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Nº 1433 - Ano 30 - 08.4.2004


O doce músico Mário de Andrade

Livro da Editora UFMG resgata importância da música na obra do escritor

Maurício Guilherme Silva Jr.

os diversos hotéis por onde passou, o escritor Mário de Andrade costumava ficar em dúvida em relação a um item das fichas de identificação pessoal. No espaço reservado à atividade profissional dos hóspedes, o autor confessou que nunca sabia exatamente o que preencher. "Pianista? Professor? Jornalista? Crítico de arte? Folclorista? Ou mais recentemente: Funcionário Público?", perguntava-se, hesitante. Curioso lembrar que, na enumeração de ofícios feita na mente do próprio artista, o "pianista" sempre apareceu em primeiro lugar. Essa "manobra" do inconsciente é reveladora, na verdade, do lugar de destaque que a música sempre ocupou em sua vida.

Obra recentemente lançada pela Editora UFMG investigou a influência do conhecimento musical de Mário de Andrade sobre sua trajetória artística e pessoal. Músico, doce músico, livro do professor e pianista Paulo Sérgio Malheiros dos Santos, analisa a literatura e a crítica especializada do escritor para nelas encontrar a veia do professor de piano e também do historiador da música. Durante toda a vida, Mário exerceu as duas funções no Conservatório Dramático de São Paulo, onde ingressou em 1922.

"Música e literatura misturam-se na obra de Mário de Andrade", ressalta Malheiros. O próprio título do livro é uma alusão a Música, doce música, uma das muitas coletâneas de ensaios musicais publicadas pelo escritor. Fruto da dissertação de mestrado de Paulo Sérgio Malheiros, defendida em 1998, no departamento de Letras da PUC de Minas Gerais, o livro representa, ainda, a tentativa de revelar uma faceta até então pouco conhecida de Mário. "Percebia que as pessoas tinham bastante informação sobre o escritor, mas não sabiam muito a respeito do músico", explica.

Trauma de infância

Nascido numa família de cinco filhos, Mário de Andrade começou a estudar piano por volta dos 13 anos. "Até então, era um aluno fraco na escola. Quando começou os estudos de teoria musical, interessou-se por tudo, inclusive pelas outras artes. A música abriu-lhe os horizontes", conta Paulo Sérgio Malheiros. Na opinião do professor, Mário, inclusive, teria sido um bom concertista, não fosse uma tragédia familiar. Seu irmão caçula, que já aos 9 anos dedicava-se ao mesmo instrumento, morre precocemente. Traumatizado pelo ocorrido, o escritor, ao apresentar-se em público, jamais livrou-se de certo tremor nas mãos. "Mário desiste de se tornar pianista profissional e passa a dedicar-se inteiramente à literatura", completa.

Para se ter idéia da importância da música na trajetória de Mário de Andrade, basta lembrar que, dos 20 volumes que compõem sua obra completa, nove tratam especificamente de música. "Nos escritos do artista, conseguimos acompanhar suas idéias sobre arte e vida", diz Malheiros. Nos romances, por exemplo, há sempre referências musicais. Que o diga a personagem alemã Fräulein, de Amar, verbo intransitivo, profunda conhecedora das técnicas pianísticas. Na poesia, a mesma coisa. "A música serve de fio condutor a quem deseja compreender a evolução do pensamento estético de Mário de Andrade", avalia Paulo Malheiros.

Foto: Mário de Andrade: horizontes intelectuais abertos pela música

Livro: Músico, doce músico
Autor: Paulo Sérgio Malheiros dos Santos
Editora UFMG
Preço: R$ 30
Locais de venda: lojas da Editora UFMG, na Praça de Serviços (Av. Antônio Carlos, 6.627 _ Pampulha) e no Conservatório UFMG (Av. Afonso Pena, 1.534 - Centro)