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Três faces da perfomance
Exposições homenageiam resistência maxacali e resgatam
primitivismo humano e religiosidade
rês exposições _ duas no campus Pampulha e uma no Conservatório UFMG _ exploram a temática da performance como instrumento de múltiplas expressões artísticas. Organizadas pela Diretoria de Ação Cultural (DAC)*, as mostras integram a programação do V Encontro Internacional de Performance , que termina neste sábado, dia 19, em Belo Horizonte.
"As obras retratam a interação corpo/espaço, corpo/objeto, corpo/divino e a concretização deste jogo em arte. Cada mostra busca elevar esta idéia de performance em sua plenitude, na manifestação da sua evidência múltipla", ressalta o professor Fabrício Fernandino, diretor de Ação Cultural da UFMG.
Maxacali
Fernandino é o curador da mostra Fragmentos de uma nação: o povo Maxacali , aberta no Espaço Expositivo da Reitoria. Exemplo da resistência de uma cultura através de seus objetos, composta de armamentos e utensílios indígenas pertencentes ao acervo do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, a mostra, que segue até 5 de abril, busca recuperar fragmentos da memória de um povo fadado ao desaparecimento. Nela, pode-se observar a força da tribo Maxacali, que perfaz, a partir de sua história, o percurso da própria nação indígena brasileira.
Além dos objetos, a exposição conta com obras de Frans Krajcberg, artista plástico que revela a violência humana na natureza devastada. Em seu trabalho, nas palavras de Fabrício Fernandino, reside a denúncia de um "Narciso molestado, do homem que se vê perdido na agressão de si mesmo, pelos despojos do seu ambiente".
Megalíticos
A essência da Terra representada por rochas, que em seu estado quase puro transmitem a idéia de força, energia estática e solene. Assim pode ser definida a instalação Megalítico , homenagem poética de Fabrício Fernandino ao Planeta. A abertura da exposição, na noite de 11 de março, foi marcada por um ritual de boas-vindas dos Caiapós.
O nome da exposição, Megalíticos , alude ao que há de mais ancestral no homem, o seu estado primitivo. A fusão entre pedra e poesia procura, segundo Fabrício Fernandino, "estabelecer a conquista do harmônico, sua ascensão à fronteira entre o espaço e o corpo, entre a Terra e o humano".
Instalação megalíticos: fusão entre pedra e poesia
Foto:
Eber Faioli
Religiosidade
A terceira mostra organizada pela UFMG a integrar o V Encontro Internacional de Performance é Matrizes ritualísticas brasileiras , em exposição no Conservatório UFMG. Também com curadoria de Fabrício Fernandino, a mostra parte das origens religiosas ameríndia, africana e cristã para revelar como se dá o religare , ligação que o homem refaz com seus deuses mediada por imagens e objetos ritualísticos.
A "história" tem início nos primeiros habitantes, revividos segundo a crença indígena. Através dos objetos ritualísticos das tribos, torna-se visível a interação homem-natureza, esculpida a partir do estado puro _ madeira, barro, pena, semente _ em busca do estágio da sublimação.
O diálogo com o Cristianismo, representado pelos estandartes de Marcelo Brant, ressalta a gradação entre a elite branca e as classes populares, entre a tradição e a contemporaneidade. Numa fusão de elementos _ de santinhos a objetos descartáveis _ o artista recupera a própria multiplicidade da fé brasileira.
Por fim, o resgate da raiz africana, através da recuperação das representações de fé dos povos Banto, Nagô e Iorubá. Na mostra, destaque para a explosão cromática dos elementos e das manifestações das irmandades de Nossa Senhora do Rosário, do Jatobá e do Terreiro Ilê Wopô Olojukan.
Exposições
Fragmentos de uma nação: o povo Maxacali
Local: Espaço Expositivo da Reitoria (campus Pampulha)
Período: até 5 de abril
Matrizes ritualísticas brasileiras
Local: Conservatório UFMG (avenida Afonso Pena, 1.534)
Período: até 15 de abril
Instalação: Megalíticos
Local: Espaço externo da Reitoria (Campus Pampulha)
Período: até 5 de abril
*Organizado pela UFMG e pelo Instituto Hemisférico de Performances Políticas das Américas, o evento reúne cerca de 300 artistas, pesquisadores e ativistas de diversos países das Américas. Entre eles, Jesusa Rodriguez, premiada atriz mexicana, e Susana Baca, intérprete peruana vencedora, em 2002, do Grammy Latino na categoria World Music, além de grupos mineiros como Galpão e Giramundo.
Apesar de a palavra "performance" estar vinculada às artes cênicas, o Instituto Hemisférico explora os sentidos possíveis das práticas performáticas, que envolvem o corpo como agente de expressão e construção. "Em vez de focalizar preferencialmente a cultura escrita, optamos pela abordagem da cultura corporificada. No lugar do discursivo, o performático", explica a professora Leda Martins, coordenadora do evento pela UFMG.