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Nº 1491 - Ano 31 - 07.07.2005


O lego que não é brinquedo

Flexibilidade e custo reduzido são vantagens de tijolo desenvolvido como
dissertação na Escola de Engenharia

Ludmila Rodrigues

ua forma é mais parecida com uma peça de brinquedo lego. Em sua composição* há algo além de uma simples mistura de areia e cimento. É o tijomad, tijolo constituído por areia, cimento e serragem de eucalipto e que apresenta encaixes em seu formato. Custo reduzido e ductilidade (flexibilidade) estão entre as principais vantagens que o tijolo deve levar para a construção civil.

“O tijomad é uma combinação entre as qualidades encontradas em vários tipos de tijolos já existentes”, ressalta a engenheira civil Sandra Regina da Silva, que desenvolveu a dissertação Tijolos de solo-cimento reforçados com serragem de madeira, apresentada no princípio de junho, junto ao curso de pós-graduação em Estruturas da Escola de Engenharia.

Para desenvolver o tijomad, a pesquisadora estudou diversos tipos de tijolos e reuniu, em uma só técnica, algumas características dos materiais encontrados no mercado. Sua principal referência é o tijolito, fruto de pesquisa da PUC Minas em parceria com a construtora Andrade Gutierrez. O tijolito é semelhante ao tijomad, porém sem os diferenciais de formato e composição.

A concepção do tijolo começou com a escolha do tipo de solo a ser usado na mistura com o resíduo de madeira. Primeiro, Sandra Regina testou amostras de solos (areia e argila) retiradas do campus Pampulha: uma da área onde hoje se encontra a Faculdade de Farmácia e outra do local onde está sendo construída a Escola de Engenharia. Após avaliação, a engenheira optou pelo solo mais arenoso. “Por ser mais grossa, a areia reagiu melhor à adição do resíduo de madeira”, explica.


Sandra da Silva com o tijomad: mistura de características de outros tijolos disponíveis no mercado
Foto: Eber Faioli


Os tijolos convencionais são fabricados a partir da combinação entre argila e cimento – cerâmicos – ou da mistura areia-cimento, os acinzentados. Segundo a pesquisadora, a adição de fibras e outros materiais orgânicos é uma prática antiga, mas pouco desenvolvida. “Muitas vezes, o acréscimo de matéria orgânica é feito sem critérios”, conta Sandrada Silva, que optou pelo resíduo de eucalipto por ser um recurso renovável muito utilizado ultimamente.

De acordo com ela, quanto maior a presença de fibras e materiais orgânicos, maior a ductilidade do tijolo, mas dependendo do percentual, que não pode passar de 3%, o tijolo perde resistência. Em seus experimentos, ela constatou que a adição de 0,5% de serragem fez com que o tijolo apresentasse um comportamento peculiar. “As fissuras e trincas, que eventualmente podem aparecer em qualquer tijolo, são mais bem distribuídas”, explica a pesquisadora, que completa: “É como se o tijolo avisasse quando vai romper”.

Encaixe

Outra característica do tijomad é a sua forma diferenciada: as saliências e os encaixes macho-fêmea lembram uma peça do brinquedo lego. “Os tijolos são montados, não precisam ser ´colados´ com argamassa”, conta Sandra Regina, lembrando que a técnica foi desenvolvida na França, há meio século. “É uma tecnologia recente, se levarmos em conta que a prática de fabricação de tijolos data de milênios”, compara.

A utilização do tijomad, na avaliação de Sandra Regina, pode colaborar para a redução de custos de uma obra principalmente por ser uma técnica de fácil aplicação. Segundo a engenheira, diferentemente do que acontece com os tijolos de cerâmica, a queima não faz parte do processo de fabricação do tijomad. Além disso, o solo usado na mistura do tijolo pode ser o do local da construção, desde que sejam feitas as correções necessárias. Isso elimina gastos com transporte do material.

Patente

“Queremos patentear a tecnologia”, anuncia a engenheira. Porém, a aplicação dos tijolos na construção civil dependem de mais estudos. Segundo Sandra Regina da Silva, testes sobre a capacidade térmica e acústica, por exemplo, devem mostrar, sobretudo, a viabilidade do tijomad em edificações. “Por ser uma técnica de baixo custo, prefeituras e cooperativas poderão ser as primeiras a adotar o tijolo”, conta a pesquisadora, que revela já haver alguns contatos para a comercialização do produto.

Por hora, os resultados da pesquisa que resultou no tijomad deverão ser apresentados na Minas Con 2005 – II Evento unificado da cadeia produtiva da indústria da construção – que será realizado de 24 a 28 de agosto, no Expominas. “No estande da Escola de Engenharia, pretendemos construir uma parede para mostrar o funcionamento do tijolo”, conta Sandra da Silva.

* Composição
0,5% serragem de eucalipto
10% de cimento
89,5% de areia
Dimensões
28x14 cm
7 cm altura

Dissertação: Tijolos de solo-cimento reforçados com serragem de madeira
Autora: Sandra Regina da Silva
Programa: Pós-Graduação em Estruturas da Escola de Engenharia
Orientador: professor Edgar Mantilla Carrasco
Defesa: 1º de junho