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Nº 1476 - Ano 31 - 17.3.2005


Cruzada contra a leishmaniose

Na esteira do crescimento da doença em Belo Horizonte, pesquisadores da UFMG intensificam estudos para combatê-la

Andréa Hespanha


ão é de hoje que a leishmaniose é caso de saúde pública em Belo Horizonte. Comum nas regiões Norte, Nordeste e Noroeste da capital, a doença avança sobre locais onde antes não ocorria, como confirma um dos últimos casos humanos registrados no bairro Sion, na Zona Sul. Em 1993, BH teve 29 casos de leishmaniose visceral, enquanto em 2004, esse número aumentou para 127, dos quais 22 resultaram em mortes. Causada pelo protozoário Leishmania brasilensis e transmitida pelo mosquito palha, a leishmaniose apresenta-se nas formas cutânea, caracterizada por lesões na pele, e visceral, que atinge principalmente o baço e o fígado.

O quadro endêmico e a gravidade da doença mobilizam pesquisadores de diversas áreas da UFMG, que há muitos anos dedicam-se a pesquisas em busca de novas formas de diagnóstico, produtos terapêuticos e vacinas.

A leishmaniose cutânea ou tegumentar, que só ocorre no homem, é uma doença de fácil diagnóstico, e o tratamento das feridas é feito com o medicamento conhecido como glucantime. A forma visceral da doença, que ocorre no homem e no cão, é mais perigosa, pois atinge os órgãos do doente. Se o diagnóstico for precoce, o tratamento no homem, também com o glucantime, é bastante eficaz.

Os cães devem ser submetidos a exames periódicos; os soropositivos, reservatórios do protozoário, são sacrificados. "Se o mosquito picar o cão positivo, o parasita pode ser transmitido para o homem", explica o professor Élvio Carlos Moreira, do departamento de Medicina Preventiva da Escola de Medicina Veterinária.

Professores da Universidade pesquisam novas formas de diagnóstico para a leishmaniose canina. "O método atual é eficiente, mas queremos desenvolver técnicas mais rápidas, seguras, baratas e eficazes", explica Moreira. Segundo ele, quanto mais prático e rápido o diagnóstico da doença, mais difícil será a vida do parasita. "Se uma mulher quer saber se está grávida, basta comprar um teste de farmácia. Em poucos minutos, o resultado estará nas mãos dela. É assim que gostaríamos que funcionasse o teste de leishmaniose", diz o professor.

Novo diagnóstico

O diagnóstico da doença é feito através de exames histopatológicos _ realizados com tecido da pele do animal _ e sorológicos. Um dos métodos, conhecido como imuno-histoquímico, é muito importante para a comprovação da existência do parasita na pele, mas a técnica utilizada apresenta um custo muito elevado para o padrão brasileiro. O professor Wagner Tafuri, do departamento de Patologia Geral do ICB, desenvolveu método eficaz, de fácil diagnóstico e baixo custo.

No exame imuno-histoquímico convencional, o tecido do animal, isolado em uma lâmina, é colorido por anticorpo específico caso haja presença do Leishmania. Tafuri substituiu esse anticorpo, muito caro, por soro de cães infectados. "O soro, que atua como anticorpo na reação, é extraído de animais doentes cedidos pela Prefeitura, o que torna o processo mais viável economicamente", explica o professor. Testes preliminares indicam que a técnica também é eficaz no diagnóstico da doença no ser humano.

Fruto de quatro anos de pesquisas, o teste, em processo de registro de patente, já é oferecido como prestação de serviços a clínicas veterinárias pelo departamento de Patologia Geral.


Wagner Tafuri: teste com soro extarído de cães infectados

Esperança renovada

Ao mesmo tempo em que se debruçam sobre novos tratamentos para cães infectados pela leishmaniose, pesquisadores da UFMG desenvolvem nova vacina contra a doença na esperança de que ela consiga ser mais eficaz que a existente no mercado. "A vacina atualmente comercializada ainda apresenta problemas, porque a resposta imunológica é semelhante à reação sintomática dos cães soropositivos, o que dificulta o diagnóstico da doença", explica a professora Marilene Michalick.

A equipe, coordenada pelos professores Ana Paula Fernandes, da Faculdade de Farmácia, e Ricardo Tostes Gazzinelli, do ICB, pesquisa, há cinco anos, antígenos recombinantes capazes de induzir a proteção contra a doença. A vacina já está em fases de testes e será comercializada pelo Laboratório Hertape.

Na primeira etapa do projeto, marcada por testes realizados com camundongos, os resultados foram muito positivos. "Os camundongos apresentaram excelente resposta à vacina. Em comparação aos animais não-imunizados e infectados, houve redução expressiva da quantidade de parasitas presentes nos tecidos. Nossa expectativa é de que os cães fiquem imunes e apresentem resultados negativos nos testes de diagnóstico de rotina", explicou Ana Paula Fernandes, em entrevista ao BOLETIM de 28 de outubro passado.