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A história do maior telescópio espacial já criado

23 de agosto de 2022

 

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Na chuvosa manhã de Natal de 2021, por volta das 07:20, logo ao norte do nosso país, no Centro Espacial da Guiana, o Telescópio Espacial James Webb encontrava-se no topo de um foguete Ariane 5 da Agência Espacial Europeia, pronto para ser lançado ao seu lugar no espaço, e começar sua missão de revelar o universo como a humanidade nunca antes havia visto.

 

E, em agosto de 2022, o Telescópio Espacial James Webb (JWST) não apenas tem cumprido sua função com êxito, como também vem encantando os amantes de astronomia de todo o globo com as imagens que registrou, entre elas inclusive, a fotografia mais profunda dos cosmos.

 

Nós do Espaço do Conhecimento UFMG já tratamos sobre o Telescópio James Webb anteriormente nas lives da Descobrindo o Céu, onde foi explicado o funcionamento deste, a importância de seu design e os objetivos que se esperam alcançar. Contudo, no texto a seguir, pretendemos contar a história de como o JWST, um dos maiores projetos da engenharia contemporânea, veio à existência, começando desde a sua concepção através de seu conturbado período de desenvolvimento, passando pela linha de sucessivos atrasos que quase condenaram o projeto ao cancelamento e concluindo com o seu glorioso lançamento.

 

A aparelhagem óptica completa do Telescópio James Webb em exposição, 2017. (Créditos: NASA) 

 

Antes de de fato começarmos, nos cabe ressaltar  a origem lamentável do nome do telescópio, que surgiu como uma tentativa de homenagem a um antigo diretor da NASA, que não deve ser lembrado com glórias. Hoje sabemos que a figura em questão esteve envolvida em inúmeros casos de discriminação, desrespeito e perseguição à pessoas LGBTQIA+. Mesmo após movimentos nas redes sociais e abaixo-assinados da comunidade científica e entusiasta, a NASA não mudou o nome de seu maior telescópio. É importante, portanto, que nós nos lembremos do projeto pelos seus feitos, pelas fotos e descobertas que ajudarão a vasta humanidade a chegar mais longe do que nunca e a descobrir nosso lugar em meio às estrelas, e não pelo homem que inspirou seu nome. 

 

A Jornada

Esta história começa em 1989, quando a NASA, em parceria com diversos institutos de pesquisa em astronomia, realizou um congresso para discutir qual seria o próximo telescópio espacial após o Hubble (este que ainda só seria lançado no ano seguinte), e desta reunião surgiam duas principais propostas: a primeira era a construção de um espelho na superfície lunar, feito para estudar principalmente galáxias distantes, e a segunda era a criação de um telescópio infravermelho, que permitiria à humanidade enxergar através da poeira e dos gases que limitam nossa visão dos cosmos, e em 1996, a segunda opção foi escolhida para ser realizada.

 

Em 1999 foram comissionados pela agência norte-americana múltiplos estudos sobre a viabilidade do projeto e os fundos que seriam necessários. As primeiras pesquisas concluíram que o projeto estaria pronto em 2007, custando aproximadamente 1 bilhão de dólares, mas estas previsões se provaram extremamente otimistas, sendo que cada estudo subsequente, adiou a data de lançamento prevista em alguns anos, assim como tornava clara a necessidade de mais fundos.

 

No ano de 2003, a construção do telescópio foi formalmente iniciada, sendo que no ano seguinte a Agência Espacial Europeia optou por contribuir para o financiamento  e desenvolvimento do JWST, com a Agência Espacial Canadense fazendo o mesmo em 2007.

 

Entretanto, ao final da primeira década do século XXI, apesar de apresentar um bom desenvolvimento em questões de design e tecnologia, o telescópio era um desastre político e econômico, uma vez que as novas projeções colocavam a data de lançamento prevista para mais de uma década depois da original, e um custo previsto 8 vezes maior do que o imaginado inicialmente. Com isso, o congresso estadunidense se reuniu em 2011 para cancelar o projeto, e a moção foi aprovada em uma votação preliminar, mas pelo apelo de diversas organizações ligadas à  astronomia e da imprensa internacional, o projeto foi revitalizado, com os custos limitados a 8 bilhões de dólares.

 

Os anos seguintes seguiram sem muitos problemas. Os espelhos primários do telescópio, feitos de berílio e cobertos por uma fina camada de ouro foram montados. As câmeras para o registro das imagens se encontravam já bem desenvolvidas, e o apoio público pelo JWST estava em alta. Tudo parecia indicar que o lançamento seria concluído antes que a década passada fosse completada, mas, em 2018, a camada de tecido, feita para proteger o telescópio do calor escaldante do Sol, se rompeu durante um teste. Uma falha crítica, uma vez que sem esta proteção, todo o projeto estava fadado ao fracasso. E assim mais dois anos foram adicionados ao prazo estimado de conclusão, com a nova data sendo 2020, o ano em que a pandemia da Covid-19 atingiu o mundo. Em seu último dia na Terra, o James Webb havia custado quase 10 bilhões de dólares para ser concluído. 

 

Se o tremendo apoio e a repercussão popular que o telescópio vem recebido nos últimos meses são indicação de algo, entendemos que, independente dos atrasos e do alto custo, a sua possibilidade de conseguir enxergar fontes de luz tão distantes, a ponto de serem quase da mesma idade do universo, vale a pena.

 

Foguete Ariane 5 em voo transportando o JWST (Créditos: NASA, Bill Ingalls)

 

Como disse o próprio narrador do lançamento em 25 de Dezembro de 2021: “de uma floresta tropical, para o limite do próprio tempo, o James Webb inicia uma viagem em direção ao nascimento do universo”.

 

E, se você quiser continuar acompanhando as noticias deste telescópio, fique de olho aqui no Blog do Espaço, além de também dar uma olhada no site oficial do JWST!

 

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