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Nº 1444 - Ano 30 - 24.6.2004

/ Aniello Avella

Em defesa da pizza com tropeiro

Régis Gonçalves


Aniello Avella: editor de Sérgio Buarque de Hollanda na Itália
Foto: Régis Gonçalves

rofessor de literatura portuguesa e brasileira na universidade romana Tor Vergata, escritor, tradutor e editor, mas principalmente um apaixonado pelo Brasil e grande amigo dos brasileiros, Aniello Avella esteve no país no início deste mês. Veio especialmente para conhecer Minas Gerais e reforçar o contato com seus colegas mineiros, que resulta de convênio de cooperação interinstitucional existente entre UFMG e Tor Vergata.

Seduzido pela cultura brasileira ainda muito jovem, graças a um amigo brasileiro que vivia na Itália, Avella foi aluno do poeta Murilo Mendes, quando este lecionava em Roma, aprofundando seu interesse graças às lições do mestre e às leituras por ele indicadas.

Desse conhecimento, também marcado por forte dose da afetividade peninsular, resultou não apenas uma brilhante carreira acadêmica, mas uma verdadeira militância em favor do estreitamento dos laços culturais entre Brasil e Itália. Entre outros créditos nesse campo, Aniello Avella traduziu Retrato do Brasil, de Paulo Prado, e organizou uma edição italiana de Raízes do Brasil , de Sérgio Buarque de Hollanda.

Nessa sua viagem, "Nello", como é carinhosamente chamado pelos amigos, teve a oportunidade de um contato estreito com a mineiridade. Acompanhado do professor Wander Melo Miranda, visitou Tiradentes e Ouro Preto, onde conheceu os monumentos do barroco colonial e foi iniciado nos mistérios do lombo com tropeiro e da boa "branquinha". No intervalo de um desses almoços, Aniello Avella conversou com a reportagem do BOLETIM.

Como nasceu seu interesse pela cultura e pela literatura brasileiras?

Na minha época, não havia na faculdade ensino de literatura ou língua portuguesa. Havia, na Universidade de Roma, um seminário de estudos conduzido por Murilo Mendes. Comecei a freqüentar as suas aulas e me apaixonei totalmente. Murilo era uma grande figura e foi uma ponte extraordinária entre a cultura brasileira e a italiana. Foi ele quem me indicou algumas fontes importantíssimas. Por exemplo, o Sérgio Buarque de Hollanda, que conhecia apenas como o pai do Chico ( Buarque ), e descobri que não era somente isso ­ era muito mais. Murilo me aconselhou algumas leituras, entre elas Raízes do Brasil . Depois me recomendou outros trabalhos do Sérgio Buarque de Hollanda, como Visão do paraíso , um livro importantíssimo que eu tentei várias vezes traduzir, mas é uma obra muito grande e erudita. Foi uma paixão que começou em 1971 e continua pela vida afora.

Como se estabeleceram as relações entre a sua universidade e a UFMG?

Em primeiro lugar, eu queria recordar as duas visitas que recebemos da reitora Ana Lúcia Gazzola. Ela foi à nossa universidade, pela primeira vez, em no vembro do ano passado. Nosso reitor é biólogo, mas é muito aberto para problemáticas da literatura e da sociologia, além de ser um homem de grande abertura política, no bom sentido da palavra. Ele entendeu, mais do que outros reitores das universidades italianas, a importância do Brasil nas relações entre Europa e América e, sobretudo, a importância da UFMG, que ele conhece através de colegas da economia, da biologia, da medicina. Ele ficou muito contente em recebê-la. Começaram aí nossas relações institucionais.

E como essas relações evoluíram desde então?

Depois desse primeiro contato, houve um momento mais solene, mais importante, que aconteceu em março, deste ano. Foi num congresso intitulado Itália, Portugal e Brasil , que discutiu o papel da universidade no contexto da globalização. A professora Ana Lúcia e outros reitores de universidades brasileiras e portuguesas tentaram conosco traçar um quadro em que Portugal e Brasil ficassem lado a lado, porque eu acho, pessoalmente, que não dá para entender a cultura brasileira sem conhecer a de Portugal e vice-versa. Tivemos esse encontro muito importante, em que foi definido um protocolo que prevê o intercâmbio de professores e de alunos, em primeiro lugar no nível de graduação. Agora, vai começar a partir de outubro ­ quando inicia nosso ano letivo ­ o intercâmbio nos níveis de mestrado e doutorado. Eu acho que é uma coisa da maior importância para nós. Nesse sentido, tivemos outro dia uma reunião na Reitoria que definiu a participação de dez alunos da UFMG e de outros tantos alunos italianos, de todas as áreas, já partir já deste ano. Estamos tentando, assim, abarcar num quadro amplo as várias especialidades científicas trabalhadas nas duas universidades.

E para o futuro, o que o senhor espera dessa cooperação?

Falando ainda das relações institucionais, considero importantíssima a visita que o nosso reitor, Alessandro Finazzi-Agró, fará à UFMG, em julho, por ocasião do 2 Congresso Euro-latinoamericano de Universidades. Na ocasião, ele terá reuniões mais específicas com a reitora Ana Lúcia Gazzola. Outra coisa que considero muito importante para as relações entre as nossas instituições foi o convite ­ já aceito ­ feito pela reitora para que eu seja correspondente na Itália da emissora de rádio que a UFMG está implantando.