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Nº 1392 - Ano 29 - 17.04.2003


Documentário ficção

Filme de professora da Fafich foi o único brasileiro a participar da mostra do Festival de Berlim

Pedro Marra

 

m dos mais polêmicos atores do cinema alternativo brasileiro, Rubs morreu tragicamente num acidente automobilístico. Mulherengo e dono de uma trajetória artística que despertou reações de amor e ódio, Rubs teve sua vida retratada num curta-metragem dirigido pela cineasta Patrícia Moran, professora do departamento de Comunicação Social da Fafich. Seu documentário reuniu declarações e depoimentos de pessoas que acompanharam a carreira do ator.

Até aí, a descrição acima poderia ser classificada como sinopse convencional de um documentário não menos convencional, se não fosse um pequeno detalhe: Rubs nunca existiu. E foi este documentário sobre um personagem inexistente que fez do curta Plano-Seqüência o único filme brasileiro selecionado para a mostra oficial da edição 2003 do Festival de Cinema de Berlim, um dos três de maior prestígio na Europa. "A intenção foi explorar os limites entre ficção e documentário. Daí, termos construído um personagem inexistente", explica Patrícia Moran, que, este semestre, retoma suas atividades acadêmicas no departamento de Comunicação, depois de concluir seu doutorado em São Paulo.

O filme também trabalha outros paradoxos da linguagem cinematográfica. Quem oberva apenas o nome do filme - Plano-Seqüência - pode ser induzido a imaginar que ele apresenta apenas uma única seqüência, com os movimentos de câmera encadeando os diversos momentos da ação. Mas Patrícia Moran montou sua película com muitos cortes, seguindo a orientação do cinema atual, que apresenta vários planos curtíssimos. "Encadeamos algumas imagens de curta duração com depoimentos do Rubs, das mulheres de sua vida, de amigos e críticos de cinema. O filme não é um plano-seqüência, mas cada parte possui sentido próprio e pode ser separada", conta Patrícia.

O fictício Rubs é interpretado por Paulo César Pereio - este, sim, um ator de verdade - um dos mais importantes da história do cinema brasileiro. Ele brilhou em filmes de Glauber Rocha e Arnaldo Jabor, e em A dama do lotação, para alguns críticos, o A bela da tarde brasileiro. "Eu e Marcelo Dolabela escrevemos o roteiro pensando no Pereio. Ele encarna o espírito do cinema. Acho que ninguém mais poderia dar vida ao Rubs", elogia Patrícia.

Vitrine

Plano-Seqüência foi rodado em 2002, com recursos do Ministério da Cultura. O filme participou de diversas mostras na-cionais de cinema e integrou a programação do projeto Curta Petrobras às seis. Mas a grande vitrine foi mesmo o Festival de Berlim. "Centenas de filmes foram mandados para seleção, mas somente 20 entraram na mostra oficial", ressalta Patrícia Moran. Ela lembra, ainda, que o Festival recebe cineastas, produtores, atores, além de "olheiros" de outros festivais e de empresas interessadas em veicular os filmes na TV e em circuitos fechados.

 

Tão longe, tão perto

Além da tradicional mostra de filmes, o Festival de Cinema de Berlim promoveu este ano o seminário Talent Campus, que discute o cinema sobre diversas perspectivas. Como teve seu filme selecionado para integrar a mostra, Patrícia Moran poderia ter participado do evento que incluía uma palestra com o cineasta alemão Win Wenders, diretor do clássico Tão longe, tão perto e do elogiado documentário Buena vista social club. "Como estava às voltas com a conclusão da minha tese de doutorado, preferi ver os filmes da mostra", conta a professora.

Para substituí-la, a professora do departamento de Comunicação indicou sua assistente, Clarissa Campolina, responsável pela edição de Plano-Seqüência. Segundo Clarissa, o curso dado por Wenders foi bom, embora genérico. "Na palestra, que fazia parte do círculo de filosofia do cinema, Win Wenders abordou sua experiência e seu processo de produção de filmes. Acabou sendo mais uma conversa com os participantes", relata Clarissa, ex-aluna do curso de Comunicação Social da UFMG.