal foi dessa mesma forma que Le Verrier descobriu Netuno. 

 

Esquema da órbita de Mercúrio, apresentando o movimento de precessão, que leva 225 mil anos para completar uma volta.

 

Assim surgiu Vulcano, um planeta hipotético que estaria causando oscilações na órbita de Mercúrio. Seu nome foi dado em homenagem ao deus romano Vulcano, o deus das forjas, fogo e vulcões, pois se existisse, ele seria o mais próximo do Sol e nada mais apropriado do que nomeá-lo com o nome do deus do fogo. 

 

Gravura do deus Vulcano (Holland,1592)

 

Pouco depois de Le Verrier propor a existência de Vulcano, astrônomos amadores e profissionais tentaram achar o planeta, que só poderia ser observado durante um eclipse solar, devido a sua proximidade com a nossa estrela. Em 1859, o astrônomo amador Edmonde Lescarbault chegou a afirmar ter encontrado Vulcano e Le Verrier se convenceu de que era real. Assim, mais e mais astrônomos começaram a procurar o novo planeta, pois de acordo com o conhecimento científico da época, era a única explicação possível para a órbita de Mercúrio.

 

Porém, mesmo com tanta procura por vários anos, não foi encontrada nenhuma prova definitiva da existência dele. E foi exatamente com um eclipse solar em 1919 que uma nova teoria seria comprovada e explicaria a perturbação na órbita  de Mercúrio, acabando de vez com a hipótese de Vulcano. A teoria da relatividade geral de Einstein propôs uma nova forma de interpretar a gravidade: ela é resultado do espaço-tempo se curvando na presença de objetos massivos, como estrelas e planetas. Os planetas orbitam o Sol, porque a massa de nossa estrela deforma o espaço-tempo. Dessa forma, a teoria da relatividade geral elimina a gravidade como algum tipo de força natural, como considerada pela teoria de Newton, descartando a necessidade da existência de Vulcano. 

 

Assim, descobriu-se que as oscilações na órbita de Mercúrio não são causadas por outro planeta, mas sim pela curvatura que o próprio Sol gera no espaço-tempo ao seu redor. E Vulcano passou a existir somente na ficção científica anos mais tarde, como o planeta do personagem Spock, da série Jornada nas Estrelas.

 

[Texto de autoria de Victória Bertoldo Rocha, estagiária do Núcleo de Astronomia]

 

Referências: 

A Caça ao Vulcano, o Planeta Que Não Estava Lá

7 datas importantes na história de Mercúrio

Por que Star Trek & Doctor Who têm planetas chamados Vulcano?

Aqui está como Albert Einstein destruiu o mito do planeta Vulcano

Para saber mais: 

Como Netuno foi reconhecido?  

Movimentos Orbitais

Descobrindo o Céu | O que é a gravidade? 

Descobrindo o Céu | A Deformação do Espaço-Tempo