(Estande da SBPC Jovem. Foto: Foca Lisboa)

Reportagem: Natiele Lopes

“Aprender e ensinar são duas faces da mesma moeda”. Assim, a professora Erondina Barbosa da Silva, da PUC de Brasília, deu início à conferência A aprendizagem de matemática e suas áreas correlatas na promoção da integração e da inclusão sociais na manhã desta quarta-feira, 19, durante a 69º Reunião Anual da SBPC.

A professora abordou os resultados de sua tese de doutorado, que buscava observar como espaços de diálogo poderiam desencadear a aprendizagem matemática. Para o estudo, a pesquisadora criou um projeto no qual 14 alunos do sétimo ano do ensino fundamental eram motivados a interagir por meio da resolução de exercícios tradicionais e jogos matemáticos. Com base nisso, foi possível observar que, durante o projeto, os alunos ditos “fracassados” na disciplina passaram a mediar a construção do conhecimento dos colegas.

A professora Erondina Barbosa da Silva, da PUC de Brasília. Foto: Natiele Lopes / UFMG

“A Gisele entrou no projeto Nenhum a menos com notas de 0 a 3, e quando eu falava que algo que fazia estava certo, ela pegava o pincel, ia ao quadro e passava a ensinar. Até a postura corporal dela mudava nesse momento. Ela começou a se interessar, perguntar e participar mais”, contou a docente.

Para pensar sobre a aprendizagem, segundo Erondina, é necessário entender como a matemática se institucionalizou e de que forma ela ganhou prestígio. “Existe uma representação social da matemática: de que ela é difícil, que é somente para gente inteligente, uma área para homens e que mulheres não entendem”, explicou.

Segundo a professora, esses estereótipos foram construídos historicamente e que, no século 17, poucas eram as pessoas que dominavam cálculos simples, como multiplicação e divisão. As consequências disso podem ser vistas por meio dos desenhos que crianças e adolescentes criam com base na pergunta “Qual a cara da matemática pra você?” feita pela docente. “Menos de 10% são desenhos positivos”, ressaltou.

Formação de professores

Erondina chamou a atenção para a formação dos professores de matemática como um dos aspectos que interferem na aprendizagem dos alunos. “O professor carrega com ele uma subjetividade. Os livros que ele leu, as experiências e inclusive os traumas vividos durante sua formação são levados para a prática profissional”, disse.

Segundo a conferencista, na maioria dos casos, estudantes de Licenciatura em Matemática são aqueles que obtiveram sucesso na disciplina durante a vida escolar, mas isso se configura como um problema, pois é preciso que os professores pensem da mesma forma que alguém que não entenda ou goste da área. Erondina Barbosa comentou que a tríade aluno-professor-conteúdo precisa ser expandida, porque o diálogo não acontece só entre esses pontos, mas também com colegas, família e sociedade, e que pessoas de faixas etárias diferentes encaram a matemática de formas distintas, e isso precisa ser levado em conta no processo de aprendizado.