Reportagem: Luana Macieira

Resíduos como o bagaço da cana-de-açúcar [em foto extraída da Wikimedia Commons] e a fibra do coco podem ser transformados e reaproveitados. Essas alterações, que ocorrem por meio de processos químicos, serão abordadas na conferência Biomassas brasileiras: desenvolvimento de projetos sustentáveis, agendada para 21 de julho, a partir das 10h30, como parte da programação da 69ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Rossimiriam: biomassa responde por 25% da matriz energética brasileira Foto: Foca Lisboa / UFMG

A conferencista e professora do Departamento de Química da UFMG, Rossimiriam Pereira de Freitas, é especialista em pesquisas de transformação de biomassa, termo que caracteriza recursos renováveis e de natureza orgânica. “A celulose e o bagaço da cana são exemplos de biomassa, muito usados no nosso país como fonte de energia. O álcool e o biodiesel são exemplos de como a biomassa exerce papel importante para a nossa economia”, relata a pesquisadora.

A professora explica que pretende, durante a conferência, traçar um panorama de como a biomassa é utilizada no país: “Haverá um público muito heterogêneo na reunião da SBPC. Terei de falar tanto para o estudante do ensino médio quanto para um colega de profissão, mas nossa principal intenção é que os jovens presentes na reunião fiquem interessados por essa área, uma vez que o reaproveitamento de resíduos tem-se mostrado muito importante para nossa economia, mas com um potencial longe de ser completamente explorado.”

Entre os principais resíduos de biomassa que podem ser reaproveitados no país, a pesquisadora menciona a celulose, o bagaço da cana-de-açúcar, a palha de milho, a fibra de coco e a casca de caranguejos, camarões e lagostas. Ela destaca que parte de sua conferência será dedicada à quitosana, presente na carcaça desses crustáceos e resíduo útil para aplicação na área biomédica, sendo muito importada pelo Brasil.

“Aqui, somente a biomassa é responsável por 25% da nossa matriz energética, muito acima da média mundial. No entanto, precisamos considerar o potencial da biomassa que vai além do energético, como o seu uso como matéria-prima industrial para a produção de produtos de química fina. Afinal, por que ainda importamos tanta quitosana e derivados se possuímos potencial para produzi-los?”, questiona.

Frentes
Segundo Rossimiriam, a sustentabilidade proporcionada pelo reaproveitamento químico da biomassa atua em duas vertentes. Primeiramente, tem-se a transformação do material, que deixa de ser descartado no ambiente e se transforma em outro produto. Em segundo lugar, esse novo material pode atuar em outras frentes sustentáveis, colaborando diretamente para a diminuição da poluição ambiental.

“Realizamos algumas pesquisas no Departamento de Química que usam a biomassa para adsorção (processo pelo qual moléculas ou íons são retidos na superfície de sólidos por meio de interações químicas) de contaminantes de água poluída, como metais pesados e corantes. Dessa forma, esse resíduo, além de não ser mais descartado, serve para limpar a água poluída. Ele é algo duplamente sustentável e ecológico”, conta.

A professora acrescenta que esse tipo de pesquisa pode ajudar, por exemplo, na despoluição da água descartada pelas indústrias têxtil e de mineração. “Já desenvolvemos pesquisas em escala piloto, dentro dos laboratórios. Nossa intenção é, no futuro, ter tudo que desenvolvemos sendo utilizado nas plantas industriais, de modo a tornar os processos mais sustentáveis e menos prejudiciais ao ambiente”, conclui.