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Nº 1445 - Ano 30 - 1.7.2004

Fênix no Cerrado

Plantas ameaçadas de extinção voltam à paisagem de um dos mais degradados biomas brasileiros

Ana Rita Araújo


Geraldo Fernandes: reprodução bem-sucedida de espécies do cerrado
Foto: Eber Faioli

romélia, sempre-viva, quaresmeira, orquídea, canela de ema e mais
uma infinidade de espécies vegetais podem voltar à paisagem original do cerrado, um dos ecossistemas mais degradados do país. Pesquisa pioneira da UFMG reproduziu em estufa milhares de mudas de 40 espécies nativas ainda não estudadas e comprovou sua capacidade de uso para replantio.

“Antes, argumentava-se que não havia alternativa às plantas exóticas. Agora não há mais desculpa para ocupar áreas impactadas com eucalipto e capim. Mostramos que as espécies do cerrado podem se propagar com sucesso”, enfatiza o coordenador da pesquisa, professor Geraldo Wilson Fernandes, do departamento de Biologia Geral do ICB.

Segundo ele, ao longo dos anos, espécies exóticas, como o eucalipto e os capins braquiária e meloso, usadas para replantio no cerrado, tornaram-se verdadeiras pragas, alastrando-se sem controle e invadindo veredas, parques e reservas. “É espantoso que nenhum órgão governamental ou agência fiscalizadora tenha agido no sentido de coibir esse processo”, reprova.

Além de não resultarem sequer em benefícios estéticos, essas culturas intrusas reduzem as condições de vida da fauna local, uma vez que podem, por exemplo, retirar muita água do solo, provocando uma redução de 30 a 70% no volume dos rios. Já as plantas nativas geram frutos e flores, e trazem de volta a biodiversidade.

Pesquisa

Auxiliado por seis estudantes de pós-graduação e oito de iniciação científica (graduação), Geraldo Wilson Fernandes coletou e estudou as espécies, pesquisando as melhores formas de reprodução de cada uma delas. “Numa primeira etapa, saímos a campo com o objetivo de detectar espécies potenciais. Depois, nos dedicamos sobretudo àquelas ameaçadas de extinção”, explica.

Os estudos para a reprodução – realizados em estufa no campus Pampulha e em área na Serra do Cipó, a cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte – utilizaram três técnicas: estaquia, método usado em plantas que pegam de galho; germinação de sementes; e cultura de tecido ou clonagem.

Se a estufa no campus Pampulha oferece condições para estudos que envolvem maior tecnologia, na área na Serra do Cipó as plantas germinam em seu ambiente natural, o que facilita a adaptação às condições naturais de clima e temperatura. “Oito meses após o plantio, já tínhamos planta florecendo”, relembra o pesquisador.

Mas o trabalho promete render outros frutos, além do reflorestamento correto de áreas como a própria Serra do Cipó. Um grande número de empresas têm mostrado interesse no cultivo dessas espécies para fins ornamentais e medicinais ou para a produção de própolis e outras resinas. O professor vislumbra, inclusive, a possibilidade de exportação das espécies ornamentais e espera que novas pesquisas derivem do trabalho. Ele aguarda, ainda, nova remessa de recursos da Fapemig para dar continuidade aos estudos.

Vegetações do Brasil:


No centro do mapa, em bege, o cerrado

Pesquisa: Recuperação de áreas degradadas do cerrado com espécies nativas e ameaçadas

Equipe: 14 alunos de iniciação científica e pós-graduação, sob a coordenação do professor Geraldo Wilson Fernandes, do ICB

Financiamento: Fapemig, CNPq e Planta Tecnologia Ambiental