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Com abordagem acessível a leigos, professor do Departamento de Física explica relatividade do tempo e do movimento

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016, às 21h17

De Galileu, o primeiro a medir o tempo, à física quântica e às quase aporias que a disciplina apresenta aos pesquisadores do assunto, assim como os principais estudiosos que fizeram avançar a reflexão na área, como Newton e Einstein. Essa foi a abordagem do professor Sebastião de Pádua, do Departamento de Física, que, em uma hora, traçou panorama sobre o tempo na perspectiva da física, no primeiro dia do Ciclo de Palestras da 10ª edição do Festival de Verão da UFMG.

A abordagem de Sebastião de Pádua instigou os participantes a considerarem o caráter relativo do tempo. Partindo da reflexão sobre as relações entre tempo e movimento e da ideia de que, em movimento, o tempo corre mais lentamente, o professor se valeu de exemplos ficcionais para ilustrar as suas reflexões.

Ele contou, por exemplo, uma história sobre o paradoxo dos gêmeos. “Suponha um casal de gêmeos, Maria e Franklin, e que Maria viaje para muitos anos-luz longe da Terra, para então retornar e reencontrar o irmão”, disse. “Para Franklin, na medida em que Maria viaja pelo espaço a uma grande velocidade, o tempo dela precisa andar mais lentamente, de forma que, quando voltar, ela deverá ser mais jovem que ele.”

“O problema é que, na perspectiva de Maria, levando-se em conta a teoria da relatividade, pode-se considerar que quem está se movendo é Franklin e a Terra. Assim, para Maria, quando os dois se reencontrassem, seria Franklin a estar mais jovem, e não ela, já que o ‘relógio’ dele é que teria andado mais lento”, problematiza.

O professor também recorreu a situações em que o cinema se valeu dessa premissa da física para criar seus enredos, como no clássico O planeta dos macacos, de 1968, filme em que um astronauta viaja para fora da Terra e, ao voltar, encontra o planeta algumas gerações à frente daquela de quando partiu. A premissa do paradoxo dos gêmeos é a mesma.

Diferentemente dos novos paradoxos da física quântica, que estabeleceram o que o professor denominou de princípio de incerteza (espécie de aceitação de limites quanto à possibilidade de se medir grandezas como tempo e movimento com precisão), o paradoxo dos irmãos gêmeos, estabelecido no contexto da física tradicional, já tem solução.

Sebastião de Pádua explicou que Maria é que envelheceria menos que o irmão. "O relógio de Franklin se mantém em um mesmo sistema inercial durante toda a ‘viagem’, ao contrário do relógio de Maria, que precisa desacelerar para retornar à Terra. Ela abandona o seu sistema inercial original e retorna para outro, completamente diferente. Nesse contexto, o argumento de Maria não é mais válido", explicou.

Entre um exemplo e outro, o professor aprofundou a reflexão sobre a relatividade, explicando que a própria ideia de movimento só é possível em função da ideia de tempo e que, nesse contexto, o movimento é relativo: depende do referencial. “Entre um ônibus e a Terra, é relativo quem está com velocidade zero. Tanto se pode dizer que o ônibus está se movendo em relação à Terra quanto se pode dizer que a Terra está se movendo em relação ao ônibus”, explicou. Nesse contexto, explicou o professor, até a ideia de simultaneidade passa a ser relativa.

Na sequência, Marcella Guimarães Assis, professora do Departamento de Terapia Ocupacional da UFMG, falou sobre o conceito de envelhecimento em relação às ideias de tempo e memória.

O Ciclo de Palestras do Festival de Verão prossegue nesta terça, 2, e quarta-feira, 3, no miniauditório do Conservatório. Serão duas palestras por dia, em sequência, das 10h às 12h. O Conservatório UFMG fica na Avenida Afonso Pena, 1.534, Centro. Não é necessário fazer inscrição prévia: a participação é livre, sujeita à lotação do espaço.

Ao fim das palestras, Marcella e Sebastião se reuniram no auditório para responder às perguntas da plateia

Fonte: Agência de Notícias UFMG