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Nº 1433 - Ano 30- 08.4.2004

 

Trabalho feminino é mais estável que o masculino, revela pesquisa do Cedeplar


Mulheres continuam ganhando menos, mas volatilidade dos postos que ocupam também é menor

Patrícia Azevedo

s salários mais altos pertencem aos homens, a maioria dos cargos

de chefia, também.Por mais que as mulheres ganhem espaço no mercado de trabalho, em muitos aspectos os homens estão em vantagem. Porém, quando o assunto é estabilidade, a situação se inverte: os postos de trabalhos "femininos" são mais estáveis que os "masculinos".

É o que conclui o pesquisador Hailton Madureira de Almeida, em sua dissertação Criação e destruição de postos de trabalho no setor formal brasileiro: uma abordagem por gênero, desenvolvida no Cedeplar/UFMG. Concluído em fevereiro, o trabalho examinou o comportamento dos postos de trabalho criados e destruídos na economia formal brasileira, entre os anos de 1985 e 2001. A partir de dados fornecidos pelas empresas ao Ministério do Trabalho e por meio de variáveis como espaço geográfico, setor de atividade e tamanho da empresa, Hailton Madureira calculou taxas de criação e destruição de postos de trabalho e admissão e demissão de trabalhadores.

Resultado: para todos os portes de empresa e espaço geográfico, as mulheres são mais estáveis, com menores taxas de admissão e demissão do que os homens. "Os homens ocupam a maioria dos postos de trabalho criados, mas são os que mais perdem o emprego", afirma Hailton Madureira. Ele explica que a economia costuma gerar mais postos de trabalho "masculinos". Em compensação, essas ocupações são mais vulneráveis às crises e a fatores sazonais que caracterizam profissões ligadas, por exemplo, à construção civil. Já os postos "femininos", embora menos abundantes que os "masculinos", são mais duradouros. "No cômputo geral, a mulher leva vantagem, pois permanece mais tempo em seu emprego. Isso leva a uma crescente participação feminina no mercado formal", explica o pesquisador. Em 2001, 40% dos postos de trabalho formais passaram a ser ocupados por mulheres.

Rotatividade

A estabilidade, no entanto, não pode ser atribuída à produção ou ao desempenho feminino, aspectos não abordados pelo pesquisador. Esse fenômeno deve-se, em grande parte, ao tipo de setor em que as mulheres estão inseridas, o de serviços. Trata-se do segmento mais estável da economia formal em relação à mobilidade de trabalhadores e concentra 67% dos postos de trabalho ocupados por mulheres. Já em setores instáveis como a construção civil, que apresenta as maiores taxas de rotatividade de postos de trabalho (RotPost) e de admissão/demissão de trabalhadores (RotTrab) calculadas pelo pesquisador, as mulheres são minoria.

A estabilidade feminina no mercado de trabalho é corroborada pela análise regional. Segundo o pesquisador, a região Nordeste apresenta as menores taxas RotPost e RotTrab, sendo, portanto, a região que oferece maior estabilidade ao trabalhador. Por outro lado, o estado de São Paulo apresenta as maiores taxas de rotatividade de postos e admissão/ demissão de trabalhadores. Porém, em todas as regiões do país, os postos de trabalho ocupados por pessoas do sexo feminino são mais estáveis.

Na análise que considera o tamanho das empresas, o resultado não surpreende: as grandes empresas oferecem mais estabilidade ao trabalhador. Apesar de serem as principais geradoras de emprego no Brasil, as pequenas empresas apresentam as maiores taxas de admissão e demissão de trabalhadores e de criação e destruição de postos de trabalho. A dissertação aponta que, nas empresas com até quatro pessoas, a taxa de criação e destruição de postos de trabalho é três vezes maior que nas empresas onde trabalham pelo menos 500 pessoas. Já a taxa de rotatividade de postos nas pequenas empresas supera em oito vezes a registrada em grandes empresas.

Dissertação: Criação e destruição de postos de trabalho no setor formal brasileiro: uma abordagem por gênero
Defesa: fevereiro de 2004
Pesquisador: Hailton Madureira de Almeida
Unidade: Cedeplar/Face
Orientadora: Ana Flávia Machado

Fotos de Eber Faioli, Foca Lisboa e Osvaldo Afonso