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Nº 1316 - Ano 27 - 09.05.2001

 

Face estuda alternativas para

geração de renda no Jequitinhonha

Projeto é baseado em diagnóstico das potencialidades econômicas da região

Virgínia Fonseca

or ser uma fruta que não demanda grandes volumes de água, o abacaxi é a espécie ideal de cultivo para o Vale do Jequitinhonha. Mas algumas falhas no escoamento da produção têm obrigado os agricultores a plantarem abacaxis tipo exportação para consumo local. Como o produto é perecível, quatro dias depois da colheita eles acabam entregando a produção a preços muito baixos à Ceasa, que a revende na própria região.

Dificuldades como essa, que travam o desenvolvimento da região, poderão ser minimizadas a partir da elaboração de um diagnóstico de potencialidades econômicas. O projeto, coordenado pelo professor Roberto do Nascimento Rodrigues, da Face, é ligado ao programa Pólo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha, desenvolvido pela Pró-Reitoria de Extensão.

O diagnóstico viabilizará a formulação de propostas para a geração de emprego e renda na região. No caso dos abacaxis, por exemplo, Nascimento acredita que seja possível aproveitar a experiência em curso na cidade de Turmalina, onde uma associação de produtores adquiriu uma máquina para desidratar frutas, o que permite o controle de estocagem e escoamento do produto. Para o professor, Turmalina poderia sediar, na região, os trabalhos de processamento do abacaxi. "A cidade atenderia a produtores de localidades vizinhas, o que reduziria gastos com transporte e armazenamento da produção", afirma o professor.

Segundo Nascimento, o Vale do Jequitinhonha possui grande potencial econômico em vários campos, mas sua descoberta e utilização ainda carecem de orientação. Ele cita o caso do ecoturismo, que pode, ao lado da tradicional produção artesanal, gerar recursos e tornar a região mais conhecida. "Isso poderia ser feito com a criação de pontos de comércio do artesanato na própria região", exemplifica Roberto do Nascimento.

Outro problema a ser enfrentado é a aplicação adequada para as grandes plantações de eucalipto da região, já que as inovações tecnológicas reduziram seu uso na produção de carvão. Uma solução encontrada é o emprego de parte da madeira na fabricação de móveis. Mas, como o tipo de eucalipto não é próprio para essa atividade, perde-se de 20% a 30% da madeira. O professor Roberto do Nascimento explica que o eucalipto para uso da indústria moveleira exige manejo específico e maior tempo de cultivo. "É preciso, então, definir com antecedência a porcentagem de eucalipto que será usada na fabricação de móveis para direcionar o plantio e evitar desperdícios", defende o professor.

Vocação associativista

Um dos fatores que leva o professor da Face a acreditar no potencial econômico do Vale está ligado a um traço cultural de sua população. "Os moradores da região possuem grande capacidade de se unir em associações, fato raro em outros lugares do país", afirma Roberto do Nascimento. Em sua avaliação, esse aspecto poderá, inclusive, facilitar a obtenção de financiamento junto a órgãos de fomento.

Iniciativa: Projeto de desenvolvimento regional e inserção da população em atividades produtivas no Vale do Jequitinhonha

Equipe: professores Roberto do Nascimento Rodrigues (coordenador), Maria do Carmo Fonseca e Paula de Miranda Ribeiro, (departamento de Demografia da Face) e as assistentes de pesquisa Ana Paula Viegas e Helenice Cruz Santos.

Financiamento: Finep

Apoio: Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar)

 

Discussões envolvem comunidades

A comunidade do Vale do Jequitinhonha terá papel decisivo na identificação dos problemas e das potencialidades econômicas que serão apontadas no Projeto de desenvolvimento regional e inserção da população em atividades produtivas no Vale do Jequitinhonha. Os dados são coletados em entrevistas feitas com pessoas vinculadas a prefeituras, sindicatos e associações.

O diagnóstico ganhará forma a partir do cruzamento dessas informações com as obtidas no censo do IBGE e em outras pesquisas. A expectativa é de que ele aponte alternativas que atendam municípios com problemas comuns. As 21 cidades do Alto Jequitinhonha já foram visitadas. Em julho, deverá ser concluído um relatório com as principais propostas. Elas serão apresentadas e discutidas novamente com a população local para que os programas sejam postos em prática. O projeto está sendo estendido a outros 33 municípios do Médio e Baixo Jequitinhonha. A experiência despertou interesse de autoridades de outras regiões, como os vales do Rio Doce e do Mucuri.