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A crítica da crítica
Livro da Editora UFMG reúne ensaios culturais
Ana Siqueira
o longo da década de 90, a professora Eneida Maria de Souza produziu reflexões e textos sobre questões relacionadas à crítica literária, a partir de sua vinculação à crítica cultural e à literatura comparada. Os textos foram apresentados em seminários e congressos e publicados em revistas, algumas vezes a partir de iniciativa pessoal, outras sob encomenda. A perspectiva política, presente no trabalho da professora, aposentada pela Faculdade de Letras, permeia todas as discussões, que também evocam a transdisciplinariedade e o diálogo com outras tendências teóricas da América Latina, Europa e Estados Unidos. Os textos foram agora reunidos no livro Crítica cult, recentemente lançado pela Editora UFMG.
A obra reúne 13 ensaios, que discutem
conceitos e tendências da crítica, como a biográfica,
histórica e política, além de debruçar-se sobre
reflexões de críticos renomados como Antonio Candido, Silviano
Santiago, Beatriz Sarlo, Roberto Schwarz e Ricardo Piglia. Entre os principais
autores estrangeiros presentes nos ensaios estão Michel Foucault,
Jacques Derrida e Roland Barthes, entre outros.
Os ensaios desenvolvem-se a partir de vários temas. Em Jeitos
do Brasil, por exemplo, Eneida de Souza analisa a obra de Caetano Veloso,
suas interlocuções com a literatura, com a cultura popular
e com outros artistas, particularmente com o cantor João Gilberto
e o cineasta Glauber Rocha. A pesquisadora também discute a inserção
política do artista baiano e o diálogo que estabelece com
a cultura latino-americana. Em outro ensaio, intitulado Nem samba nem
rumba, Eneida de Souza aborda a construção da figura de
Carmem Miranda e sua relação com a cultura de massa e o imaginário
que constitui a identidade nacional.
Segundo a professora Eneida de Souza, a obra fecha um ciclo em seu próprio trabalho, compreendido pelo contexto histórico de grandes acontecimentos ocorridos nas décadas de 80 e 90, e início do século 21, como a Perestroika soviética, a queda do muro de Berlim e os atentados de 11 de setembro. "Eles nos mostraram que temos que reavaliar conceitos que tomávamos como permanentes", explica a professora.
Pioneirismo
Os estudos culturais começaram a ser sistematizados na década
de 50 na Inglaterra, sob a influência do pensamento do teórico
jamaicano Stuart Hall, e hoje são comuns em quase todo o mundo. No
Brasil, a área começou a adquirir contornos de objeto de pesquisa
na década de 70 e a Faculdade de Letras da UFMG foi uma das primeiras
a enfocá-la, o que se intensificou com a criação do
doutorado em Literatura Comparada, em 1985. A pesquisa em crítica
cultural no Brasil levou à elaboração de conceitos
e interpretações apropriadas à realidade local. "Não
podemos nos submeter às idéias trazidas de países hegemônicos
sem considerar as especificidades de nossa cultura", defende a pesquisadora.
Crítica cult situa-se na tendência da crítica cultural de se aproximar da produção de outros lugares do subcontinente. Esse intercâmbio intensificou-se há cerca de dez anos, com o surgimento de projetos conjuntos, com o incremento de número de títulos traduzidos, com a participação de teóricos de países latino-americanos em congressos e outros encontros propícios à troca de idéias e à produção de conhecimento transnacional.
"O diálogo com a crítica latino-americana deve levar em conta o imaginário teórico comum ao continente e o que é distinto em sua essência", diz. A partir desse diálogo e das formulações próprias da realidade nacional, Eneida de Souza preocupa-se em adotar o "ponto de vista das margens".
O livro também carrega a marca da superação
das fronteiras e da hierarquização entre as diferentes disciplinas.
"Não analiso a literatura apenas do ponto de vista intrínseco,
mas também como valor cultural, que não se opõe a outras
disciplinas e é integrada a uma dimensão histórica
e contextual", conclui a professora.
Crítica Cult
Editora UFMG
Autora: Eneida Maria de Souza
Número de páginas: 186
Preço:R$ 21 (R$ 14,70, se comprado nas Livrarias UFMG: Praça
de Serviços, telefone 3499-4642, ou no Conservatório UFMG
entrada pela rua Guajajaras,100 telefone:
3218-9346)