Mais antiga revista de filosofia do país discute temas contemporâneos

Ana Maria Vieira

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or vezes, quando nos movemos no espaço das razões, temos a impressão de que elas já estão lá, de que elas são independentes do nosso melhor julgamento, e o melhor que temos a fazer é aprender a ficar sensíveis a elas (...) ". A reflexão, do filósofo Hilan Bensusan, que instiga tanto eruditos quanto leigos, é apenas uma pequena amostra dos temas presentes no novo número da revista Kriterion , mais antiga publicação acadêmica de filosofia do país.

Editada pelo departamento de Filosofia da Fafich, a publicação surgiu, há 58 anos, para abrir espaço à produção acadêmica. Entretanto, em suas páginas, os editores também dividem com o público o trabalho de pesquisadores e pensadores de diversas partes do mundo sobre questões de natureza filosófica, que vão além do interesse universitário. Em seu número 110, já em circulação, os leitores podem mergulhar em temas como a ética da visibilidade, o pensamento sem estaca zero, o sensível e o inteligível e o conteúdo não-conceitual.

" Kriterion divulga a produção científica e trabalha com temas contemporâneos", explica sua editora, a professora Virgínia Figueiredo, do departamento de Filosofia. A revista, de periodicidade semestral, recebe cerca de 50 artigos por ano, escritos por professores, filósofos e estudantes de pós-graduação de todo o país. "Do ponto de vista da produção, Kriterion não é uma publicação endógena", diz Figueiredo, lembrando que a revista também veicula artigos de colaboradores em língua inglesa, francesa e espanhola.

"Temos padrão internacional", avalia a editora, refletindo que esse status decorre da profissionalização da filosofia no Brasil, a partir da expansão dos cursos de pós-graduação e, conseqüentemente, do aumento da produção de artigos na área. A revista também é distribuída na Europa e nos Estados Unidos e utiliza os regimes de permuta e doação entre departamentos de filosofia para estimular o intercâmbio e o acesso à produção científica.

De acordo com projeto aprovado pelo CNPq em 2004, o acesso ao acervo da publicação deverá ser estendido a um público maior. Atualmente, apenas os resumos dos artigos, publicados a partir de 1996, encontram-se na Internet. O objetivo é digitalizar o conteúdo da revista, mantendo-o disponível na rede. A primeira fase do projeto prevê a destinação de R$ 12 mil para aquisição de equipamentos e pagamento de pessoal para o trabalho de digitalização.

Virgínia Figueiredo: padrão internacional
Foto: Eber Faioli

Pensamento original?

Destinada à publicação da pesquisa acadêmica filosófica e editada em língua portuguesa , Kriterion veicula uma filosofia original brasileira? Antes de responder à questão, Virgínia Figueiredo pondera que pensamento original e produção científica nem sempre são noções coincidentes. "O que caracteriza o pensamento contemporâneo é o comentário sobre os pensadores e a história da filosofia", diz Figueiredo, acrescentando que, exatamente por isso, se o Brasil não produz um pensamento original, talvez outros países também não o façam. Fiel à tradição reflexiva, a professora explica o paradoxo de que, mesmo havendo um pensamento original, não é possível que ele tenha essa reivindicação: "O pensamento original não anuncia essa condição para si mesmo quando inova", argumenta a professora.

Entretanto, ela observa que é possível encontrar grandes pensadores no Brasil _ não necessariamente filósofos _ quando o conceito de filosofia é alargado, indo além de seu conhecimento como disciplina. "Em nossa literatura temos pensadores excepcionais, como Guimarães Rosa", exemplifica Virgínia Figueiredo. Mas ela ressalva que, apesar da originalidade da criação de um escritor no contexto artístico, seu pensamento não atende a exigências da filosofia convencional, que tem "caráter científico e exercício conceitual".

Informações sobre aquisição e envio de artigos pelo e-mail kriterion@fafich.ufmg.br

O primeiro número, lançado há 58 anos, e o último, que está circulando