O Brasil tem 52 milhões de pessoas com mais de 15 anos que não completaram o ensino fundamental e outros 22 milhões com mais de 18 anos que não concluíram o ensino médio. Nas estatísticas educacionais do país, ainda há 14 milhões de pessoas com mais de 15 anos não alfabetizadas e mais 13 milhões de analfabetos funcionais.

Existem 88 milhões de brasileiros e brasileiras que não se alfabetizaram e não chegaram ao ensino médio”, alerta Analise da Silva, da Faculdade de Educação da UFMG. Foto: Zirlene Lemos

Os dados foram apresentados na manhã desta sexta-feira, 7 de julho, pela professora Analise da Silva, da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, em mesa-redonda que integra a SBPC Educação, realizada no campus regional de Montes Claros. “Estou me referindo a 88 milhões de brasileiros e brasileiras, ou seja, 43% da população do país que não se alfabetizou e não chegou ao ensino médio”, alerta Analise.

Nilton Carlos Teixeira, gerente de Atendimento Educacional à Diversidade da Secretaria de Estado de Educação (Seduc) do Amazonas, e Andreia Sol Souza, do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), criado pelo educador Paulo Freire, também participaram da mesa que debate a educação de jovens e adultos. A mediação ficou por conta de Dalton Rocha Pereira, do Instituto de Ciências Agrárias (ICA), que fica no campus regional da UFMG em Montes Claros.

Falta de continuidade

Nilton Carlos Teixeira apresentou a oferta de educação no sistema prisional. “A educação prisional no estado do Amazonas data de 1928, sendo uma das mais antigas escolas dentro do sistema penitenciário do Brasil. Para a Justiça, eles são detentos, mas, para nós, são estudantes. Eles são sujeitos de direito da educação, sendo jovens, adultos e idosos em sua maioria negros”.

 

Para a Justiça, eles são detentos, mas, para nós, são estudantes”, destacou Nilton Carlos Teixeira. Foto: Zirlene Lemos

Teixeira acrescentou ainda que “levando-se em consideração a complexidade dessa educação, temos obtido resultados significativos. Atualmente, temos cinco professores concursados do sistema prisional, há mais de 20 anos,  e mais 24 contratados, com exclusividade por até dois anos. Nos últimos anos, não tivemos um caso sequer de aluno que agrediu professor”, afirma.

Andreia Sol Souza tratou da relação entre a EJA e os movimentos sociais. Ela chamou a atenção para o estigma que marca os não alfabetizados. “Adultos não alfabetizados são sujeitos de conhecimento e saber. Refletir sobre as questões que envolvem o analfabetismo e os sujeitos não alfabetizados, além de dar visibilidade ao problema, pode contribuir para mudanças na sociedade. Somente em Minas Gerais são R$ 7 milhões, sendo a maioria nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, no Norte de Minas”, enfatizou.

Para Andreia Sol Souza, é preciso estar atento para não estigmatizar o jovem e o adulto não alfabetizado. Foto: Zirlene Lemos

Ela também alertou para o fato de não repetirmos os ciclos de constrangimento. Para Andreia, muitas vezes, reproduzimos esse pensamento de constrangimento com relação ao outro: “Ele parou de estudar por falta de esforço, ele parou de estudar porque trabalha; eu mesma trabalhava, fiz minha faculdade à noite, me esforcei; ele não se esforça. Eles não deixaram de estudar para trabalhar como uma opção, devemos deixar de olhar pela carência e buscar dar visibilidade, compreender a trajetória humana antes de compreender a trajetória escolar”, conclamou.

Citando Jamil Cury, Analise da Silva enfatizou que “não dá para pensar a educação de jovens e adultos como projeto, programa ou algo que eu faço se eu quiser, uma ação de governo que pode ou não ter continuidade, não é disso que se trata. A EJA é direito”.