A Arca de Noé das plantas

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A história da Arca de Noé é conhecida por todos. Noé leva um casal de cada espécie de animal para sua arca antes que o dilúvio atingisse a Terra, evitando que estes animais se extinguissem. A passagem não fala sobre as plantas, mas sabemos que a extinção de espécies vegetais também impactaria enormemente a humanidade.

Imagine o que ocorreria com sua vida se o arroz, o feijão ou o algodão sumissem. Hoje vivemos dilúvios, grandes secas e outras catástrofes cotidianamente. O homem vem impactando o meio ambiente de forma jamais vivenciada na natureza e isto tem ocasionado grandes transformações. Por causa de tamanha destruição, cientistas e políticos de todo o mundo estão extremamente preocupados com o futuro da biodiversidade e os impactos que sua perda poderá ocasionar para a nossa vida. Será que poderíamos construir uma arca de Noé para salvar estas espécies que estão ameaçadas?

Uma organização internacional fundou um banco de sementes de plantas cultivadas que funciona de forma bastante semelhante à arca de Noé das plantas. Este banco de sementes contém coleções de sementes de plantas cultivadas de diversas partes do mundo que ficam armazenadas em condições apropriadas para assim, garantir sua perpetuação no caso de desastres e catástrofes. Recentemente, a primeira retirada de sementes de trigo foi realizada pela Síria, um país assolado por uma infame guerra.

O futuro das espécies silvestres também preocupa diversos países. O Brasil é signatário da Convenção da Diversidade Biológica, um tratado internacional que tem mais países signatários do que a própria ONU. Ao assinar este tratado, nosso país se comprometeu a, até 2020, armazenar 75% das espécies da flora ameaçadas de extinção em coleções, como, por exemplo, os bancos de sementes. Nosso grupo de pesquisa do Departamento de Botânica da UFMG fez um estudo para verificar se estamos próximos de atingir a meta. Infelizmente, verificamos que apenas 26 das quase 1500 espécies ameaçadas estão incluídas formalmente em bancos de sementes. Isto corresponde à apenas 1,3% da meta nacional, restando mais de 73% para ser realizado nos próximos 4 anos.

Para nossa surpresa, não detectamos um aumento no número de espécies inseridas em bancos de sementes com o passar dos anos, o que indica uma clara falta de interesse e organização política por parte das instituições brasileiras. Estes resultados sugerem que em casos como o desastre da mina de Mariana, nossa flora está ainda mais vulnerável à extinção. A boa notícia do nosso estudo é que estimamos que um investimento relativamente barato, 10 milhões de reais, pode ser suficiente para armazenar as sementes da flora brasileira ameaçada na nossa Arca de Noé, e assim, garantir o futuro das nossas espécies. Para construirmos a nossa arca, é fundamental que as instituições públicas e privadas se empenhem para trabalhar estrategicamente em conjunto e que ajam com precaução e urgência, afinal não adianta nada construir uma arca após o dilúvio.

* Texto escrito pelo Prof. Fernando Silveira, do PPG-ECMVS.

Leia o artigo original:

Gaps in seed banking are compromising the GSPC’s Target 8 in a megadiverse country.

Teixido et al. 2017, Biodiversity and Conservation: http://dx.doi.org/10.1007/s10531-016-1267-7

Assista dois vídeos de divulgação sobre o projeto:

 

 

Matéria escrita por Fernando A. O. Silveira

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