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Nº 1361 - Ano 28 - 08.08.2002

As "formiguinhas" do ecossistema

Equipe do ICB trabalha na catalogação de abelhas,
que exercem papel decisivo no equilíbrio ambiental

Juliano Paiva

ocê ficaria preocupado ao saber que uma espécie de abelha está extinta? É bom ficar. Estes pequenos insetos — que vivem em qualquer lugar que tenha flor, como desertos, florestas, savanas e campos — são mais importantes para o equilíbrio dos ecossistemas do que a maioria das pessoas imagina.

Uma equipe de pesquisadores do departamento de Zoologia do ICB trabalha arduamente para tornar reconhecida a relevância ecológica das abelhas. "Queremos que elas entrem para o grupo carismático dos animais", avisa o professor Fernando da Silveira, referindo-se às espécies que, ameaçadas de extinção, sensibilizam pessoas em torno de sua preservação. "Uma espécie de onça prestes a desaparecer mobiliza muita gente. O mesmo não ocorre quando a ameaça paira sobre abelhas e minhocas", acrescenta Silveira.

Para reverter esse quadro, a equipe do professor Fernando da Silveira trabalha na catalogação* das espécies existentes em Minas Gerais, tarefa que considera "fundamental para tornar as abelhas conhecidas". Das mil espécies identificadas no estado — entre catalogadas e espécies novas, as não descritas pela literatura científica — três correm risco de extinção: Uruçu Amarela, Pé de Pau e Manduri. No caso da primeira, a equipe do professor Silveira constatou que o número de exemplares vem caindo, enquanto as outras duas estão presumivelmente ameaçadas. Segundo o pesquisador, esse processo ocorre devido à destruição de florestas, o habitat das abelhas, e à exploração predatória do mel. Depois de ter o mel extraído, as colméias são abandonadas, ficando à mercê de formigas e tatus.

Papel no ecossistema

Dentro de um ecossistema, as abelhas executam o que pode ser definido como um trabalho de "formiguinhas". Elas atuam como agentes polinizadores, transportando o pólen de uma planta para outra, o que possibilita a produção de sementes e frutos. Contribuem, portanto, para a alimentação de animais como morcegos, macacos e aves, entre outros. Espécies vegetais também precisam das abelhas para continuarem existindo. Algumas só se reproduzem com a ajuda delas, outras dependem destes insetos para produzirem mais frutos. Nas áreas de cerrado, 80% das plantas dependem, em alguma medida, do trabalho das abelhas para se reproduzirem.

Assim, a extinção de espécies de abelhas também representaria o provável desaparecimento de plantas. Haveria ainda a diminuição da quantidade de alimentos disponíveis para outros animais, o que ameaçaria espécies extremamente dependentes de sementes e frutos. A produção de árvores frutíferas, como a laranjeira e a macieira, que necessitam da polinização, também seria afetada. "A quantidade e qualidade não seriam as mesmas", diz Fernando da Silveira.

O mel, utilizado principalmente como fonte de energia, não é o único produto
gerado pelas abelhas. A indústria farmacêutica faz uso da própolis, um antibiótico natural. Há também o pólen, que serve como fonte de vitaminas, e a geléia real, utilizada como complemento alimentar.

Linha de pesquisa: Sistemática, Ecologia e Conservação de Abelhas Silvestres
Coordenador: Fernando da Silveira
Unidade: Instituto de Ciências Biológicas (ICB)
Departamento: Zoologia
Equipe: professores Fernando da Silveira (coordenador) e Teofánia Vidigal (UFMG), Esther Bastos (Fundação Ezequiel Dias); professores Lúcio Campos, Mara Tavares e Tânia Salomão (Universidade Federal de Viçosa), e nove estudantes, entre bolsistas de iniciação científica e de mestrado.



*CATALOGAÇÃO - Quando se descobre uma nova espécie de animal ou planta, é feita sua descrição e dado um nome científico a ela. Em seguida, a descoberta deve ser publicada numa revista especializada, tornando-se oficialmente reconhecida pela ciência.