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Nº 1392 - Ano 29 - 17.04.2003

"A Universidade é parceira da conquista da cidadania"


x-aluno da UFMG, pela qual foi homenageado há três anos, o ministro-chefe da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, não esconde sua gratidão pela instituição que o acolheu há 27 anos. "Tinha acabado de sair da prisão política. Voltei à universidade quando o movimento estudantil, a luta pela anistia e pela redemocratização do país tomaram conta da Universidade", explica o ministro, um dos mais respeitados militantes dos direitos humanos do país.

Convidado de honra da Semana do Calouro, onde falará sobre o tema Universidade, Cidadania e Responsabilidade Social, Nilmário diz, nesta entrevista ao BOLETIM, esperar que a Universidade difunda "obsessivamente os valores da paz, da solidariedade e do respeito às diferenças".

BOLETIM - Em sua avaliação, como a universidade brasileira pode contribuir para diminuir as desigualdades sociais no país?

Nilmário Miranda - A universidade brasileira tem um papel insubstituível na revolução democrática, pacífica e participativa, iniciada com a eleição de Lula. Várias universidades, através de suas áreas de extensão, já trabalham com projetos similares ao Fome Zero: documentação civil básica, erradicação do analfabetismo, combate à exploração e ao abuso sexual de crianças e adolescentes. A UFMG e outras universidades buscam ampliar a oferta de vagas em cursos noturnos. A Universidade é parceira das políticas sociais e da conquista da cidadania. Para distribuir renda, temos que voltar a crescer, mas com uma preocupação nova: precisamos distribuir renda, poder e saber. Com o ensino, a Universidade prepara quadros para o desenvolvimento; com a pesquisa, ela contribui para a produtividade e para a luta contra o desperdício; com a extensão, dá qualidade às políticas sociais.

E na sua área específica de atuação, os direitos humanos, o que o senhor espera da Universidade? Já existem projetos alinhavados entre a Secretaria Especial de Direitos Humanos e as universidades?

Espero que a Universidade introduza o ensino de direitos humanos em seus currículos; desenvolva cursos de especialização e pós-graduação; difunda obsessivamente os valores da paz, da solidariedade, do respeito às diferenças; construa espaços variados para os Direitos Humanos. Várias universidades mantêm convênios com a Secretaria Especial de Direitos Humanos, para desenvolver projetos como os balcões de direito, que medeiam conflitos, difundem direitos, realizam os procedimentos para a documentação civil básica.

O senhor sempre foi um destacado militante dos direitos humanos e ganhou projeção, respeito e até votos, já que foi eleito deputado federal várias vezes e teve votação expressiva no último pleito para governador. Isso não é um indicador de que a questão dos direitos humanos ganhou relevância social, sendo vista como prioritária para o próprio desenvolvimento da sociedade brasileira?

Quem luta por direitos humanos assume, às vezes, causas momentaneamente impopulares, como o combate à tortura, ao abuso de autoridade e à pena de morte, além de lutar para que não haja imposição de penas e tratamentos cruéis ou degradantes e denunciar o preconceito e a discriminação dos diferentes. Não podemos ter medo de lutar pelas causas inicialmente incompreendidas. Hoje, felizmente, quem se dedica à proteção dos direitos e garantia dos pobres, excluídos e esquecidos tem sido bafejado por votações expressivas. Isto demonstra que o país quer mudança. O projeto de nação do Brasil requer um mundo de paz, uma nova ordem, mais democrática e distributiva.

Na palestra da Semana do Calouro, o senhor vai falar para uma platéia predominantemente jovem, formada por gente disposta a construir um futuro melhor. Que mensagem o senhor deixaria para essas pessoas?

Os jovens e as crianças impulsionaram a luta pela paz e pela tolerância. Há, entre eles, uma onda gostosa e crescente de participação cidadã no país . Os jovens gostam da claridade, da transparência. Empurrado por seu povo, o Brasil desempenhará um papel cada vez maior no mundo. O Brasil, hoje, é uma esperança radiosa para bilhões de "sem vez" e "sem luz". Os jovens têm um papel fundamental neste processo de mudança.

O senhor é ex-aluno da UFMG e recebeu, há três anos, uma homenagem da Universidade como ex-aluno de destaque da Fafich. Qual a importância da UFMG em sua trajetória profissional?

A Universidade me acolheu em 1976, quando saí da prisão política, bem antes da anistia. Tive a sorte de voltar à UFMG quando o movimento estudantil, a luta pela anistia e pela redemocratização do país tomaram a Universidade. Depois, no Departamento de Ciência Política, tive excelentes professores que me ajudaram a entender que socialismo sem liberdade não é socialismo.