Quarta Revolução Industrial, Indústria 4.0 e Manufatura Avançada são termos que servem para exemplificar a confluência provocada pela alta disponibilidade de tecnologias maduras (digitalização, sensoriamento, inteligência artificial, robótica avançada, big data, entre outras) com baixo custo. Essas tecnologias passaram a permear a sociedade e as corporações, alterando profundamente os modelos de negócio.

A grande conectividade e inteligência presentes nas máquinas, equipamentos e produtos possibilitarão o estabelecimento de fábricas inteligentes que tomam decisões de forma autônoma. Nesse contexto, a preparação dos países para essa nova era tecnológica não é tarefa simples e demanda esforços, que serão debatidos em mesa-redonda na 69ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 18 de julho, a partir das 15h30, no CAD2 (Sala C 315).

Segundo o professor Jefferson de Oliveira Gomes [foto abaixo de Filipe Scotti/Fiesc], do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), diretor do Senai de Santa Catarina e um dos participantes da mesa-redonda Quarta revolução Industrial: como o Brasil está se preparando para a economia do futuro, o país está se planejando para o novo momento.

Economia do compartilhamento sedimenta o conceito de ‘customização em massa’. Foto: Filipe Scotti/Fiesc

“O Brasil vem adotando algumas iniciativas que buscam apoiar a transição para esse novo cenário. Em 2015, lançamos uma força-tarefa de Manufatura Avançada que apresentou, no fim de 2016, um estudo com as perspectivas de especialistas da tríplice-hélice sobre as oportunidades e desafios da Manufatura Avançada para o Brasil. Em maio, o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) instituiu um Grupo de Trabalho para a Indústria 4.0, visando propor uma Estratégia Nacional”, explica.

Na visão do professor Gomes, a preparação do país para lidar com as novas tecnologias deve passar, também, pela educação. “A universidade deve modificar o processo de educação, fundamentalmente na metodologia de ensino, combinando habilidades técnicas específicas de currículos programáticos com ações de desenvolvimento de habilidades socioemocionais”, diz.

Compartilhamento
O professor explica que, desde a primeira revolução industrial, a sociedade utiliza o modelo de trabalho em que as empresas pagam seus colaboradores por suas horas de trabalho com o intuito de produzir algo em troca. No entanto, movimentos centrados no compartilhamento, em que plataformas permitem que pessoas se conectem e façam transações diretamente entre elas estão ganhando força.

“Os exemplos mais conhecidos dos modelos de compartilhamento são da Uber, a empresa com a maior frota de carros no mundo sem possuir nenhum veículo em seu nome, e o Airbnb, no ramo da hotelaria. Isso modifica o modelo com o qual estamos acostumados a trabalhar e emoldura uma nova economia, chamada por alguns especialistas de a economia do compartilhamento”, conta.

A economia do futuro, acrescenta o professor, é aquela em que as indústrias não ditam o que as pessoas devem consumir, uma vez que o indivíduo passa a interferir diretamente no que é produzido, sedimentando o conceito de ‘customização em massa’. “Nesse processo, o nível de eficiência das novas tecnologias faz o custo marginal de produção tender a zero, e isso evoca um novo formato, uma nova concepção do modus operandi que difere radicalmente do modelo atual”, afirma.

Inovação
Jefferson de Oliveira Gomes afirma que a inovação é fundamental para a participação do Brasil no novo mercado mundial da Indústria 4.0. “Não podemos ficar apenas na condição de consumidor das tecnologias, precisamos assumir um papel de produtor e exportador de itens altamente tecnológicos”, diz.

Para reforçar seu argumento, Gomes cita o professor Ricardo Hausmann, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Segundo o professor norte-americano, o caminho para a prosperidade de um país se torna mais fácil quando existe competência para produzir bens. Além disso, a prosperidade do país será diretamente proporcional à complexidade dos bens que produz. “Precisamos fortalecer nosso sistema educacional para potencializar nossa capacidade de inovação. É necessário retomar nossa condição de país competitivo e próspero”, diz.

O professor conclui que o Brasil não está alheio a esse cenário inovador, uma vez que o país desperta interesse mundial e atrai muitas empresas de capital transnacional. “Embora haja defasagem tecnológica em muitas das nossas plantas industriais, a atualização tecnológica não precisa ser linear. Podemos tirar vantagem desse momento e agregar tecnologias 4.0 sem ter que passar primeiro pela geração anterior dessas soluções.”

(Foto no destaque: Foca Lisboa / UFMG)