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As "formiguinhas" do ecossistema
Equipe do ICB trabalha na catalogação
de abelhas,
que exercem papel decisivo no equilíbrio ambiental
Juliano Paiva
ocê ficaria preocupado ao saber que uma espécie de abelha está extinta? É bom ficar. Estes pequenos insetos que vivem em qualquer lugar que tenha flor, como desertos, florestas, savanas e campos são mais importantes para o equilíbrio dos ecossistemas do que a maioria das pessoas imagina.
Uma equipe de pesquisadores do departamento de Zoologia do ICB trabalha arduamente para tornar reconhecida a relevância ecológica das abelhas. "Queremos que elas entrem para o grupo carismático dos animais", avisa o professor Fernando da Silveira, referindo-se às espécies que, ameaçadas de extinção, sensibilizam pessoas em torno de sua preservação. "Uma espécie de onça prestes a desaparecer mobiliza muita gente. O mesmo não ocorre quando a ameaça paira sobre abelhas e minhocas", acrescenta Silveira.
Para reverter esse quadro, a equipe do professor Fernando da Silveira trabalha na catalogação* das espécies existentes em Minas Gerais, tarefa que considera "fundamental para tornar as abelhas conhecidas". Das mil espécies identificadas no estado entre catalogadas e espécies novas, as não descritas pela literatura científica três correm risco de extinção: Uruçu Amarela, Pé de Pau e Manduri. No caso da primeira, a equipe do professor Silveira constatou que o número de exemplares vem caindo, enquanto as outras duas estão presumivelmente ameaçadas. Segundo o pesquisador, esse processo ocorre devido à destruição de florestas, o habitat das abelhas, e à exploração predatória do mel. Depois de ter o mel extraído, as colméias são abandonadas, ficando à mercê de formigas e tatus.
Papel no ecossistema
Dentro de um ecossistema, as abelhas executam o que pode ser definido como um trabalho de "formiguinhas". Elas atuam como agentes polinizadores, transportando o pólen de uma planta para outra, o que possibilita a produção de sementes e frutos. Contribuem, portanto, para a alimentação de animais como morcegos, macacos e aves, entre outros. Espécies vegetais também precisam das abelhas para continuarem existindo. Algumas só se reproduzem com a ajuda delas, outras dependem destes insetos para produzirem mais frutos. Nas áreas de cerrado, 80% das plantas dependem, em alguma medida, do trabalho das abelhas para se reproduzirem.
Assim, a extinção de espécies de abelhas também representaria o provável desaparecimento de plantas. Haveria ainda a diminuição da quantidade de alimentos disponíveis para outros animais, o que ameaçaria espécies extremamente dependentes de sementes e frutos. A produção de árvores frutíferas, como a laranjeira e a macieira, que necessitam da polinização, também seria afetada. "A quantidade e qualidade não seriam as mesmas", diz Fernando da Silveira.
O mel, utilizado principalmente como fonte de energia, não
é o único produto
gerado pelas abelhas. A indústria farmacêutica faz uso da própolis,
um antibiótico natural. Há também o pólen, que
serve como fonte de vitaminas, e a geléia real, utilizada como complemento
alimentar.
Linha de pesquisa: Sistemática, Ecologia e Conservação
de Abelhas Silvestres
Coordenador: Fernando da Silveira
Unidade: Instituto de Ciências Biológicas (ICB)
Departamento: Zoologia
Equipe: professores Fernando da Silveira (coordenador)
e Teofánia Vidigal (UFMG), Esther Bastos (Fundação Ezequiel
Dias); professores Lúcio Campos, Mara Tavares e Tânia Salomão
(Universidade Federal de Viçosa), e nove estudantes, entre bolsistas
de iniciação científica e de mestrado.
*CATALOGAÇÃO - Quando se descobre uma nova espécie
de animal ou planta, é feita sua descrição e dado um
nome científico a ela. Em seguida, a descoberta deve ser publicada
numa revista especializada, tornando-se oficialmente reconhecida pela ciência.