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Nº 1491 - Ano 31 - 07.07.2005

Ele é abstêmio

Engenharia Mecânica projeta carro para percorrer 380 quilômetros
com um litro de gasolina


Ana Maria Vieira

evagar se vai ao longe parece ser o lema do mais recente projeto automobilístico da UFMG. Conhecido como carro de milhagem*, ele está sendo desenvolvido pelo departamento de Engenharia Mecânica, com o apoio do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA), que, há apenas dois meses, decidiram enfrentar um dos mais importantes desafios tecnológicos da atualidade: como conseguir que um carro percorra grandes distâncias com apenas um litro de gasolina comum?

“A economia de combustíveis fósseis é vital no mundo contemporâneo”, observa o professor Paulo Iscold, coordenador do projeto, ao explicar que foi esse o motivo que levou a equipe da Escola de Engenharia a se envolver na construção do protótipo. O impulso inicial surgiu a partir de convite recebido pela UFMG para participar da II Eco-Maratona, promovida pela Confederação Brasileira de Automobilismo. O objetivo da competição, que será realizada ainda este mês, em Indaiatuba, São Paulo, é premiar o melhor desempenho mecânico para o menor consumo de gasolina.

“Tínhamos apenas dois meses para nos preparar”, relata Iscold. O prazo exíguo, no entanto, não foi obstáculo para o grupo, formado por alunos de graduação e pós-graduação dos cursos de engenharias Mecânica, Elétrica e de Controle e Automação.


Paulo Iscold: economia de combustível e outras frentes de pesquisa
Foto: Eber Faioli



O projeto contou também com a colaboração de pesquisadores do Cetec, junto a outros professores da UFMG, como Ramon Molina e Rogério Pinto Ribeiro, da Engenharia Mecânica, além de Leonardo Torres e Marcos Severo, da Eletrônica. Outra instituição envolvida é a Uemg, por meio do professor Jairo Drumond, coordenador do Sabiá, carro de milhagem premiado por seu design em competição européia.

Na banguela

Testes feitos com o carro já apontam para um bom rendimento mecânico. Segundo Iscold, a equipe obteve a marca de 380 quilômetros por litro de gasolina. O vencedor da edição passada da Eco Maratona alcançou 155km/litro. “Apesar de ser bem menor que o recorde mundial, que chegou a 3.800 km/litro há cerca de um mês, é uma marca bastante difícil de ser alcançada”, diz Iscold.

Para obter tais rendimentos, os carros de milhagem andam a uma velocidade média de 30km/h. “É preciso ligar o motor, acelerar até uma velocidade superior a 30km/h e então desligá-lo”, explica o professor. A partir desse ponto, o carro vai “no embalo”. Quando atinge velocidade abaixo de 30km/h, o motor é novamente ligado. A geografia das pistas de competição contribui com a operação, pois comporta subidas e descidas que permitem manter o motor desligado por mais tempo.

O desempenho do carro é bastante influenciado pela escolha adequada das velocidades. Outros fatores importantes para a performance são a redução máxima dos atritos do carro e a existência de motor eficiente, além de um bom sistema de controle para ligar e desligar o motor.

Abrindo a caixa preta

“Todas essas questões tornam o carro de milhagem um projeto importante para a Universidade, pois estimula pesquisas sobre redução de consumo de combustíveis em várias áreas”, diz o coordenador do projeto.

Iscold explica que essas frentes comportam estudos sobre pneus – que devem ser menos resistentes ao rolamento –, motores – que precisam ser mais eficientes e dotados de controles eletrônicos – e aerodinâmica. “O design precisa favorecer a diminuição do arrasto, a resistência ao ar”, analisa o professor.

Já existem linhas de pesquisas na UFMG que devem ser aplicadas no projeto, a partir de 2006. Uma das mais promissoras envolve tese de doutorado que abre a “caixa preta” da tecnologia de injeção eletrônica, totalmente importada pelo país. O domínio desse know-how é considerado estratégico para a indústria nacional.

Iscold revela, ainda, que o projeto pretende utilizar outras alternativas energéticas que o país não domina, como a célula-combustível. Nela, o hidrogênio é usado para produzir energia mecânica, processo que pode ser qualificado como uma tecnologia limpa. “De rejeito, ele gera apenas água e calor”, conclui o professor.

*Constuído nas oficinas do Centro de Estudos Aeronáuticos (CEA), o carro da UFMG usa motor de 1HP da Honda, rodas de bicicleta aro 20 polegadas com modificações para reduzir o atrito de rolamento e possui sistema de transmissão por corrente, sem marcha. Sua estrutura é feita de tubos de aço cromo-molibidênio soldados com processo TIG.

Essa estrutura tem carenagem de fibra de vidro e pesa cerca de três quilogramas. O peso total do carro chega a 35kg, em ordem de marcha, sem o piloto. Possui sistema eletrônico para controle do motor, essencial para economia de combustível.

Carro de milhagem da UFMG
Coordenação: Departamento de Engenharia Mecânica
Custo: R$ 7 mil
Patrocinadores: Auto Japan, VZAN, Fibraer e Megaspace
Colaboração: Cetec-MG e Uemg
Apoio: Escola de Veterinária, Escola de Engenharia, Centro de Estudos
Aeronáuticos e Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento da UFMG