Veterinária desenvolve método
para monitorar digestão de animais

Incubado pela Inova, processo é mais seguro e barato que o disponível no mercado

Murilo Gontijo

nalistas econômicos apontam a produção agropecuária como um dos principais motores da economia brasileira nos últimos tempos. Se depender de pesquisadores da Escola de Veterinária, o campo vai melhorar ainda mais a produtividade. Depois de registrar patente de uma substância chamada Lipe, os professores Eloísa de Oliveira Simões Saliba, Norberto Mário Rodriguez e Dorila Piló Veloso preparam-se para produzi-la na empresa P2S2, que está hospedada na Inova _ Incubadora de Empresas da UFMG.

A empresa já está produzindo uma substância que auxilia no estudo dos processos digestivos de diversos animais, permitindo que pesquisas científicas criem alternativas para alimentá-los. "Dessa maneira, podemos substituir alimentos 'nobres', como milho e soja, por palha, por exemplo, sem prejuízos ao animal", explica a professora Eloísa Saliba, lembrando que a produção economizada com os bichos serviria ao homem. Além disso, ela avalia que a carne também pode ficar mais barata, já que os animais se alimentariam de produtos menos nobres.

Selecionada no último processo de definição de empresas incubadas pela Inova, a P2S2 tem condições, de acordo com a professora, de abastecer todo o mercado mundial e deve, inicialmente, cobrir a demanda mineira. Na seqüência, Brasil e outros países. Eloísa Saliba diz que as primeiras pontes para o comércio nacional e internacional já foram lançadas em dieção à Universidade Federal da Paraíba e a Cuba. Além da Lipe, a empresa vai fabricar substâncias para pesquisas em alimentação e saúde animal e humana. "O regime de produção será de 24 horas por dia", antecipa a professora.

Eloísa Saliba informa que, a partir das pesquisas com a Lipe, foram publicados 14 artigos científicos, o que acabou ajudando na divulgação do produto. "Investigamos como a substância atua em eqüinos, bovinos, coelhos e ovinos. Agora, partimos para as verificações em peixes e cães", conta a professora, ressaltando que as pesquisas com outros grupos de animais devem gerar novos trabalhos (leia abaixo).

Monitor

A Lipe é um medicamento que funciona como monitor de digestibilidade alimentar. Ela custa cerca de 60% menos que a substância mais utilizada atualmente, o óxido de cromo. "A Lipe também é mais segura, pois o óxido de cromo é substância cancerígena", explica Eloísa Saliba. A função do produto é tornar claro o processo digestivo do animal, que, para isso, deve ingerir uma cápsula de Lipe por dia. Depois, fragmentos de fezes são colhidos e analisados, medindo-se os índices de digestão dos alimentos consumidos. A partir daí, é possível avaliar as condições alimentares do animal. "Além de não destruir a amostra, a análise é rápida, levando aproximadamente cinco minutos", diz a professora.

Interessados na Lipe podem entrar em contato pelos e-mails: saliba@vet.ufmg.br e p2s2@inova.ufmg.br

Legenda: Eloísa Saliba: substituição de alimentos
Foto: Eber Faioli

 

Dissertação testa Lipe em aves

Ampliando as pesquisas com a Lipe, o mestrando Carlos Henrique de Figueiredo Vasconcelos defendeu, na Escola de Veterinária da UFMG, no dia 17 de junho, dissertação em que estuda o comportamento da substância em aves. Ele analisou a digestão de 270 pintos de 26 dias, comparando a eficiência da avaliação de digestibilidade por meio da coleta total de fezes, óxido crômico e Lipe.

Depois de dividir as aves em nove grupos, Carlos Henrique ofereceu alimentos diferentes a cada conjunto durante cinco dias. Ele colheu as fezes dos animais e verificou que a substância desenvolvida na UFMG é ótimo indicador de digestibilidade e consumo para todos os alimentos testados. De acordo com o estudo, a Lipe tem performance semelhante à técnica da coleta total de fezes, que é a mais precisa. "Além disso, ela apresentou resultados superiores ao método do óxido crômico em duas análises", relata.

As pesquisas de Carlos Henrique testaram a digestão de alimentos como farinha de penas e víceras, milho, milho extrusado, soja, soja extrusada, glúten de milho e farinha de carne e ossos.

Título : Lignina purificada e modificada _ Lipe, óxido crômico e colheita total de excretas como métodos de determinação da digestibilidade em frangos de corte.

Aluno : Carlos Henrique de Figueiredo Vasconcelos.

Orientador :José Antônio de Figueiredo Veloso