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UFMG abriga o V Fórum Permanente de Museus Universitários

segunda-feira, 01 de outubro de 2018, às 15:19

Refazer conexões, identificar convergências de demandas e estruturar uma agenda comum que permita fortalecer a comunidade dos museus universitários no Brasil, além de evitar o desmonte da política de museus recém conquistada, sob os escombros do maior museu  universitário, o Museu Nacional. Essa será a tônica debatida  na UFMG entre os dias 9 e 11 de outubro, quando acontece o V Fórum Permanente de Museus Universitários, após um intervalo de 12 anos, quando ocorreu a última edição. O evento é realizado pela Rede de Museus da UFMG . Confira entrevista com a professora Letícia Julião, da Escola de Ciência da Informação e coordenadora do evento.

Saiba mais em https://www.ufmg.br/rededemuseus/forum2018/

Letícia Julião é do curso de Museologia da UFMG – Foto: Foca Lisboa

O que é o Fórum Permanente de Museus Universitários?

Letícia Julião: O Fórum Permanente de Museus Universitários (FPMU) surgiu em 1992, por ocasião do I Encontro Nacional de Museus Universitários, ocorrido na Universidade Federal de Goiás,  com o objetivo de fomentar o debate, a troca de experiências e a busca de soluções comuns para as instituições museológicas universitárias. Seguiram-se mais três edições: em 1997, na Universidade de São Paulo; em 2001, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte e em 2006,  a Universidade Federal de Minas Gerais.

Após um grande intervalo de tempo, o V Fórum retoma a iniciativa, buscando reestruturar as bases de sua organização em rede, reforçar a institucionalização do Fórum e reafirmar a dimensão política de sua atuação, assegurando o reconhecimento dos museus universitários como instituições de produção e popularização do conhecimento, da ciência e da tecnologia.

O encontro pretende rearticular uma rede de pessoas e instituições comprometida com a formulação de uma política para a área no âmbito das universidades brasileiras. Explique.
Letícia Julião: A 5ª edição do Fórum estava sendo organizada em 2015 quando o falecimento de sua presidente, a professora Maria das Graças Ribeiro (Museu de Ciências Morfológicas da UFMG), interrompeu o processo. Os esforços de rearticulação do FPMU se iniciaram durante a I Jornada de Museus Universitários da Rede de Museus da UFMG (2016), com o incentivo da presidente e o secretário do Comitê Internacional para Museus e Coleções Universitárias do Conselho Internacional de Museus (UMAC/ICOM). Seguiram-se outras iniciativas como as reuniões realizadas no 7º Fórum Nacional de Museus (Porto Alegre, maio/jun de 2017) e em São Paulo (ago. 2017).

A retomada da realização do evento e de  sua periodicidade envolve, portanto, um processo de retomada também do trabalho contínuo e em rede que agregava uma comunidade do patrimônio museológico universitário no Brasil. Embora o campo museal tenha avançado muito nos últimos 15 anos no Brasil, com a formulação de uma política pública   amplamente discutida com setores da sociedade, no campo especifico dos museus universitários, foram anos   justamente do intervalo sem a realização dos encontros do Fórum. O desafio nesse momento não poderia ser outro senão refazer conexões, identificar convergências de demandas e estruturar uma agenda comum que permita fortalecer essa comunidade do patrimônio.

Se antes a retomada do Fórum era uma iniciativa importante e legítima, agora nos parece  imprescindível e estratégica, considerando a Medida Provisória nº 850 que promove o desmonte da política de museus recém conquistada no país, sob os escombros do maior museu  universitário, o Museu Nacional. É preciso, portanto, ir além do reconhecimento da importância e das carências dos museus e coleções universitárias. Rearticular o Fórum, a meu ver,  deve significar construir e publicizar uma pauta museológica, acadêmica e política em consonância com as formulações delineadas para o setor ao longo dos 15 últimos anos, assinalando  as especificidades da natureza de nossas instituições universitárias. Ao mesmo tempo, vários cursos de graduação e pós-graduação em Museologia e áreas afins, redes de museus e professores e pesquisadores  já se pronunciaram em defesa do Museu Nacional, da autonomia da Universidade e pela manutenção das conquistas no campo museal e o Fórum deverá se juntar a essa ampla mobilização.

Quais são as expectativas para o Fórum na UFMG?
Letícia Julião: Nesse cenário, é preciso consolidar o papel do Fórum como mediador do trabalho em rede dos museus universitários brasileiros, com o objetivo de promover o debate amplo e a formulação de estratégias para a gestão e atuação dos museus universitários. Como etapa de preparação do evento, foi concebida a produção de diagnósticos regionalizados dos museus universitários brasileiros. O propósito é apresentar informações e análises de aspectos relacionados a gestão, salvaguarda, comunicação de coleções e museus que possam subsidiar a formulação das diretrizes de uma política do patrimônio universitário científico e cultural no Brasil. A expectativa é discutir, sobretudo, nos GTs,  questões relacionadas ao  financiamento,  institucionalização, conservação, documentação, gerenciamento de risco dos acervos do patrimônio científico e cultural das universidades brasileira, assim como  focalizar o papel dos museus na produção de conhecimento, na difusão e popularização da ciência e da cultura, na educação e promoção social.

Deverá ser discutida também a própria reestruturação das bases organizacionais do trabalho em rede do Fórum. Será realizada a eleição de sua coordenação nacional e elaboradas propostas de ações regionais e locais, com o objetivo de estreitar as relações entre os cursos de graduação e pós-graduação em Museologia e áreas afins  e os museus universitários.

Qual o diferencial de um museu universitário, o seu impacto e as dificuldades de existência?
Letícia Julião: Parte significativa, senão a maior, do patrimônio museológico brasileiro está sob o abrigo de museus universitários. Essa dimensão do segmento deveria   impactar  de forma equivalente quando se trata de investimentos e fomento. E aí entram algumas especificidades, dos museus universitários que têm se acentuado ao longo do tempo, em relação aos demais museus.

Coleções e museus universitários comportam extensas atividades que vão muito além das exposições ou da coleção que o visitante observa. Como qualquer atividade acadêmica, desenvolve projetos de pesquisa, ensino e extensão. Muitas coleções resultaram de atividades de pesquisa, são, portanto, objeto de estudos, servem como recurso pedagógico e estão inseridas em exposições ou ações de promoção e divulgação da ciência e cultura.

Diferentemente de outros museus, nos quais observamos uma tendência de declínio da pesquisa e uma redução das funções museológicas à finalidade da exposição e da recepção da massa de visitantes, nos museus universitários as atividades de produção de conhecimento e ensino são muito ativas, desde que as coleções se mantenham como objeto de interesse para pesquisadores. Dessa maneira ao princípio da indissociabilidade da pesquisa, ensino e extensão se somam, nos museus universitários, as funções museológicas da salvaguarda e comunicação do patrimônio científico e cultural. O que a meu ver parece ser importante é promover uma sensibilidade patrimonial nas universidades, sobretudo, de preservação do patrimônio de C&T,  o mais vulnerável, porque ao se tornar obsoleto,  muitas vezes é descartado.

Qual a importância de receber esse evento, depois de um intervalo de 12 anos, e debater o tema do encontro dentro da Rede de Museus da UFMG?
Letícia Julião: Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura da UFMG é formada atualmente por 21 espaços. Ela foi criada em 2000, e pode ser considerada a primeira rede de museus universitários do Brasil e da América Latina. Nos 18 anos de existência, manteve uma atuação contínua e qualificada, sempre buscando potencializar ações em rede de salvaguarda e extroversão de acervos universitários. Nos últimos anos consolidou-se no quadro acadêmico-institucional da UFMG, sendo reconhecida pela comunidade interna e externa.

Não apenas a última presidente do Fórum era membro e fundadora da Rede de Museus da UFMG, a professora Maria das Graças Ribeiro, como a própria Rede teve um papel protagonista nesta instância. Sabemos que temos muito ainda que avançar, mas certo que a experiência acumulada pela UFMG no desenvolvimento  de um trabalho em rede é referência para o país. Nesse sentido parece justo que a rearticulação do Fórum aconteça aqui, onde  surgiu a primeira Rede de Museus Universitários;  onde Maria das Graças estava organizando a 5ª Edição o Fórum; onde poderemos nos juntar aos colegas de todas as regiões do país para criar um Fórum nacional  que seja capaz  de equilibrar  uma pauta comum sem ferir autonomias e diferenças, vindo  a se constituir em uma  instância democrática que pode e deve se aliar aos órgãos gestores da cultura e educação.

Bárbara Gonçalves / Assessoria de Comunicação da Proex/UFMG