¡MIRA! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos Indígenas – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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De setembro a janeiro de 2014, o Espaço do Conhecimento UFMG recebeu a exposição ¡MIRA! Artes Visuais Contemporâneas dos Povos Indígenas, que reúne 84 trabalhos de 50 artistas indígenas do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Inaugurada em 2013 no Centro Cultural UFMG, ¡Mira! traz expressões artísticas variadas, como telas e esculturas, além de vídeos que contam a história da concepção das obras, propondo uma nova leitura. A mostra é resultado das pesquisas do núcleo Literaterras e de realização do Espaço do Conhecimento e da Diretoria de Ação Cultural (DAC) da UFMG. 

Pensar a construção do conhecimento a partir de outras perspectivas culturais é uma das propostas da exposição. A professora Leda Martins, Diretora da DAC, enfatiza a importância da inclusão dos diversos olhares dos povos indígenas na produção cultural contemporânea.

“A bela exposição ¡Mira! é parte das ações contínuas da UFMG na afirmação e inclusão dos indígenas em inúmeros projetos culturais, assim como em programas de ensino, extensão e pesquisa. A exposição se destaca por sua importância, originalidade e valor estético, e essa relevância é também evidenciada pela sua repercussão nacional e internacional, assim como pelos inúmeros convites que tem recebido para circulação por países da América Latina. ¡Mira! nos permite realçar a urgência em incorporarmos os olhares, pensamentos e práticas dos povos indígenas aos circuitos de produção de conhecimentos acadêmicos, contribuindo efetivamente para a visibilidade e valorização que há muito merecem”, destaca.

Para Maria Inês de Almeida, curadora da exposição, ¡Mira! traz um olhar contemporâneo sobre as obras dos artistas indígenas que, embora tratem de temas ligados às suas respectivas culturas, não podem ser classificadas simplesmente como arte indígena. “É um olhar sobre a obra, uma inserção dessa produção no cenário artístico contemporâneo. A partir delas o público terá acesso ao pensamento dessas populações sobre questões como guerras, espiritualidade e violência”, diz.

A curadora acrescenta que, para os povos indígenas, a ideia de produção da arte só surge a partir do contato com o mundo globalizado. “Porque, antes, na cultura destes povos, a arte e a vida eram uma coisa só, não havia essa separação. Ao mesmo tempo, o olhar indígena está impresso em cada uma das obras, uma vez que são trabalhos que demonstram a integração dos artistas às suas raízes culturais”.

O diretor científico-cultural do Espaço do Conhecimento UFMG à época, René Lommez Gomes, corrobora esse raciocínio em relação à natureza identitária dos trabalhos que integram a exposição e reflete sobre o processo de construção desta. “É preciso entender que a ideia principal era fazer um mapeamento da produção artística indígena. Durante o processo, quando vieram informações sobre quem são esses artistas e como eles produziam seus trabalhos, algumas ideias pré-concebidas foram descartadas, a exemplo do conceito de que a arte indígena é uma ‘retomada de tradição’. É um aspecto presente, claro, mas o mais importante é essa desconstrução que ela provoca, trazendo à tona a ideia de que esses indígenas não são ‘povos parados no tempo e isolados no mundo’. Eles são pessoas que mantêm identidades indígenas, mas vivem no mundo contemporâneo”, reforça.

René Lommez acrescenta ainda que o universo dos artistas que integram a mostra é complexo, e essa tradução está entre os desafios da mostra. “Alguns deles ainda vivem em aldeias, nas suas comunidades, e outros já estão completamente inseridos no universo urbano, inclusive com formação universitária. Há alguma conexão com a tradição e as questões indígenas atuais, mas não é uma característica predominante e nem tão visível. Então, ¡Mira! contribui para a queda desses estereótipos”, diz.

 

Nova abordagem
Como se trata de uma exposição que já percorreu espaços como o Centro Cultural UFMG, a Casa da Cultura da América Latina da UnB e o Museu Nacional dos Correios, os dois últimos em Brasília, o retorno à capital mineira trouxe também uma nova abordagem da mostra.

“¡Mira! é uma exposição fluida, que se adapta aos locais onde é recebida e, no Espaço do Conhecimento UFMG, ela terá um enfoque maior na construção dos saberes a partir do olhar dos artistas que registram suas visões de mundo. Quando foi inaugurada no Centro Cultural UFMG, o foco era a história dos povos indígenas; desta vez, ela está mais centrada nas diversas formas de tradução do universo indígena para o mundo contemporâneo”, explica Maria Inês.

René Lommez fala da leitura feita pelo museu a partir da trajetória da exposição: “¡Mira! vir para o Espaço agora é muito significativo. Como se trata de uma remontagem da exposição de 2013, não vamos simplesmente fazer a mesma exposição. O objetivo é tentar refletir um pouco sobre as novas questões que apareceram e sobre a própria circulação da exposição, e tentar dar um enfoque maior no processo de construção dessas obras. Além de expô-las queremos mostrar quem são os artistas, o que e como eles produzem”, enfatiza.

 

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