(Imagem do DNA em destaque: Flickr SBPC. Foto dos pesquisadores da mesa: Raíssa Cesar / UFMG)

“Não é possível olhar para o sistema biológico como um todo usando apenas o genoma”, afirmou o pesquisador Marcelo Andrade de Lima, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ao abrir, na tarde desta terça-feira, 18, os trabalhos da mesa-redonda Biologia pós-genômica. Sem reduzir a importância dos milhares de estudos genômicos desenvolvidos em todo o mundo, o coordenador da atividade destacou a diversidade estrutural e funcional dos seres vivos e reiterou: “A biologia vai muito além do genoma”.

Em suas pesquisas com lipídios, a professora Olga Meiri Chaim, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), observa vários fenômenos biológicos que não podem ser explicados somente por meio de ferramentas genômicas.

Também relataram aspectos de suas pesquisas a professora Ljubica Tasic, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que falou sobre proteômica e metabolômica, e Laércio Pol Fachin, bolsista de pós-doutorado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que abordou conceitos e aplicações da glicômica.

Biomarcadores

Pesquisa desenvolvida pela professora Ljubica Tasic utiliza biomoléculas para comprovar a hipótese de que a composição de metabólitos presentes no soro humano é capaz de indicar a existência de determinados problemas psiquiátricos. A pesquisadora elaborou modelo, construído com base em um conjunto de dados, para comparar biomarcadores de três grupos: controle, bipolares e esquizofrênicos.

Tasic lembrou que, por meio da metabolômica, é possível avaliar o conteúdo de metabólitos, que são moléculas de baixo peso molar. Segundo ela, o soro humano possui cerca de 4,5 mil metabólitos.

Olga Meiri Chaim, que desenvolve extensa pesquisa sobre enzima encontrada em animais peçonhentos, ponderou que, além de gerar dados sobre lipídios, é fundamental interpretá-los e identificar sua função. Ao se debruçar sobre a toxina da aranha marrom (Loxosceles intermedia), identificou o metabólito lipídico ceramida 1-fosfato, objeto de seus estudos no Brasil e no exterior.

A professora da UFPR comentou que a análise de lipídios talvez nunca seja tão simples e direta como estudar ácidos nucleicos e proteínas, mas assegurou que “a lipidômica está fortemente avançando”. E citou pesquisa recente pulicada na base PubMed que faz referência a mais de mil publicações científicas usando o termo. “Nada mal para um campo que não existia há 15 anos”, avaliou.

Segundo Laércio Pol Fachin, glicômica é o estudo sistemático de todos os carboidratos de um dado tipo celular, organismo ou evento biológico. O termo glicobiologia foi utilizado pela primeira vez em 1982, por Raymond Dwek, para definir a área da ciência envolvida no estudo de carboidratos em processos biológicos.

O pesquisador explicou que métodos computacionais (bioinformática) emergem como procedimentos complementares a métodos experimentais clássicos na determinação conformacional de carboidratos. “Áreas da bioinformática (‘bancada seca’) são de grande importância para a interpretação de dados obtidos por meio de metodologias de ‘bancada molhada’”, disse Fachin, que destacou a importância dos carboidratos, uma das moléculas mais abundantes da natureza.

Para mostrar a crescente importância dessa área de investigação, Fachin citou publicação na revista Nature, no início deste mês, com o título Glycobiology: Sweet success.