Expografia e Fotografia na exposição “Olhares Metropolitanos” – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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Expografia e Fotografia na exposição “Olhares Metropolitanos”

Uma imersão no universo fotográfico e na concepção expográfica

 

03 de junho de 2025

 

Por Thiago de Paula Silva,

bolsista do Núcleo de Expografia do Espaço do Conhecimento UFMG

 

A exposição “Olhares Metropolitanos”, inaugurada no dia 14 de dezembro de 2024, convidou o público a conhecer a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) por meio de 16 registros fotográficos capturados por pessoas moradoras dos 34 municípios integrantes deste território. A exibição surgiu como desdobramento da exposição “MetropoliTRAMAS” e do concurso “Olhares Metropolitanos”.

 

Realizado em abril de 2024, o concurso incentivou a população a compartilhar suas visões pessoais e únicas da RMBH por meio de fotografias. Ao longo das discussões internas no museu, surgiu, então, a ideia de utilizar as imagens vencedoras do concurso em uma nova exposição de curta duração. Esse foi o ponto de partida para a concepção da mostra  “Olhares Metropolitanos”.

 

A fotografia na conceituação expográfica 

Como você imagina uma exposição de fotos? Talvez a primeira visualidade a aflorar na imaginação seja várias fotografias emolduradas e fixadas em painéis, algo muito comum nos museus. Desde o princípio, a ideia para a exposição “Olhares Metropolitanos” era fugir desse modelo expositivo tradicional. Por isso, surgiram discussões sobre como valorizar a experiência do público a fim de trazer uma imersão no universo da fotografia. 

 

O ato de fotografar já traz em si uma interação entre o indivíduo e o objeto capturador. Porém, ao longo do tempo, a evolução das câmeras suavizou cada vez mais essa relação. No início da fotografia, havia um envolvimento corporal maior, as câmeras eram grandes e complexas, o fotógrafo precisava se posicionar cuidadosamente e às vezes por períodos prolongados para registrar fotos de longa exposição. Era um ato performático: se curvar, fechar um dos olhos e observar através do visor ocular da câmera para enquadrar e capturar uma visualidade. O resultado também não era instantâneo, as pessoas tinham que esperar para ver as fotos reveladas, que muitas vezes passavam pela sala escura. Um objeto resgatado ao longo das conversas entre a equipe de expografia foi o monóculo, muito popular entre 1930 e 1970, com seu formato trapezoidal e uma lente de aumento em uma das extremidades, para visualizar a fotografia posicionada no fundo.

 

Personagens do filme “Central do Brasil” olhando foto em um monóculo. 

(Créditos: Cena de Central do Brasil, 1998).

 

A partir de 1990, as câmeras digitais começaram a se popularizar, assim como os smartphones. As pessoas passaram a não olhar por um visor ocular para observar a imagem, que podia ser vista através de uma tela, além de não precisarem mais esperar para ver a foto revelada. Em um clique já era possível visualizá-la na galeria. 

 

Essas reflexões sobre o universo da fotografia foram essenciais para a concepção do desenho expográfico, na medida em que evocaram um sentimento nostálgico, relembrando a interação e relação com a fotografia que vem se modificando cada vez mais ao longo do tempo.

 

Desenho Expográfico

Talvez olhar as fotos apenas emolduradas em painéis seria quase como olhar várias fotografias em uma galeria do telefone. Por isso, resolveu-se recuperar a interação corpórea das pessoas com as câmeras, o ato de enquadrar através de um orifício, o recorte de uma realidade marcante. Assim, tendo como referências as câmeras antigas, o resultado final do desenho expográfico foi uma caixa com duas aberturas circulares, cada uma em um lado oposto. Dentro da caixa há uma placa com duas fotografias, uma de cada lado. Sendo assim, cada abertura revela uma fotografia diferente. Como o interior é escuro, foi necessário instalar uma uma fita de LED internamente, para iluminar as fotos.

Detalhamento das caixas

(Créditos: Núcleo de Expografia do Espaço do Conhecimento UFMG).

 

O segundo passo foi organizar as caixas espacialmente. O 5° andar do Espaço do Conhecimento UFMG possui um amplo hall, com o pé direito elevado e uma ótima iluminação natural. Havia a possibilidade de criar suportes no chão como mesas, pedestais, suporte de painéis, etc. Porém, o teto do andar possui vigas metálicas aparentes, o que permitiu a fixação de cabos para a suspensão das estruturas, trazendo leveza e desprendimento para a exposição, com as caixas suspensas.

 

Localização da exposição e vigas metálicas do teto. 

(Créditos: Núcleo de Expografia do Espaço do Conhecimento UFMG).

 

Em relação aos materiais e cores, o compensado naval, utilizado também na exposição “MetropoliTRAMAS” nos painéis das instalações, aqui está presente nas caixas fotográficas, nos suporte para os cabos e nos assentos dos bancos. As cores escolhidas também retomam a paleta já utilizada na identidade visual da “MetropoliTRAMAS”, elaborada pelo Núcleo de Comunicação e Design do museu, com os tons preto, verde limão e azul turquesa. Outro material também utilizado foi o acrílico para as legendas das fotos. Sendo assim, buscou-se uma conexão entre essas duas mostras.

Cores e materialidade da exposição.

(Créditos: Núcleo de Expografia do Espaço do Conhecimento UFMG).

 

Na base das caixas foi feito um sistema de contravento para impedir que elas girem. Há banquinhos para que as crianças possam subir e conseguir enxergar pelas aberturas das caixas ou para que as pessoas possam se sentar para fazer o mesmo. Como complemento poético, Fernando Silva, um dos curadores da exposição e assessor do Núcleo de Comunicação e Design do Espaço do Conhecimento UFMG, escreveu versos com referências aos títulos das 16 fotografias expostas, transcritos em plaquinhas que remetem às placas de sinalização utilizadas nas cidades.

Isométrica da exposição. 

(Créditos: Núcleo de Expografia do Espaço do Conhecimento UFMG).

 

É interessante observar que, nessa exposição, o público não recebe de imediato o conteúdo exposto, o que ocorreria se as fotos estivessem apenas dispostas em uma parede. Aqui, é despertado um interesse nas pessoas de descobrirem o que está dentro das caixas, seguida pela surpresa de ver a fotografia revelada aos olhos. E você? Não ficou curioso para descobrir?

 

Foto geral da exposição “Olhares Metropolitanos”. (Créditos: Júlia Lobato).

 

Referências

O que é monóculo? 

Quando se iniciou a era da câmera digital?