Período da Residência: 01/03/2009 a 28/02/2010
Professora Maria Esther Maciel de Oliveira Borges é professora associada de Teoria da Literatura e Literatura Comparada da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui mestrado em Literatura Brasileira pela UFMG (1990), doutorado em Literatura Comparada pela mesma instituição (1995) e pós-doutorado em Cinema pela University of London (1999/2000). Integra o projeto internacional Problematizing Global Knowledge -The New Encyclopaedia Project, do Theory, Culture & Society Centre, da Nottingham Trent University (Inglaterra). Suas publicações incluem os seguintes livros: As vertigens da lucidez – poesia e crítica em Octavio Paz; Vôo Transverso – poesia, modernidade e fim do século XX; A memória das coisas ensaios de literatura, cinema e artes plásticas; O cinema enciclopédico de Peter Greenaway (org.), O livro de Zenóbia (ficção), O livro dos nomes (ficção) e O animal escrito (ensaio). Desenvolve, como pesquisadora do CNPq, o projeto Bestiários Contemporâneos – animais na literatura.
ANIMAIS NA LITERATURA: POR UMA ZOOPOÉTICA CONTEMPORÂNEA
Este projeto tem como proposta investigar, sob uma perspectiva transdisciplinar, como os animais têm sido representados ficcionalmente na literatura a partir da segunda metade do século XX, quando não apenas as preocupações globais em torno dos problemas de ordem ecológica como também as reflexões de ordem ética sobre as práticas de assujeitamento e crueldade contra os animais tornaram-se mais prementes no mundo contemporâneo. Pretendo discutir, a partir de uma visão crítica da tradição zooliterária ocidental, as formas como alguns escritores contemporâneos de distintas nacionalidades têm lidado com a chamada “questão dos animais”, criando obras que, longe de serem meras restaurações eruditas do gênero bestiário, afirmam-se como espaços ficcionais de reflexão sobre os aspectos literários, culturais, éticos e políticos relativos ao universo zoológico.
Para tanto, o corpus literário da pesquisa integrará textos selecionados de autores que, de Kafka a J.M.Coetzee, como Clarice Lispector, George Orwell, Antonio Di Benedetto, Ted Hughes e Wilson Bueno, criaram zoopoéticas inovadoras, problematizando ainda – a partir de artifícios poético-ficcionais variados – a complexidade das relações entre o humano e o inumano. A abordagem dos textos literários será feita sobretudo à luz dos apontamentos teóricos sobre a “questão animal” realizados, nas últimas décadas, nos âmbitos da filosofia, da zoologia, da etologia e da ecocrítica, por autores como Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Giorgio Agamben, Dominique Lestel, Armelle Bras-Chopard, Peter Singer e Greg Garrard.
Ao explorar esse tema no campo dos estudos literários, em sua interface com outras disciplinas, espero contribuir para que se efetive, no campo dos estudos brasileiros de Literatura Comparada, um espaço móvel e transdisciplinar de reflexão crítico-teórica sobre a presença de animais na literatura, no qual os termos “zoopoética” e “zooliteratura” possam também constituir novas vertentes conceituais.