Reformado e revitalizado em 2010, o edifício da década de 60 é hoje um dos principais espaços de cultura e ciência de Minas Gerais
Por Clara Braga e Gabriela Sorice
Em agosto, o Governo de Minas Gerais promove o Mês do Patrimônio Cultural 2020, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e da Rede Minas, em parceria com a associação cultural APPA Arte e Cultura. A programação, composta por filmes, lançamentos de publicações, exposições virtuais e lives, é dedicada à celebração do Dia Nacional do Patrimônio Histórico, comemorado em 17 de agosto. A data homenageia o nascimento de Rodrigo Melo Franco de Andrade, mineiro que foi o pioneiro na formulação e implementação da política pública de reconhecimento da diversidade cultural em nosso país. As atividades do Mês do Patrimônio Cultural 2020 acontecem nos sites e nas redes sociais do IEPHA-MG, Secult, Circuito Liberdade e Rede Minas.
Todos os espaços culturais que integram o Circuito Liberdade, em Belo Horizonte, participam desta iniciativa, apresentando ao público, em suas redes sociais, as especificidades de cada edifício. Nesta matéria, contaremos a história do Espaço do Conhecimento UFMG, que comemora 10 anos de fundação em 2020. Acompanhe também as redes sociais do Espaço, ao longo dessa semana, onde falaremos um pouco mais do icônico prédio azul situado no coração da Praça da Liberdade.
O Espaço do Conhecimento UFMG foi inaugurado em 21 de março de 2010, sendo o primeiro prédio a compor oficialmente o Circuito Cultural Praça da Liberdade, hoje Circuito Liberdade. Espaço e Circuito celebram juntos, portanto, uma década de história em 2020.
O Circuito foi criado após a inauguração da Cidade Administrativa e a transferência oficial das secretarias de estado e do Palácio da Liberdade, sede e o símbolo do governo, para a região norte de Belo Horizonte. As instalações do governo do Estado situavam-se na Praça da Liberdade desde 1898, sendo a Praça, desde então, sede do poder político estadual, um dos principais cartões postais da cidade e palco de importantes acontecimentos que marcaram a história de Minas Gerais e do Brasil.
A proposta do Circuito foi reunir, na Praça e em seu entorno, espaços culturais diversos, a partir de parcerias com instituições públicas e privadas. A vocação cultural da região, que já abrigava o Arquivo Público Mineiro, a Biblioteca Pública Estadual, o Museu Mineiro e o prédio da Rainha da Sucata, e foi o local, por muitos anos, de realização da Feira Hippie, foi então reforçada com a criação de novos museus e espaços de cultura e formação, que passaram a ocupar os edifícios das antigas secretarias de governo.
Em 2015, o Circuito passou a ser gerido pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG) e, desde então, vem buscando uma maior articulação com o espaço urbano e os diversos grupos artísticos e populares, consolidando-se como um braço forte da política pública de cultura do governo estadual.
O projeto passou por um processo de ampliação do seu perímetro de atuação, considerando os eixos da Avenida João Pinheiro e da Rua da Bahia, o que foi traduzido em seu novo nome: Circuito Liberdade. Nesse novo arranjo, novos equipamentos passaram a fazer parte do complexo, com a composição de uma agenda integrada aos outros espaços já existentes.
Praça da Liberdade em 1935
Milhares de pessoas participaram, na noite de 21 de março de 2010, um agradável domingo, da inauguração do Espaço do Conhecimento UFMG, na época Espaço TIM UFMG do Conhecimento, primeiro prédio a integrar o Circuito Cultural Praça da Liberdade. A cerimônia contou com shows de Milton Nascimento e Lô Borges, com a participação de outros importantes artistas mineiros, como Fernanda Takai, Rogério Flausino e Telo Borges, além da presença do então governador do Estado, Aécio Neves, e do reitor da UFMG em 2010, Ronaldo Pena.
Na entrevista realizada pela equipe de imprensa da UFMG, durante o evento de inauguração, o reitor Ronaldo Pena afirmou que a atuação da universidade deveria ultrapassar a sala de aula para levar conhecimento ao maior número possível de pessoas: “O direito ao conhecimento é uma premissa da democracia. É gratificante para a UFMG trabalhar em parceria com o Governo de Minas nesse notável centro para a transmissão de conhecimento”. Já o governador do Estado destacou: “Vamos ter aqui, o mais importante circuito cultural do Brasil. O mundo vai vir aqui, o Brasil vai vir aqui e os mineiros vão, no dia a dia, usufruir disso”.
De fato, em 10 anos de história, mais de 350 mil pessoas já visitaram o Espaço do Conhecimento UFMG que, desde 2017, é patrocinado pelo Instituto Unimed-BH, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura. No âmbito da UFMG, o Espaço integra o conjunto de espaços culturais e atividades da Diretoria de Ação Cultural (DAC).
Inauguração do Espaço do Conhecimento UFMG – 21/03/10
O prédio do Espaço do Conhecimento UFMG apresenta-se singular em relação a seus vizinhos. Rodeado por construções que remontam ao Ecletismo do final do século XIX, o atual ambiente do Espaço foi projetado em 2010, com o objetivo de inserir formas e materiais atuais, de maneira a marcar a contemporaneidade no conjunto da Praça da Liberdade.
O edifício original, localizado no número 700 da Praça da Liberdade, foi construído no ano de 1961, a partir de um projeto do arquiteto Galileu Reis, como um anexo da Secretaria de Estado da Educação. Em 1993, passou a abrigar a Reitoria da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). Ao seu redor, além da sede do Governo do Estado – o conhecido Palácio da Liberdade -, enguiam-se uma série de prédios oficiais datados da inauguração da cidade.
Foto do prédio antes da reforma, quando ainda sediava a reitoria da UEMG
Para abrigar o novo uso e atender às demandas de acesso, circulação, acessibilidade e segurança, o prédio passou por várias alterações. Ao longo da fachada lateral direita, foi criado um núcleo rígido, que comporta toda a estrutura de circulação e a área não expositiva. Assim, os andares ficaram mais amplos e livres para receber novos usos. Para revestir essa construção foram utilizadas chapas moduladas em aço SAC patinado, o mesmo material que envolve parte do prédio vizinho, conhecido como Rainha da Sucata, que foi pioneiro neste revestimento ainda nos anos 80, sob orientação do escultor Amílcar de Castro.
A construção foi realizada a partir da parceria entre o Estado de Minas Gerais, a Universidade Federal de Minas Gerais e a TIM, empresa de telefonia. A revitalização completa do local, que possui 2.500 m2, levou cerca de 9 meses, a partir do projeto de Jô Vasconcellos. A museografia do Espaço foi concebida pelo artista plástico Paulo Schmidt e a museologia é da UFMG.
A estrutura do edifício onde fica o Espaço do Conhecimento UFMG é constituída por cinco pavimentos, que comportam, além das áreas de exposições temáticas, banheiros, elevadores, escadas, salas de administração, uma livraria e um café. O quinto e último andar abriga um Planetário de última geração, o primeiro de Minas Gerais. O local possui aparelhagem avançada e um sistema de projeção digital com tela 360º. Sua cúpula, de 8,5 metros de diâmetro, permite transformar o ambiente em um espaço multimídia e possibilita observar o céu como se estivesse sendo visto de qualquer local do planeta e em qualquer tempo, presente, passado e futuro. Além das imagens do céu, são projetados no domo vídeos com conteúdos diversos.
Além do Planetário, no último andar também foi construído o Terraço Astronômico, que funciona a partir de um teto retrátil que permite a utilização de telescópios e de instrumentos para a observação celeste.
A fachada do prédio também foi totalmente reformulada. Revestida com um material vítreo especial, a parte externa do edifício foi pensada para ser também uma grande tela de projeção: de 16 por 9 metros – o que corresponde a 361 polegadas. Um sistema composto de 12 projetores multimídia, a Fachada Digital, permite a exibição de vídeos e filmes com alta definição, possibilitando a interatividade entre o edifício e a população, transportando os conteúdos científicos e culturais expostos no interior para o exterior do Espaço, por meio de imagens, filmes e atividades interativas. O vidro também garante baixa absorção de calor e nenhum reflexo da paisagem externa.
O Espaço do Conhecimento UFMG foi criado como um espaço cultural diferenciado, que conjuga cultura, ciência e arte. Sua missão não se limita à difusão do conhecimento científico, mas também ao encontro de saberes acadêmicos e tradicionais, trabalhando no sentido de propor linguagens que combinam, inovam e fruem conteúdos, de forma lúdica.
Física, filosofia, antropologia, arqueologia, biologia, literatura, linguística e ecologia são algumas áreas do conhecimento que se tornaram mais acessíveis à população. Além do Planetário e do Terraço Astronômico, o Espaço abriga ainda três andares de exposições e é palco de oficinas e palestras voltadas para públicos diversos (crianças, jovens, adultos e idosos, com destaque para a comunidade escolar e o público surdo, ao qual se destinam atividades em Libras).
A exposição de longa duração Demasiado Humano, em cartaz desde a inauguração do prédio, apresenta ao público o resultado de diversas pesquisas desenvolvidas na UFMG, em áreas como a astrofísica, paleontologia, genética, arqueologia, antropologia, literatura, linguística, história e ecologia. A exposição mostra o surgimento do Homem, desde o Big Bang até o primeiro registro da presença humana na Terra e na América Latina, explora a dimensão simbólica e social da humanidade e fala das nossas relações com o planeta.
Diversas exposições temporárias com os mais diferentes temas e curadorias foram lançadas nesses 10 anos, sendo a atual a Mundos Indígenas, uma exposição singular que contou com curadoria dos próprios indígenas. A mostra foi inaugurada em dezembro de 2019 e teve o seu período de realização estendido até julho de 2021. Neste segundo semestre, será aberta a Universidade Cidade, que apresentará uma proposta inédita de integração de conteúdos em espaços da cidade e nas redes sociais.
Os mediadores do Espaço do Conhecimento, todos eles estudantes de graduação da UFMG, apresentam a instituição ao público, comunicando, por meio de linguagem visual e espacial, a produção realizada em sessões no Planetário, na observação do céu e nas exposições de curta e longa duração. Devido à pandemia de Covid-19, que levou ao fechamento dos espaços culturais, desde março de 2020, a equipe do museu está empenhada na promoção de atividades interativas nas redes sociais e na produção de vídeos das exposições em cartaz, para propiciar ao público uma experiência de visita virtual. Os vídeos da exposição Mundos Indígenas serão divulgados no mês de setembro deste ano.
E você? Já visitou o Espaço do Conhecimento UFMG? Conheça mais sobre o prédio em nosso vídeo institucional e siga o Espaço nas redes sociais!
Facebook: facebook.com/espacodoconhecimentoufmg
Twitter: twitter.com/espacoufmg
Instagram: instagram.com/espacoufmg
Podcast Pílulas do Conhecimento: https://open.spotify.com/show/4Yz02N3TBuQxVJP8Sv9Nsz
YouTube: https://www.youtube.com/user/espacoufmg
Ficha técnica da reforma do prédio (2009-2010):
Projeto de arquitetura: Jô Vasconcellos
Cálculo estrutural: Bedê Consultoria e Projetos
Projeto instalações: Klecius Rangel
Execução da obra: Networker – Engenharia e Construção
Museologia: Universidade Federal de Minas Gerais
Museografia: Paulo Schmidt
Coordenação: Myssior Gestão de Projetos
Acústica: Marco Antonio Vecci
Esquadrias: BM Consultoria em Esquadrias
Áudio e Vídeo /Automação: Iluminar
Vidros: Cebrace – Tempervidros