De um lado, os que pensam; de outro, os que executam. Essa dualidade, que tem raízes históricas, marca a educação profissional do Brasil, na avaliação do sindicalista Marcelo Pereira, coordenador de comunicação do Sindifes, que participou, na manhã de hoje, da mesa Educação e perspectivas da educação profissional, no âmbito da SBPC Educação, realizada em Montes Claros. “Nossa sociedade tem traços escravocratas, e eles influenciam o nosso projeto de educação profissional”, afirmou Pereira.

A mesa também reuniu os professores Geraldo Antônio dos Reis, diretor do Centro de Educação Profissional e Tecnológica (CEPT) da Unimontes, e Rafael Morais, diretor de Educação Profissional da Secretaria de Educação do Estado (SEE). “Aqui persiste a tradição bacharelesca”, assentiu Geraldo Antônio dos Reis. “Não podemos priorizar apenas a educação superior no Brasil”, defendeu.

Segundo Geraldo dos Reis, a educação profissional no país seguiu o rumo da industrialização nas grandes capitais, vista, na segunda metade do século passado, “como o único caminho para o progresso”. Na década de 1960, o investimento na área resultou na criação do Colégio Agrícola Antonio Versiani Athayde, precursor do Instituto de Ciências Agrárias e do Instituto Federal do Norte de Minas. “Houve, de fato, uma expansão significativa do número de escolas e dos municípios atendidos. No entanto, o número de atendimentos representa 10% dos municípios brasileiros”.

Desafios

O modelo de educação profissional é decorrente da Lei de Diretrizes e Bases da Educação e está previsto na meta 10 do Plano Nacional de Educação, instituído em 2014 para estabelecer metas, diretrizes e estratégias para a política educacional brasileira na próxima década.

No entanto, a não garantia de recursos para financiamento do ensino profissional compromete ações de planejamento de longo prazo, como observou Rafael Morais, da Secretaria Estadual de Educação. Segundo ele, a falta de flexibilidade dos programas e do financiamento federal dificulta a elaboração de políticas regionais. “Se Minas são muitas, imagina o Brasil”.

Rafael Morais também citou a falta de capacitação e valorização dos professores de nível técnico como desafio a ser enfrentado pelo governo do Estado para expandir o ensino técnico. Ainda segundo ele, é necessário diminuir a taxa de evasão entre os jovens, que, muitas vezes, precisam contornar dificuldades de trabalho, estudo e transporte, e conscientizá-los de que a formação técnica é tão importante quanto o ensino superior.

“Existe um viés contrário ao ensino profissional”, resumiu Geraldo Antônio dos Reis, que defendeu a ampliação da oferta de vagas no ensino técnico no Brasil – ainda inferior à dos vizinhos latino-americanos – e o ingresso de profissionais capacitados no mercado de trabalho. “Jovem desempregado e jovem fora da escola são duas bombas prestes a explodir”, sentenciou.

Prévia

As atividades da SBPC Educação serão encerradas na tarde de hoje, em Montes Claros. O evento precede a 69ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, que será realizada de 16 a 22 de julho no campus Pampulha.