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Nº 1491 - Ano 31 - 07.07.2005


Dissertação do DCC propõe programa para
contar peixes em barragens

Ana Rita Araújo

ontar o número de peixes que conseguem superar os obstáculos físicos representados pelas barragens e subir os rios em busca de ambiente propício à reprodução é tarefa difícil. Mas fundamental para descobrir se as espécies estão sendo preservadas como manda a lei.
Uma ferramenta de informática, desenvolvida no Departamento de Ciência da Computação do ICEx, pode substituir com vantagem o monitoramento
manual de cardumes nas barragens. O trabalho foi elaborado como dissertação de mestrado de Erikson Freitas de Morais e integra as pesquisas do Centro de Transposição de Peixes da UFMG, que reúne pesquisadores de três departamentos (leia matéria abaixo).

Por exigência legal, em Minas Gerais as usinas hidrelétricas construídas em rios onde há peixes que migram à época da reprodução devem instalar mecanismos de transposição, mais conhecidos como escada de peixes. Essas estruturas procuram facilitar o percurso rio acima, de modo a preservar as espécies.

A contagem e a classificação também servem para avaliar a eficácia do mecanismo de transposição. “É preciso otimizar o processo, inclusive para gastar o mínimo possível de água”, comenta Erikson de Morais. Atualmente, equipes de biólogos filmam a subida dos cardumes por determinados períodos e, com base nas imagens, fazem estudos estatísticos.

A partir de imagens em vídeo, gravadas na Usina Hidrelétrica de Igarapava (construída no rio Grande, divisa de Minas com São Paulo), que Erikson de Morais desenvolveu programa de rastreamento, com base em ferramenta usada para rastrear pessoas. “A ferramenta precisa ser adaptada, pois ainda não suporta o processamento em tempo real”, explica o pesquisador, que, no entanto, acredita no êxito da experiência. “Sinalizamos para a possibilidade de aplicar esta técnica em tempo real”, diz.

Dissertação: Rastreamento e contagem de peixes utilizando filtro preditivo
Defesa: em abril, junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação do Icex
Autor: Erikson Freitas de Morais
Orientador: Mário Campos

Subindo escada acima

á cinco anos, um grupo de cientistas das áreas de biologia, engenharia e ciência da computação uniu-se para projetar e implantar passagens que permitissem o deslocamento seguro de peixes ao longo dos rios com barramentos.

Nascia ali o Centro de Transposição de Peixes da UFMG, coordenado pelo professor Alexandre Godinho, do departamento de Biologia do ICB, que desenvolve pesquisa básica e aplicada e presta serviços a empresas, avaliando a necessidade da implantação de mecanismos de transposição. “A primeira avaliação que se faz necessária numa área onde será construída a usina diz respeito ao comportamento migratório dos peixes. Seu objetivo é detectar se a hidrelétrica vai interferir nesse processo”, explica Alexandre Godinho.

Segundo ele, há, em Minas Gerais, cerca de 40 grandes barragens. Em quase todas, estão sendo construídos mecanismos de transposição para atender à legislação esta-dual, em vigor desde 1997. “A construção das chamadas escadas de peixe é muito cara, por isso é fundamental que haja estudos para a definição do tipo de passagem mais adequado a cada empreendimento, a melhor localização da entrada e o cálculo dos quantitativos e das estimativas de custos”, argumenta o professor.

Para monitorar os mecanismos já construídos, o Centro realiza estudos biológicos das espécies locais; identifica populações de peixes a partir da análise do DNA; avalia a migração e o comportamento de peixes com uso de biotelemetria e estuda a biologia reprodutiva de peixes.

Entre as pesquisas em andamento estão estudos de sistemas para impedir a entrada de peixes em turbinas hidráulicas; determinação da perda de carga provocada pela infestação de mexilhões-dourados em grandes tubulações; controle e remoção destes parasitas; concepção de veículo submersível para vistoria e manutenção de estruturas hidráulicas submersas.

Criado com recursos do Fundo Brasileiro de Biodiversidade (Funbio), o Centro de Transposição de Peixes tem como principal característica a natureza interdisciplinar de suas atividades. Já no início de suas atividades, em 2000, o Centro reunia biólogos e engenheiros. Posteriormente, incorporou grupo de pesquisa do departamento de Ciência da Computação do ICEx, que trouxe contribuições fundamentais, sobretudo no rastreamento dos cardumes.